Arte

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Artemísia ignorou quando Theodoro chamou pelo seu nome, na sexta-feira de manhã. Ela estava irritada porque no dia anterior, quando foi da casa de Nicolas até a escola apenas para dizer ao garoto que o amava e, bem, ele a havia ignorado.

Claro que existia a possibilidade de Theo nem sequer ter ouvido — que era a hipótese verdadeira —, mas, se fosse assim, ela também diria que nem ouviu. Continuou seu caminho pelos corredores do prédio principal, mas sua memória provavelmente não estava tão boa, porque ela definitivamente esqueceu de que ele era atlético e rápido, o que o fez alcança-la na metade do caminho para a sala de aula.

— Arte? — Theo puxou seu braço de maneira sutil.

Ela virou-se para ele, como se fosse uma grande surpresa encontra-lo ali. Como se ele não estudasse na mesma escola, ou a encontrasse todos os dias.

— Olá — forçou um sorriso sem sequer mostrar os dentes.

— Eu estava te chamando — ele encolheu os ombros.

— Eu vi você saindo da escola ontem. Não me ouviu chamar? — ela replicou.

Theo desviou os olhos para os sapatos e balançou a cabeça: — Não, desculpa. Ontem eu... estava cansado.

Observando, Artemísia reparou que ele estava cansado. Sua aparência não estava tão gloriosa como nos demais dias, e seus olhos estavam inchados. Ele parecia prestes a cair no chão, o que fazia a consciência de Artemísia pesar. Ele provavelmente não tinha ouvido e ela estava naquela vingança infantil e injusta.

— Também não ouvi você — mentiu, envergonhada.

Theodoro se aproximou e abraçou-a, o que a deixou surpresa. Haviam discutido na última vez que se viram, e então ele estava ali, com aquela aparência derrotada, tocando-a na primeira oportunidade que teve. Arte estava tão arrependida que envolveu a cintura do garoto com os braços, apertando-o o mais forte que podia e sentindo seu coração aquecer e transbordar. Sentia-se estúpida por não perceber que o amava antes. Agora sabia que provavelmente o amava desde a primeira vez que dormiram juntos.

— Precisamos conversar — ele murmurou.

Arte afastou-se dele, mas não por conta de suas palavras, mas por ouvir passos se aproximando no corredor. Quando viraram-se, uma inspetora baixinha havia acabado de alcança-los.

— Artemísia Bismarque e Theodoro Vilela — aquilo devia ter sido uma pergunta, mas a inspetora sabia bem quem eram. — A diretora está chamando vocês na sala dela.

Arte respirou fundo, porque não fazia ideia da razão pela qual aquela mulher queria leva-la até a diretora ou sequer por quê ela havia usado seu segundo sobrenome, Bismarque, e não França. Como se seu nome não fosse complicado o suficiente.

— Nossa aula já vai começar — Arte informou. — Será que...?

— Não — a mulher a interrompeu. — Agora.

Arte olhou de soslaio para Theodoro, a fim de ver se ele tinha ideia do que estava acontecendo, mas ele estava amuado, como um cachorro repreendido.

Caminharam em silêncio pelos corredores. Sabiam bem o caminho até a sala da diretora, mas a inspetora os acompanhou, o que acabou chamando atenção dos alunos que passaram por eles. Aquele clima tenso obviamente não significava boas notícias, e Arte tinha a certeza de que os alunos fariam questão de espalhar isso até a hora do almoço.

Ao chegarem até a sala da diretora, Arte foi atingida por um déjà vu. Sentia-se como no dia em que a diretora tinha dito a ela que seu Clube do Livro estava sendo fechado, o que parecia ter acontecido um milhão de anos atrás, não há dois meses.

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