Arte

118 14 7
                                    

Artemísia não tinha muita experiência com situações difíceis, portanto fugir de Theo como gato e rato tinha se tornado a tarefa mais árdua dos seus últimos dias de rotina escolar.

Theodoro Roriz era como uma praga, estava em todos os lugares, mas ela sabia que era apenas a maneira como enxergava aquela altura, ainda aflita pelos acontecimentos da festa. Mas fugir de Theo, numa escola que parecia mais dele do que de qualquer outro aluno, era praticamente inviável.

Arte sentia que estava sempre perto demais de cruzar com ele, e só escapava dos encontros por muito pouco e se perguntava se teria tanta sorte da próxima vez.

Não que estivesse sendo algo próximo de simples sobreviver naquela escola naqueles dias, porque Artemísia tinha que evitar gente demais. Não tinha a mínima vontade de encontrar com Theo, tinha medo de trombar com Paula e não sabia se sobreviveria a uma conversa com Ana, embora esta última fosse mais que necessária.

Tudo que queria era entender as razões de Ana para ter começado com aquilo, para começo de ideia. Por que ela tiraria fotos de Paula beijando Victoria e as espalharia? Por que ela manteria aquilo como um segredo por tanto tempo, vendo tudo desmoronar ao redor dela?

No entanto, apesar de tudo, aquela era a última sexta-feira de aula. E Arte estaria livre de uma vida escolar em pouquíssimas horas, livre de toda aquela bagunça de fotos e reputações e times de vôlei. Ela poderia se concentrar em seus vestibulares e depois no começo da sua vida; uma vida de verdade, não as idiotices de ensino médio. Não depois de que tudo havia dado errado justamente quando ela pensou em dar uma chance para mais amizades do que... Ana. E aquela tinha dado errado também.

— Precisamos conversar sobre uma coisa importante.

Arte piscou, assustada com a aparição de Nicolas ali. Evitar tanta gente estava fazendo mal a ela.

A garota assentiu e continuou pelo corredor, respirando fundo e tentando memorizar o cheiro da escola. Estava acabando. Uma última aula e então estaria acabado.

— Theodoro me procurou faz, tipo, uns quinze minutos. O que me lembra que eu estou realmente atrasado para o amigo oculto...

— Não quero saber — Arte balançou a cabeça, negando-se a participar daquela situação.

Não, ela não veria Nico insistir para que ela falasse com Theo para "resolver as coisas". Ela não queria resolver nada, oras. Era seu último dia de aula e todo o drama podia morrer com o dia. Não seria ela quem iria atrás de Paula para conversar, não estava disposta a ouvir uma explicação de Ana — tinham se afastado o suficiente nos últimos três meses para que Arte não a conhecesse mais tão bem — e, acima de tudo, Theo parecia só uma coisa que não funcionou. Ele teve todas as oportunidades durante semanas para ficar com ela, mas se ele tinha escolhido ajudar a contribuir para a pilha de dramas e gente mentindo, ela escolheria superá-lo.

— Ele quer mesmo falar com você — Nicolas estava tratando o assunto de maneira séria, o que era surpreendente já que se tratava de uma conversa dele e de Theodoro.

— O que ele quer dizer, Nicolas? — querer não significava que o trabalho de superar Theo estava sendo qualquer coisa perto de fácil, mas ela precisava começar tentando em algum momento. — Ele vai pedir desculpas, então ele vai dizer que fez o que fez para proteger a Paula. E eu entendo, de verdade, mas não é uma conversa que quero ter.

— Mas vocês tinham... alguma coisa. É muito idiota terminar com alguém nunca terminando com essa pessoa. Não pode só sumir.

Arte respirou fundo, cansada de sequer continuar pensando naquilo. Ia contra toda a sua energia de último dia.

UncoolOnde histórias criam vida. Descubra agora