Doeu-lhe sair do terraço, mas Artemísia era complicada, dos fios de cabelo às unhas dos pés, e ele tinha aprendido que ela dificilmente admitiria um erro, especialmente um como aquele.
E também havia Paula, que chorou de soluçar e foi mais cedo para casa. Ignorou qualquer sugestão de levar o caso à direção porque aquilo envolveria seus pais — especialmente seu pai — e ela não queria lidar com isso. A única certeza que Paula afirmava ter era que Artemísia tinha feito aquilo, espalhado seu maior segredo pela escola. E o que Theo poderia ter dito, que não era verdade, que aquela não era Artemísia?
Não, porque ele mal a conhecia. Não importava quanto tempo tivessem passado juntos, quantos momentos — especialmente o da noite anterior — tivessem compartilhado, se conheciam há duas semanas, e ele não podia botar sua mão no fogo por ela, não quando Paula chorava e dizia que Arte era a culpada. Não quando Paula não tinha contado aquele segredo para ninguém, era uma coisa entre ela e Victoria, e então no segundo em que Arte descobriu, estava por todo o colégio. Não era justo com ninguém, mas Paula era uma de suas melhores amigas e ele não podia ignorar o que ela estava dizendo.
Mas ele não podia mentir, estava doendo. Doeu quando ele deixou Arte sozinha no terraço, doeu quando assistiu o restante das aulas, doeu quando voltou para casa e encontrou a cama ainda desarrumada, os cobertores ainda com o cheiro dela. Doeu quando encontrou a roupa que ela usou na festa dobrada sobre sua cômoda e doeu saber que teria que devolver a ela. Era a primeira vez que uma garota o fazia sentir dor e ele não pôde evitar sentar no chão e pressionar os joelhos contra o peito, com medo de que algo se partisse.
Tendo uma mãe psicóloga, Theodoro estava acostumado com análises sobre seu comportamento e conselhos elaborados. Conseguia se lembrar do sorriso torto que sua mãe lhe dava quando perguntava se ele estava apaixonado por alguém e ele dizia que não era algo que aconteceria tão cedo. E não devia ser. E não devia acabar de uma maneira tão idiota e era exatamente por esses motivos que toda aquela bagunça era um erro desnecessário.
Theodoro precisava ter cumprido com suas intenções e se livrado do Clube do Livro na primeira oportunidade. Não podia ter deixado os pensamentos sobre Arte tomarem conta de sua mente e impedido-lhe de pensar com clareza e então não estaria naquela situação — escolhendo quem defender, no meio do fogo cruzado. Não era de brigas.
No entanto, considerar arruinar qualquer coisa na vida de Arte era um pensamento que lhe dava repulsa. Não podia mais. Não queria mais, não conseguiria. Só queria uma saída simples. Queria a simplicidade da sua vida antes daquela garota, dos jogos de vôlei, das meninas que competiam por sua atenção e que ele podia retribuir sem se sentir traindo alguém. Sem sentir que estava traindo os próprios sentimentos.
— Toc, toc — alguém disse.
Theo levantou os olhos e viu Mariana parada na porta do seu quarto, escorada no batente.
— Como você entrou?
— O porteiro me conhece e você esqueceu de trancar a porta de casa — ela respondeu como se fosse óbvio. — A segurança desses prédios caros já foi melhor.
— É — Theo balançou a cabeça, levantando-se do chão.
Mariana era mais do que sua beleza física, com sua pele negra e seus cachos volumosos. Seu sorriso simpático tinha algo de caloroso que o fazia sentir acolhido.
Theo já tinha beijado tanto Paula quanto Mariana. Não era algo muito importante, para nenhum deles, mas já tinha acontecido diversas vezes e era divertido, no fim das contas. Mas aquilo tinha sido antes e parecia outra vida, especialmente depois de ver Paula com os olhos inchados. Mais cedo, quando Paula contou tudo a eles, Mariana deu um de seus bons conselhos e no fim das contas, fez a pergunta que todos queriam fazer.
— Então você é bissexual? — Mariana disse, acariciando as costas de Paula de maneira suave, tentando fazê-la se acalmar.
