Theo

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Theo encarava o painel do carro há alguns segundos, sem conseguir ligar o veículo e simplesmente ir embora. Estava ciente dos olhos de Artemísia sobre si e sabia que aquilo era, no mínimo, esquisito. Mas algo muito mais esquisito tinha acontecido e ele simplesmente não conseguia engolir.

— O que foi? — Arte soltou o cinto de segurança e virou-se para ele. 

Theo suspirou. Ele não tinha algum direito de ficar investigando a vida dela, tinha? Mas ela estava lá no banheiro com Nico e aquilo era a coisa mais improvável que tinha visto na vida. 

— O que vocês estavam fazendo? — ele finalmente perguntou. 

E, no fim, as coisas tinham ficado estranhas entre eles depois do beijo. Theo achou que era algo que poderia evitar, mas passear com Artemísia entre a zona de "casais" e a de "amigos" era muito mais perigoso do que ele havia pensado. Era uma linha bem tênue que separava as duas situações e Theo tinha medo do que eles estavam se tornando. 

— Nico e eu? — Arte desviou os olhos para baixo. — Estávamos conversando, por mais incrível que pareça. 

— Ok...

— Olha, ele estava no banheiro e eu não estava mais querendo ficar na festa então entrei ali também. E aí acabamos conversando por um tempo, mas, como você viu, não somos melhores amigos nem nada. Ele ainda é o idiota de sempre. 

— Não precisa me explicar — Theo deu de ombros. 

— Foi você quem perguntou. 

— É, mas... Que seja — balançou a cabeça e procurou no bolso da bermuda pelas chaves do carro. 

— Theodoro — o tom dela era frio.

Theo encarou-a. Os olhos dela estavam escuros ali, com pouca iluminação. Era inútil olhar para ela e não pensar que no dia anterior haviam se beijado. O melhor beijo da vida dos dois. 

Mas também era inútil não pensar que ele estava fazendo muitas coisas que disse que não faria. Ajudá-la no Clube do Livro, para começar. E depois, gostar mais dela do que deveria ou podia admitir para si mesmo, quem dirá em voz alta. 

— Não aconteceu nada entre Nico e eu — ela suspirou. Parecia que ela... parecia que não era o que ela pretendia falar antes. Era como se ela fosse dizer algo, muito mais importante e depois disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça. 

— Eu acredito em você — acreditar nela era a melhor opção. Acreditar que ela não seria idiota o suficiente para andar com um garoto babaca como Nico era melhor que pensar exatamente o contrário.

O problema era que quanto mais tempo pensava nisso ou passava dentro do carro, mas ele percebia que se importava e aquilo o estava começando a fazer tremer. Garotas não o faziam tremer. Garotas não o faziam suar frio. Ele costumava ter o controle, mas naquele exato momento estava com medo de qualquer coisa que Arte pudesse fazer ou falar.

Ele começou a pensar nas coisas absurdas para as quais ele diria sim se assim ela quisesse. 

— Sabe, eu achei estranho vir até aqui com você — ela falou muito, muito rápido. — Você me chamou para a festa e eu fiquei bem confusa. Também é estranho porque estamos ignorando completamente o que aconteceu ontem. Eu não sei o que pensar. O que estamos fazendo, Theo? Eu preciso que seja sincero comigo sobre o que estamos fazendo. 

— Eu não sei — era o mais sincero que ele poderia ser. 

— Bom, algum de nós tem que saber. 

— Achei que tínhamos combinado que não gostaríamos um do outro. Achei que tivéssemos deixado claro que seríamos amigos. O que você quer de mim, Artemísia? 

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