Arte

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Artemísia esteve brava em muitos momentos de sua vida. Como por exemplo quando sua mãe a fez passar uma tarde inteira com a filha de uma amiga, obrigando as duas a formarem uma amizade impossível. Ela também esteve brava quando seus antigos amigos não lhe deram créditos por mais um plano mirabolante, mas isso era um tipo de irritação que passava tão rápido como qualquer outra em sua vida.

Em outras situações Arte esteve furiosa. Quando Donald Trump ganhou as eleições para a presidência dos Estados Unidos ou quando Marcelo Crivella ganhou as eleições e se tornou o prefeito do Rio de Janeiro. Arte esteve ainda mais furiosa quando descobriu que mentiram sobre sua comida ser vegetariana em um almoço em família e ela sentiu-se culpada por muito tempo por ter ingerido carne de frango sendo vegetariana. 

Entretanto, naquela terça-feira, Artemísia não estava brava. Artemísia também estava longe de estar furiosa, porque a fúria era um sentimento que ela havia ultrapassado há muito tempo naquela situação. Não há uma palavra mais decente que descreva o que Artemísia estava sentindo, portanto a única sentença que poderia descrever a situação era:

Artemísia estava puta. 

Quando a diretora contou a ela que seu Clube do Livro não seria fechado, a garota foi só gratidão por minutos a fio. Sorrisos e felicidade o suficiente para encorajar a diretora a contar a condição que manteria o Clube de Artemísia aberto: Theodoro Vilela Roriz agora a ajudaria na organização. A diretora poderia tê-lo colocado como um membro obrigatório ou algo assim, mas ela o colocou como o segundo nome do Clube do Livro. Aquilo significava que Artemísia e Theo teriam que lidar diretamente um com o outro até o fim do ano letivo. Longos três meses pela frente. 

A garota não podia dizer que seu problema era algo pessoal com Theo, pois não era. Provavelmente nunca trocaram mais que um par de palavras nos corredores ou nos primeiro ano, quando estiveram na mesma turma. O problema é que Artemísia sabia que o tipo de pessoa que Theo era não era compatível com o tipo de pessoa que ela era. 

Theodoro era o jogador de ouro dos Peppers, o segundo na linha de sucessão de fuckboys da escola, logo atrás de Nico, que só havia ganhado o título porque Theo era dono de uma cara simpática e de muita lábia para ser chamado de galinha por alguém. Além disso, Theodoro provavelmente era uma das pessoas que chamavam o Clube do Livro de "Clube da Erva" apenas porquê Artemísia também é o nome de uma planta medicinal.

O garoto não tinha interesse por leitura. O garoto não era amigo de Arte. Ele não tinha motivos para estar ali. Artemísia sabia que a diretora fizera isso por pura caridade, o que a deixava num nível de irritação ainda pior. 

Arte estava pisando duro pelos corredores durante o horário de almoço, logo depois de sair da sala da diretora. Ela tinha apenas algumas aulas antes do Clube do Livro da semana e agora Theo era um novo problema para lidar. A irritação era tanta que torcia o estômago de Artemísia, fazendo-a desistir da fatia de torta suíça que estava dentro da sua bolsa, resto da sobremesa do jantar de domingo. 

Depois de rodar pela escola atrás de Theo, Arte acabou indo direto para a biblioteca da escola. Tinha muito o que fazer e, se o garoto precisava estar ali, que ele fosse atrás dela, não o contrário.

A biblioteca era um espaço amplo e pouco frequentado. Possuía apenas uma longa mesa de madeira, que combinava com o piso, encostada em uma das paredes, com quatro computadores e cadeiras para eventuais alunos que ali surgiam. O resto do espaço era ocupado com estantes grandes estantes pretas recheadas de livros e alguns pufes brancos espalhados pelo local. A mesa do bibliotecário ficava próxima da entrada, mas o lugar estava vazio pelo horário de almoço. Artemísia tinha autorização para circular por ali uma vez que era o ambiente em que seu Clube do Livro acontecia. 

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