Theodoro deixou que mais uma respiração apressada acelerasse as batidas do seu coração.
Desde que o filme terminara e todos os membros efetivos do Clube do Livro se foram, Nicolas e Artemísia estavam conversando em um canto da biblioteca. Theo não fazia ideia de onde aquela amizade havia surgido, mas tinha a certeza de que não gostava.
Não que estivesse sentindo ciúmes. Mas o trabalho de arrumar a biblioteca novamente estava sendo todo dele, enquanto Artemísia ria de alguma coisa que Nico dizia.
Era desrespeitoso. A existência de Nicolas era desrespeitosa por si, mas a presença dele ali era ainda pior. Como se os dois tivessem um acordo de que o único lugar em que se encontrariam seria a quadra e, então, Nico aparecesse ali para assombrar Theo. E Arte parecia feliz com a presença dele.
Será que ela havia esquecido da maneira como Nico pareceu se divertir enquanto a inferiorizava na frente de todos? Porque Theodoro não havia esquecido. Conseguia lembrar das lágrimas escorrendo no rosto de Arte e da maneira como ela o culpou por toda aquela situação, como se o vilão da história não fosse Nico. O tempo todo Nico.
O som de passos — finalmente — chamou a atenção de Theodoro. O garoto observou Nico se afastar e se dirigir até a porta.
— Você ainda me deve aulas particulares — Nicolas disse antes de deixar a biblioteca, sem sequer esperar pela resposta de Artemísia.
Aulas particulares. Theodoro conseguia listar todas as coisas que Arte poderia ensinar a Nico, mas nada podia fazer a frase parecer menos tendenciosa.
Pela primeira vez, Theo lamentou que os jogos entre os Peppers e os Roses houvessem acabado. Caso contrário, daria um jeito de cometer uma falta dolorosa contra Nico em um dos jogos.
Só que eles jogavam vôlei.
— Aulas particulares — Theo resmungou, involuntariamente imitando o tom de voz de Nico.
Teve certeza de que a audição de Arte era impecável quando viu os olhos da garota presos nele. Havia curiosidade naquelas íris. Parecia que ela estava rindo dele. Como quando uma criança faz algo inesperado e incompreensível e só resta aquele olhar.
— Algum problema?
— Bem, não? — Theo deu de ombros. — Acho que acabei aqui. Posso ir se quiser um tempo...
Com Nicolas, ele quis dizer. Não era proposital, mas estava irritado. Nico era como um mosquito zumbindo em seu ouvido, impedindo-o de dormir.
— Eu acho que não preciso de tempo — Arte sorriu.
— Acho que sim. Planejar aulas particulares leva tempo.
Arte mexeu-se desconfortavelmente em seu lugar, do outro lado da biblioteca, onde esteve conversando com Nico. Ela olhou casualmente para as prateleiras de livros ao seu redor, como se o conteúdo ali fosse mais interessante que aquela conversa.
Theodoro se sentiu pequeno ali, com um projetor guardado em uma bolsa aos seus pés, esperando que ela dissesse que não precisava mais dele para que pudesse ir embora.
— Ei, tem uma coisa no seu rosto — Arte olhou para ele e franziu o cenho.
— O que é?— Theo passou as mãos pelas bochechas, tentando limpar o que estava ali. Era ridículo. Estava tendo uma conversa séria e tinha algo no rosto?
— Ciúme — Arte respondeu, erguendo as sobrancelhas.
Theo queria rir, mas também queria sentar e fazer pirraça porque ela estava fazendo piada com uma situação séria.
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Uncool
Ficção AdolescenteEm seu último ano de ensino médio, Artemísia só estava certa de três coisas: a primeira era que ela não fazia ideia do que faria em seguida. A segunda é que seu Clube do Livro era a única coisa que a mantinha feliz no colégio. E a última coisa era q...