Theo

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Aquele devia ser o melhor dia da vida de Theodoro Roriz só que... não era.

Ele sentiu o abraço suado dos seus amigos de time, e então os reservas se juntaram a eles e até seu treinador. No meio daquilo tudo, Theodoro acreditava que devia sentir uma felicidade bem maior que aquela. Ele não estava infeliz, não, mas não era o melhor dia de sua vida. Não era o sentimento que ele esperava sentir.

Desde que entrou para o time, Theo passou seus três anos na escola querendo vencer o Interescolar do último ano. Como um ato final, o adeus à sua antiga vida. O vôlei, os Peppers, tudo ficaria no ensino médio, e ele iria atrás de uma vida de verdade para si na faculdade. Então aquele dia precisava ser mesmo marcante em sua memória, uma lembrança para contar quando fosse mais velho. No entanto, naquele abraço, Theo sentia que aquela sensação seria apagada em meses. Ele se lembraria de ter vencido o Interescolar, se lembraria de ter sido divertido, mas não com um brilho glorioso sobre a lembrança.

Depois de minutos de comemoração, seus amigos se afastaram para buscar suas famílias. O dia no Colégio Novo Horizonte estava recheado de atividades por conta do Interescolar. Ele podia ver as barracas sendo montadas do lado de fora da quadra para venderem comida. Os alunos provavelmente ficariam ali até o fim da tarde, quando a premiação ao time vencedor — os Peppers — finalmente aconteceria.

Theo seguiu o caminho até a arquibancada com um sorriso leve no rosto. Algumas pessoas cumprimentaram-no e ele recebeu um sorriso ou outro como flertes avulsos. Seus pais estavam bem na primeira fila, e agarraram seus ombros assim que ele os alcançou.

— Você foi ótimo! Parabéns! — sua mãe o apertou com toda sua força. — Precisamos comemorar. Podemos comer fora hoje.

— Foi incrível, filho. Um campeão — o pai de Theo piscou para ele com um sorriso bobo nos lábios. — Nunca imaginei que meu filho seria bom em esportes, eu era terrível. Mas você é o melhor.

Theo encolheu os ombros e conteve o sorriso. Aquilo era melhor que vencer. Seus pais sorrindo daquela maneira para ele aquecia seu peito.

Vicente e Marisa sempre apoiaram muito Theodoro em qualquer questão da sua vida. Theo muitas vezes achava que o fato de sua mãe ser uma psiquiatra tinha muita influência naquilo, mas não importava a razão, gostava da maneira que seus pais o tratavam, como se todas as suas pequenas conquistas fossem as maiores do mundo.

— Obrigado — Theo sorriu. — Amo vocês.

Marisa franziu o cenho e beijou a testa de Theo.

— Aquela não é a sua... não é a Artemísia? — sua mãe perguntou.

Theodoro virou o rosto apenas para constatar que era sim Arte, apenas a alguns metros de distância. Com Nicolas.

Arte estava vestindo shorts jeans e uma blusa branca. Sua pele estava no tom mais corado que ele já vira, e seu cabelo estava penteado para o lado, mas mesmo daquela distância Theo reparou que estava grande o suficiente para cobrir os olhos dela. Vê-la ali, no jogo dele fez as pernas de Theo tremerem. Só que Arte não estava sozinha.

Nicolas sorria para ela. Por um segundo, Theo gostaria de conseguir odiá-lo, mas as coisas não eram mais assim há algum tempo, mesmo quando ainda estavam estudando. A relação entre os dois garotos tinha se tornado uma espécie esquisita de amizade e, depois que as aulas acabaram, Theo não conseguia mais recordar das lembranças e impressões ruins que tinha de Nicolas. Só do quanto ele podia ser bom quando queria. E do quanto ele era bom para Arte.

Quando Theo e Arte ainda eram alguma coisa um do outro, a amizade de Nicolas com a garota era incômoda porque Nico era o vilão para Theo. Só que, quanto mais o tempo passava, Theo percebia que Nicolas era o cara legal da história, e não ele mesmo, como sempre havia pensado. Sempre tinha feito as pessoas verem-no como o "garoto de ouro", mas era ele quem tinha causado uma turbulência na vida de Artemísia nos últimos meses, enquanto Nicolas estava ao lado dela, sendo um ótimo amigo e apoiando-a quando nem mesmo Theo o fazia.

Com tudo isso, não era de se admirar ver Arte e Nico felizes e casuais andando pelo jogo de vitória dos Peppers. Ela era boa o suficiente para prestigiar Theodoro, mas ele não podia se dar ao luxo de incomodá-la depois de ter sido o babaca da relação. Não depois de vê-la tão feliz com Nicolas.

Theo precisava superar. Deixar Arte ir viver a vida incrível dela.

— É a Arte — Theo sorriu fraco para sua mãe. Era doloroso, no fim das contas. — Legal que ela veio.

Marisa suspirou, mas Theo tinha certeza de que ela entendia. Afinal de contas, sua mãe quem tinha ensinado a ele que algumas coisas precisavam ter um fim.

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