Nico

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Artemísia balançou a cabeça algumas vezes, tentando sacudir a areia que havia voado para os fios do cabelo.

Nicolas estava um pouco irritado porque ela era fofa com as bochechas e os ombros vermelhos pelo sol, enquanto ele tinha certeza de que provavelmente estava uniformemente vermelho e, mais tarde, ficaria cinza. O seu problema era que o mais tarde seria quando fossem para o Colégio Novo Horizonte, onde aconteceria o Interescolar.

— E se ficarmos aqui? — Arte sugeriu.

Ela estava tentando escapar do Interescolar desde que Nicolas decidiu que iriam juntos. Dois dias antes ela até o havia convidado para ir a praia pela segunda vez na mesma semana, e Nicholas aceitou de bom grado, mas riu ao imaginar a cara dela quando leu a mensagem dele. "Podemos ficar na praia pela manhã e ir direto para o Interescolar depois".

— Eu quero ir — Nico disse.

— Estamos sujos de areia — Arte fez uma careta.

— Não achei que ligássemos para nossa aparência num colégio em que não conhecemos ninguém. Eu quero ir para ver os Peppers perderem e saber que, seu fossem os Roses, eu marcaria o ponto da vitória.

Arte revirou os olhos, desistindo de fazer Nicolas mudar de ideia. Ele não entendia a razão pela qual ela estava tentando fugir da situação, como se aquilo fosse um compromisso automático com Theodoro, o qual ela não havia mencionado desde que... Bem, desde a vez em que ela tinha beijado Nicholas para não precisar mais conversar sobre Theodoro.

As coisas estavam meio esquisitas entre eles desde o episódio no corredor. É claro que nem Nicolas nem Artemísia estavam nutrindo sentimentos um pelo outro, mas passavam tanto tempo juntos que era inevitável que o pensamento não cruzasse a mente deles. Vez ou outra, na companhia de Arte, Nico se pegava pensando se aquilo era muito diferente do que ele faria em um relacionamento. Muitas vezes parecia até melhor.

E ali estava ele, encarando os próprios pés sujos de areia e pensando sobre ideias erradas.

— Eu vou dar um mergulho e então vamos — Nico disse, esperando que o mar pudesse lavá-lo daqueles questionamentos.

Arte assentiu, e o garoto partiu em direção ao mar.

...

Artemísia observava o Colégio Novo Horizonte com olhos atentos, enquanto Nicolas achava que não havia muito ali para ver: tinha menos prédios que o colégio deles, e parecia bem menor e sem graça. E era no Humaitá, e Nicolas não gostava de como o nome do bairro soava.

A parte interessante eram os alunos. Ele chegou a ver alguns conhecidos do IEC, mas a maior parte dos rostos era de alunos do CNH e ele conseguia muito bem distinguir entre eles. Os adolescentes do CNH pareciam bem mais... adultos? Ele se sentia uma criança perto dos jovens do outro colégio, mesmo que todos aparentassem ter a mesma idade. Nicolas ficou se perguntando a razão pela qual aquelas pessoas pareciam ter amadurecido mais rápido que seus colegas no outro colégio.

Mas Nicolas não era mais um garoto de colégio, era? Estava esperando o resultado para ir para a faculdade. Estava rezando para ter uma nota alta o suficiente para ir para qualquer curso que quisesse, mesmo que ainda não tivesse certeza do que queria.

— Cansei de bater perna — Arte resmungou ao lado dele. — Podemos ir para a arquibancada?

Nicolas e ela atravessaram o pátio, desviaram do prédio principal e seguiram para a lateral do colégio, onde tinha uma quadra poliesportiva.

— Eu acho que o IEC devia ter sediado o Interescolar — Nicolas reclamou. — Eles usam uma quadra poliesportiva.

Artemísia revirou os olhos. A verdade era que Nicolas não estava reclamando do colégio porque tinha um problema com o colégio. Ele, na verdade, tinha medo que o time do CNH vencesse. E mesmo que não fossem seus Roses jogando, ele queria que ao menos um time de seu colégio ganhasse. O time de Theo.

Os dois ocuparam um lugar na arquibancada da quadra, perto o suficiente para que pudessem ver sem nenhuma cabeça atrapalhando.

Era um daqueles momentos em que não tinham nada para dizer, e então a mente de Nicolas se enchia de pensamentos confusos. O que eles estavam fazendo, afinal? Será que Arte esperava reencontrar Theodoro? Será que eles voltariam?

Será que ela deixaria de voltar com Theo por causa dele?

— Arte — Nicolas chamou.

A garota desviou os olhos da quadra e o encarou, o cenho franzido por causa do tom de voz dele.

— Somos amigos?

— Que pergunta é essa? Claro que somos amigos — Artemísia estava cada vez mais confusa.

— Quero dizer... amigos, certo?

Então Arte entendeu que tipo de pergunta era aquela. Do tipo das excelentes perguntas, porque ela também vinha se perguntando aquilo desde que o beijou no corredor, no último dia de aula.

Ela não achava que gostava dele. Não do jeito que tinha gostado de Theodoro, não do jeito que se deve gostar de um namorado. Mas não podia dizer que era um sentimento impossível, então tudo que pôde fazer foi dar de ombros e voltar a fitar a quadra.

Era exatamente aquela resposta que Nico também tinha para aquela pergunta. Ele estaria bem se fossem só amigos, e estaria bem se decidissem ser mais que aquilo.

Antes que pudesse começar a falar sobre o assunto, os times entraram em quadra.

E lá estava Theo.

Nicolas olhou para Artemísia, tentando decifrar sua expressão facial, mas ela permanecia neutra, como se fosse apenas um jogo de vôlei qualquer.

O apito soou, e Nico voltou sua atenção para a quadra. Depois de alguns minutos de jogo, percebeu que o time adversário era um tanto medíocre se comparado aos Peppers. E que Theo era um jogador melhor do que ele imaginava.

Bem, uma coisa era jogar contra Theodoro, como Nicolas fez por três anos. Aquilo era eles dois dentro de quadra, dando tudo de si apenas para impedir que o outro marcasse um ponto, e não havia muito tempo para pensar sobre como Theo jogava além das observações que fazia para tentar fazer o oposto, e ser melhor. Mas, analisando da arquibancada, Theodoro era um ótimo jogador e um ótimo capitão. Ele não era tão alto quanto o esperado; para falar a verdade, era apenas uns três centímetros mais alto que Artemísia, o que eram muitos centímetros mais baixo que o próprio Nicolas. Mas Theodoro não só era rápido, como pensava rápido. Antes que a bola cruzasse a rede, ele já estava preparado para ela. Era como se seu time apenas dançasse conforme a música dele.

E foi justamente aquela canção que rendeu o ponto da vitória. Sem empates, sem desespero. Um jogo que correu tão tranquilo que, quando acabou, os Peppers se reuniram para um abraço com a mesma classe da rainha da Inglaterra.

Mariana e Paula pularam em cima de Theo, e então os garotos chegaram e se tornou um abraço coletivo quando os reservas também se jogaram contra eles.

Ao lado de Nicolas, Artemísia deu alguns pulos em comemoração, e então virou-se para o garoto ao seu lado.

Nico encarou-a com um sorriso nos lábios, e analisou cada detalhe de Artemísia, enquanto ela fazia o mesmo.

Era aquele momento de comemoração em que você abraça seus familiares e amigos, e beija a pessoa que você ama.

E Artemísia o abraçou. E então ele entendeu.

Nicolas e Arte eram amigos, e tinham uma das melhores amizades que alguém poderia querer.

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