Arte

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Arte grunhiu antes de correr até a porta. Não queria estar em uma confusão por alguém espiando algo que não deveria, não de novo, então correu, tentando alcançar qualquer um que esteve ali. Mas era tarde demais. 

Ao abrir a porta, fios loiros de cabelo encontraram-se contra ela. 

— Ai! — Liliana reclamou, equilibrando-se depois do esbarrão. 

Atrás dela estavam algumas outras garotas que frequentavam o Clube do Livro, todas acabando de chegar para o encontro da semana.  

— Desculpa — Arte suspirou. — Vocês  viram alguém sair daqui antes de chegarem?

— Não — Liliana franziu o cenho. — Algum problema? 

Muitos, Arte queria dizer. Poderia enumerá-los. Mas não tinha tempo ou era íntima daquelas garotas, portanto apenas afastou-se da porta, cedendo passagem para que entrassem na biblioteca. 

Lá dentro, Theo estava arrumando o projetor para a exibição do filme. Era estranho para Arte encará-lo de novo, tão de perto, e saber que aparentemente tinham superado o problema recente. Deixou o coração se acalmar, ignorando a preocupação por saber quem esteve espiando-a com Theodoro. Não podia fazer nada a respeito, seja lá quem fosse, então permitiu-se suspirar e observar o garoto concentrado em seu trabalho. 

Contemplou a aparência angelical de Theodoro, os traços finos do rosto e os cachos que ameaçavam se formar em seu cabelo, como um querubim, só que com fios castanhos discretos. Arte podia se lembrar que no primeiro ano ele tinha uma aparência tão inocente e tentadora, enquanto os outros garotos estavam tentando sempre parecer mais velhos do que eram. E depois de alguns anos, Theo era uma versão mais velha, mas possuía a mesma beleza fácil, no entanto. Essa provavelmente era a palavra que definia a beleza do garoto: fácil. Ele não precisava se esforçar para parecer bonito, porque não era difícil enxergar sua graciosidade. 

— Você não vai sentar? — uma das garotas perguntou.

As bochechas de Arte enrubesceram instantaneamente. Tinha sido pega olhando para Theo e aquilo era no mínimo constrangedor. 

— Ainda não — Arte voltou-se para as garotas sentadas ali. — Enquanto o Theo termina de arrumar as coisas, eu vou falar sobre o encontro de hoje. Ok... Nós tínhamos tudo programado para semana passada, mas uma infinidade de coisas aconteceram e aqui estamos nós. Hoje vamos assistir o filme "Clube da Luta" e então vocês têm uma semana para ler o livro. Semana que vem nós discutiremos o livro e o filme, falando um pouco dos dois e comentando as diferenças, etc. Tudo bem? 

Balançaram as cabeças em concordância. Arte foi desligar as luzes e, depois, alcançou um pufe vazio, acomodando-se nele. Tinham dois lugares a mais, ela reparou, um a cada lado de si. Três pufes vazios e ela sentou bem no meio. Não foi de propósito, mas sentiu-se como se estivesse obrigando Theodoro a sentar perto de si. O lugar a sua direita era o último, já que tinha corrigido os pufes para uma fila, uma vez que estavam todos virados para a projeção do filme. O pufe a sua esquerda era o lugar vazio entre ela e Liliana e o coração de Artemísia deu um salto. 

Se Theooro sentasse a sua direita, ela provavelmente não se concentraria com ele tão perto e as outras meninas tão longe, e se sentiria quase como se estivessem a sós, o que não tinha como ser bom visto o desespero que sentia por tocá-lo novamente depois dos dias que passaram sem se falar. 

No entanto, se Theodoro ocupasse o lugar da sua esquerda, não poderia ignorar a presença de Liliana ao lado dele e a maneira como ela deixava explícito seu interesse pelo garoto. 

Era infantil. Um milhão de vezes infantil, o tipo de coisa que nem crianças do jardim de infância pensariam. Na verdade, as crianças ririam da cara de Arte por ficar tirando aquelas conclusões e diriam que ela era muito criancinha. 

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