Theo

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Em um dia de convívio, a única coisa que Artemísia havia dado a Theo era, sem dúvidas, pressão. Felizmente, isso não era algo com o qual o garoto estivesse acostumado, uma vez que seus pais o criavam com liberdade e compreensão, coisas que ele não encontrava nos lares de seus amigos.

A mãe de Theodoro, Marisa, era uma psiquiatra que dividia seu tempo entre seu consultório, o hospital em que trabalhava e sua casa. Já o pai dele, Vicente, era chefe de um restaurante de cozinha francesa. Os pais de Theo tinham uma política de que o garoto, de dezoito anos, não precisava ser vigiado o tempo todo se continuasse com um bom comportamento. E o acordo estava funcionando muito bem para as duas partes.

Diferente dos pais de Julio, Gustavo, Bernardo, Paula ou até mesmo Mariana, os pais de Theodoro não exigiam que o filho estudasse para ser médico, engenheiro ou advogado. Deram total apoio ao garoto quando decidiu que queria fazer uma faculdade de jornalismo, mesmo que aquilo pudesse ser difícil para ele. Para Theo, era até mesmo difícil dizer aos outros suas intenções para o futuro, já que todos esperavam que sua paixão por vôlei no ensino médio fosse algo duradouro. Entretanto, vôlei era uma diversão para ele, não uma profissão, por isso estava tão disposto a continuar no time de vôlei.

Theodoro estava disposto até mesmo a aturar os caprichos de Artemísia por seu Clube do Livro se aquilo era preciso para manter seu hobby. O que não entendia era por que Arte tinha que ser tão exigente consigo mesma quando um clube deveria ser mais um escape que um compromisso a mais. De uma maneira ou de outra, Theo sabia que o que faltava na vida de Arte era diversão. Qualquer um que a adicionasse no Facebook, a seguisse no Instagram ou qualquer coisa do tipo só acharia uma coisa: Arte lendo, sem exceção. Desde que a garota criara o Clube do Livro, havia parado de frequentar festas, perdido a maioria dos amigos e se rodeado de histórias. Arte não via mais o mundo real e, consequentemente, ele não a via.

E o mundo real não poderia parar para que Theo ficasse pensando em Artemísia e seus problemas, portanto, assim que chegou em casa, sua mãe o estava esperando.

— Oi— Theo estranhou vê-la ali, às 17h30 da tarde de uma terça-feira.

Marisa estava sentada no sofá bege da sala de estar. Seus pés estavam perfeitamente alinhados sobre o piso claro, e sua coluna estava ereta. Theodoro conhecia muito bem aquele comportamento de sua mãe, ela agia assim com seus pacientes, mas nunca com ele.

— Oi — Marisa respondeu com um rápido sorriso. — Vem aqui. Vamos conversar.

Theo atravessou o ambiente e deixou sua mochila cair próxima ao sofá, sentando-se ao lado da mãe logo em seguida. Naquele exato instante, Theo podia imaginar o que o levava a uma conversa com sua mãe: a diretora entrara em contato com seus pais.

Por sorte, seus pais chegaram tarde em casa, no dia anterior, e o garoto já estava dormindo. Entretanto, mesmo que a diretora nunca tivesse ligado, não havia como esconder um olho roxo da briga do dia anterior. De uma maneira ou de outra, os pais de Theodoro sabiam que ele não cumprira bem com a parte do acordo em que ele devia se comportar bem.

Nos últimos dezoito anos, Theo tinha sido um garoto tranquilo o suficiente para entrar na autoescola pouco antes do aniversário e tirar sua carteira assim que completou dezoito anos, em junho daquele ano. Theo tinha sido um garoto tranquilo o suficiente para que seus pais o deixassem levar os amigos para a casa de praia em Búzios sem supervisão nenhuma além dele mesmo que já era maior de idade. A última coisa que seus pais esperavam era que Theo, depois de dezoito anos de tranquilidade, fosse se meter em uma briga no último ano do ensino médio.

— A diretora ligou — sua mãe disse. — Ela contou da briga que você teve com Nicolas.

Claro que sua mãe sabia sobre Nico. Theo passara os últimos meses tendo que lidar com o surgimento repentino de outro time na escola, coisa que os antigos alunos nunca tiveram que lidar. Nico não era um nome muito bem falado na casa de Theo.

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