Paula simplesmente enterrou o rosto nas mãos e balançou a cabeça, negando. A maneira como negou não dizia outra coisa, não abria outras opções. A maneira como parecia envergonhada era triste, porque não devia estar e todos entendiam. Paula não gostava de garotos. Seu namoro com Nico, as vezes em que beijou Theo ou qualquer outro garoto, nada daquilo tinha sido por atração. Ela queria provar a si mesma que podia tentar, queria se convencer de que jamais precisaria enfrentar seu pai, mas não podia mentir para si por mais tempo.
E ali, olhando para o sorriso gentil de Mariana, Theo tinha a certeza de que todas as vezes em que se tocaram, eram mais amigos do que qualquer outra coisa. Sabia disso porque sua pele nunca se eletrizou com o toque de ninguém como fazia com o de Arte.
— Sabe como a Paula está? — perguntou.
— Não, eu mandei mensagens a ela, mas ela não respondeu. Eu estava indo até a casa dela, mas como não tive nenhuma resposta achei que era melhor não aparecer. E aí eu decidi aproveitar a viagem e ver como você está — ela se ajoelhou na frente dele. — Você foi embora sem falar com a Artemísia.
Theo passou as mãos pelo cabelo. Mariana reparava nas coisas.
— Eu falei com ela mais cedo.
— Theo, você acha que as ninguém percebe, mas todos nós já notamos o que está acontecendo entre você e ela. Ou você achou que ninguém ia reparar que levou ela a festa com você? Ou que carrega a mochila dela todos os dias na escola? Bernardo está começando a ficar irritado porque você não conta pra gente.
— Não há o que contar.
— Ah, não — ela revirou os olhos. — Artemísia apareceu vestida com suas roupas hoje e não há o que contar.
Talvez Mariana reparasse até demais, mas Theo balançou a cabeça, ignorando aquilo.
— De qualquer maneira, acho que acabou hoje. Se ela espalhou mesmo as fotos da Paula, não quero estar perto dela.
— Ela disse que espalhou?
— Não. Ela acha que foi o Nico.
— Bom, ouvi dizer que ela invadiu o vestiário masculino e meteu a porrada nele como a fodona que é. Eu queria ter visto. Ela teve a coragem que eu nunca tive, porque aquele garoto merece uns tapas de vez em quando — estapeou o ar, ilustrando sua fala. — Mas acho que ela não entraria lá e bateria no Nico se não estivesse falando a verdade.
— Bom, Paula disse que Arte foi a única a ver o que aconteceu. Como poderia ter sido outra pessoa?
— Theo, uma delas não precisa estar mentindo para que a outra esteja certa. Paula disse que foi Arte, Arte disse que foi o Nico, Nico disse que não foi ele... Será que vamos começar a punir todas as pessoas que disserem que não são culpadas? Nico levou a surra que merecia, mas acho que Arte merece uma chance, não acha?
— Talvez você tentasse dizer isso a Paula. Ela vai adorar ouvir que temos que confiar na Arte.
— Paula tem ciúmes da Arte. Garotos são todos burros ou o quê? — segurou-o pelos ombros. — Paula odeia a Arte desde que deixaram de ser amigas porque nunca deixou de ter afeto por ela. E a Arte também gosta da Paula. E agora que você gosta da Arte, a Paula está irritada.
— Você usou o verbo gostar mais vezes do que eu posso compreender — Theo riu.
Mariana era boa com conselhos. Era uma das melhores em acalmar o time e mantê-los unidos e firmes, especialmente desde que o Roses surgiram. E ela era boa em fazê-los respirar e tomar decisões.
O problema era que Theo tinha tomado a dele sem consultá-la e talvez não fosse difícil repensar e voltar atrás, mas quando envolvia Arte, as coisas podiam ser surpreendentes.
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Uncool
أدب المراهقينEm seu último ano de ensino médio, Artemísia só estava certa de três coisas: a primeira era que ela não fazia ideia do que faria em seguida. A segunda é que seu Clube do Livro era a única coisa que a mantinha feliz no colégio. E a última coisa era q...