Dizer a Artemísia que estava atrasado para um dos maiores jogos do ano porque estava procurando por ela tinha sido bem idiota, mas aquela era a verdade. Theodoro tinha passado os últimos dez minutos atrás da garota por todo o colégio, perguntando-se onde é que ela poderia ter se metido justamente naquele dia. O pior de tudo era que parte dele acreditava que ela tinha ido embora e, ainda pior, ele não ficara feliz em considerar isso.
Correndo para a quadra de vôlei, era exatamente o que Theo estava considerando. Arte estava indo embora quando se esbarraram no corredor. Será que ela tinha mudado de ideia? Ou, naquele exato segundo, Arte já estava seguindo seu caminho para casa?
De qualquer maneira, aquilo não podia fazer a menor diferença. A ansiedade em ver Arte em um dos jogos era apenas uma projeção da imagem que a mãe de Theo o havia feito criar. Theodoro queria conhecer a antiga Artemísia, mas o que lhe restava era aceitar que ela havia mudado e não iria pisar mais na quadra de vôlei para torcer por ele, como relatara sua mãe.
Mas ele precisava pisar na quadra para jogar e foi o que fez. Ao chegar na quadra, pôde ouvir os alvoroço dos torcedores, junto com as músicas de incentivo criadas pela torcida, tanto dos Peppers quanto dos Roses. Do outro lado da rede, o time adversário estava reunido em um círculo, aparentemente discutindo o que fariam durante o jogo.
Aparentemente. O círculo foi uma das primeiras mentiras que Paula desmascarara assim que entrara para os Peppers. Quando namorava Nico, o garoto contara para Paula que fazer um círculo os fazia parecer mais sérios, mas eles apenas ficavam ali conversando e esperando o jogo começar. Theo sabia que os Roses eram todos teatrais. O time unicamente criado para encher o saco deles. A diferença era que naquele jogo, Nico estava sentado no banco apenas como observador, tirando boa chance da vitória dos Roses.
— Porra, Theo, achei que não vinha mais! — Mariana estava com as mãos apoiadas nos quadris, desenvolvendo seu papel de responsabilidade no time.
— Bem capaz, Mariana — Theo riu. Gesticulou com as mãos, indicando que os outros deviam se aproximar.
Um a um, Bernardo, Mariana, Paula, Julio e Gustavo, se aproximaram de Theo, deixando de lado o círculo teatral. Aquilo era coisa dos Roses. Theodoro não repassava os movimentos do time antes dos jogos.
— Só queria lembrar que vocês devem se divertir, beleza? Nós somos bons no que fazemos. Acreditem em vocês e vai dar tudo certo. Vamos botar pra foder, ganhando ou não. Se ganharmos, quarta-feira tem open bar na casa do Gustavo.
— Que gracinha, Theo — Bernardo sorriu. — Está ficando todo piegas.
— Mais um pouco e ele pode até te dar uma chance — Julio deu uma cotovelada brincalhona em Bernardo.
— Que escândalo, né? Theodoro gay — Bernardo continuou a brincadeira.
— Vocês não conseguem levar o meu discurso motivador a sério? — Theo riu.
— Ninguém te leva a sério — Mariana revirou os olhos. — Galera, vocês ouviram o Theo. Se divirtam e botem pra foder!
— Se divirtam e botem pra foder! — os outros responderam em coro.
Cada um dos seis assumiu sua posição na quadra, esperando o apito para começarem o jogo. Theo aproveitou os breves segundos que tinha para fechar os olhos e se lembrar de que aquilo era sua diversão. No ano seguinte estaria bêbado demais nas festas da faculdade para lembrar daquele momento, mas queria lembrar do quanto seu ensino médio fora divertido. Theodoro queria que toda sua vida fosse o mais memorável possível.
Segundos depois, o apito soou.
Aquele era o começo do jogo.
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Uncool
Teen FictionEm seu último ano de ensino médio, Artemísia só estava certa de três coisas: a primeira era que ela não fazia ideia do que faria em seguida. A segunda é que seu Clube do Livro era a única coisa que a mantinha feliz no colégio. E a última coisa era q...