Theo

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(Capítulo muito pequeno, mas devo postar mais um ainda hoje)

Era a décima vez em que Theodoro tirava e tornava a colocar as mãos nos bolsos da calça jeans num intervalo de cinco minutos.

Estava excepcionalmente impaciente naquele dia e esperar Gustavo voltar do bosque com uma garota qualquer era, no mínimo, irritante. Eles estavam perdendo tempo. Foram liberados da aula porque precisavam discutir sobre o time e Gustavo simplesmente decidiu que enfiar a língua na boca de alguém valia mais que pensar sobre a escalação dos titulares do ano seguinte. 

E isso o lembrava que em alguns meses se formaria e iria para a faculdade e, depois, seria um adulto. 

— Ele só pode estar brincando — resmungou. 

— Anda por aí falando sozinho? — o arrepio que a voz lhe causou subiu da base da sua espinha até a nuca, fazendo-o girar para enxergar Artemísia ali, parada no corredor. 

— Oi — Theo curvou os lábios num sorriso. Exigia algum esforço evitá-la e ele sabia que precisavam de uma relação amigável se iriam trabalhar no Clube do Livro. 

— Bem que eu estava te procurando — Arte ignorou o cumprimento. — Preciso conversar com você.

— Sobre o Clube? 

— Não. Sobre as fotos. 

Theo suspirou. Não estava disposto a continuar num cabo de guerra com ela. Em certas circunstâncias era preciso que escolhesse um lado e tinha escolhido o de Paula. Infelizmente Artemísia não era do mesmo lado. 

— Não temos o que conversar sobre isso. 

— Bom, nós temos, sim. Eu não estou nem aí se decidiu ser um idiota comigo, mas não vou andar por aí como a culpada por ter espalhado o segredo de Paula, porque eu não sou. Então, sinto muito, mas vamos conversar.

Theodoro encolheu os ombros ao ouvir o tom autoritário de Artemísia. Ela tinha acabado de mandar nele. Sentia-se como uma criança desobediente, balançando a cabeça ao ouvir uma ordem. Talvez devesse focar na parte em que ela não tinha o direito de ser autoritária, mas não conseguia evitar apreciar a presença de Artemísia novamente. 

— Quando Paula contou que eu estava lá, onde ela disse que eu estava? 

— O quê? — era uma pergunta muito ruim. De que importava onde Artemísia estava? Ela tinha visto tudo. 

— Bom, onde ela disse que eu estava? Se ela te contou tudo, disse que entrou no quarto e eu estava lá dentro. 

— Atrás da porta — Theo concordou. 

Era uma sensação esquisita conversar sobre aquilo com Artemísia e vê-la realmente falando sobre estar dentro do quarto quando Paula e Victoria estavam se beijando. No entanto, aquilo não soava como a confissão de um crime. Era como se Arte estivesse prestes a provar algo muito importante. 

— Sim, atrás da porta — Arte assentiu. — Agora, Theodoro, pode me dizer de onde a foto que espalharam pela escola foi tirada? 

Um segundo. 

Theo franziu o cenho, tentando entender o que ela queria dizer. 

Dois segundos.

Pescou em sua memória a foto que esteve pelos murais da escola, tentando encaixar alguma daquelas informações com a imagem. 

E, finalmente, três segundos depois, Theo entendeu o que Arte queria dizer. 

A foto tinha sido tirado de fora do quarto de Gustavo. Do corredor.

Quando Paula contou o que tinha acontecido, disse que Arte esteve lá o tempo todo, escondida atrás de porta, e que só perceberam que estava lá quando a porta bateu, revelando Artemísia de olhos arregalados, observando tudo no escuro. Theo se sentiu enjoado, pensando em Arte espiando as duas, fotografando aquilo e depois espalhando pela escola.

Mas era diferente. Se Arte estava atrás da porta, ela não podia tirar a foto do corredor. Antes, ele só conseguia pensar no quão fria ela tinha que ser para ir até a escola com ele e dar um jeito de imprimir as fotos na biblioteca depois que seguiram para a aula e espalhá-las por aí. No entanto, ela não era culpada daquele crime. 

Artemísia só estava no lugar errado, na hora errada, e provavelmente foi um bode expiatório perfeito, mas por acidente. 

E Theo a tinha culpado, irracional demais para refletir por apenas um segundo. Esteve ocupado com lamentações: por Paula estar numa situação como aquelas, por ter confiado em Arte. Se tivesse simplesmente pensado, não teria sido um idiota, e então Artemísia não o estaria encarando, com uma expressão em parte vitoriosa, em parte melancólica. 

— Bom, Theodoro — afastou-se um passo. — Se eu fosse a culpada, seria até mais fácil. Você ia poder andar por aí se sentindo traído e violado, enquanto eu seria uma escrota sem coração. O problema é que eu não sou e isso muda as coisas, não muda? Eu fui traída e violada, nesse caso, porque dormi com você, eu acreditei nas coisas legais que me disse, e você nem mesmo me deu o benefício da dúvida. 

Arte virou-se de costas, andando pelo corredor de onde veio. Alguns passos depois, parou, e Theo puxou o ar para os pulmões, pronto para começar a se desculpar. Pronto para dizer que tinha sido um idiota por não acreditar nela — ou pior, por ir contra a parte de si que sabia que ela estava certa. Mas assim que Arte se virou para ele novamente, Theodoro não teve oportunidade de falar. 

— E, por favor, não culpe o Nico também. Ele me disse que não foi ele quem fez isso e, bem, eu acredito nele. Tenta não sair por aí atirando pedras em qualquer um que Paula acusar. Não funcionou da última vez, funcionou? 

Com isso, ela finalmente foi embora, deixando um Theodoro atordoado para trás.


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