Arte

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Na segunda-feira seguinte, a mente de Artemísia estava livre de qualquer preocupação com a tentativa falha de beijar Theodoro. A conversa da semana anterior havia sido esclarecedora o suficiente, embora não levasse embora a crescente atração de Artemísia — ou a recém-nascida atração que Theo sentia por ela. Os minutos no bosque resultaram em uma boa convivência entre os dois, o suficiente para que Theodoro enviasse uma solicitação de amizade para Arte no Facebook, coisa muito importante no mundo moderno. Importante o bastante para fazer Arte entrar no perfil do garoto durante todo o fim de semana, encarando suas fotos, inclusive as dos jogos anteriores. Importante o suficiente para Arte descobrir que naquela segunda-feira, o jogo decisivo entre os Peppers e os Roses aconteceria.

Arte se perguntava em que momento da vida de Theo os treinamentos aconteciam. Na semana passada, ele passara duas tardes ao seu lado. A semana anterior de um dos maiores jogos do time e Artemísia havia roubado todo o tempo de Theodoro para si. Ela não podia evitar o sentimento de egoísmo, portanto estava decidida a assistir o jogo como retribuição. Era uma prova de que eles poderiam dar certo. 

O convívio, é claro. O convívio entre eles poderia dar certo, nada além. 

Quinze minutos antes do sinal bater indicando o fim das aulas do dia, os professores começaram a liberar os alunos. Os jogos de vôlei eram como um ritual para a escola e todos os torcedores tiravam quinze minutos para se prepararem para o jogo. Quinze minutos em que a escola virava um pandemônio: adolescentes com cartazes para todos os lados, pintando os rostos e trocando de roupa para trajar as cores dos times. Os torcedores dos Peppers usavam o vermelho clássico, enquanto os torcedores dos Roses combinavam amarelo e vermelho. Não era difícil saber qual lado você devia seguir caso não encontrasse sua torcida. As cores guiavam os alunos para o lado certo. 

Normalmente, Arte fugiria para o lado contrário. Se espremeria no meio da multidão e iria em direção ao silêncio, como vinha fazendo desde seu primeiro ano, quando era uma torcedora fervorosa do time do Theo. 

Com quinze anos de idade, Arte fazia listras vermelhas nas bochechas e colocava o batom vermelho mais vibrante que pudesse comprar em todos os jogos dos Peppers. Arte tinha uma blusa do time com seu nome estampado e sempre carregava pompons vermelhos consigo. Sabia todas as músicas de cor e pulava animadamente na torcida, acreditando que não estava muito longe do estereótipo de líder de torcida vendido pelos filmes. 

Só que aquela era a Artemísia de dezessete anos, que apenas estava ali para ser legal com Theo e mostrar qualquer incentivo. Ela conseguia reconhecer que ele estava sendo obrigado a abrir mão de algumas coisas para estar no Clube do Livro, ela não era uma idiota sem coração. Portanto, quando toda a escola foi liberada, Artemísia acompanhou Ana para um dos banheiros femininos. 

Ana ainda era uma torcedora razoável dos Peppers. Elas entraram na escola no ano em que todo mundo torcia para eles porque eram o único time da escola. Ana vivia dizendo por aí que os Roses eram apenas invejosos e que ela jamais torceria para eles. Ana vestia uma camisa vermelha para todos os jogos e fora ela quem adotara os pompons de Artemísia quando ela desistiu de torcer para qualquer time. 

— Você vai assim? — Ana olhou para Arte.

Não era como se estivessem indo a algum lugar, Arte bem lembrava. Elas apenas iriam atravessar os corredores até a quadra de vôlei. E talvez assim fosse um pouco radical uma vez que Artemísia vestia a camisa do uniforme da escola, calças jeans e um par de oxfords. Aliás, a única coisa diferente em Ana era a bendita camisa vermelha. 

— Não estou torcendo de verdade, sabe —  Arte lembrou. — Eu só vou assistir o jogo...

— ... para ser legal com o Theo — Ana completou com um revirar de olhos. — Ele virou seu melhor amigo em uma semana ou o quê? Achei que estivesse enlouquecendo com ele no Clube do Livro. 

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