Arte

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Talvez a respiração de Artemísia fosse demorar séculos antes de voltar ao seu ritmo regular. Talvez ela completasse seus oitenta anos e ainda estaria ofegante. Seus netos perguntariam por que a avó estava sempre ofegando pelos cantos e então ela diria que Theodoro Roriz a tinha imprensado contra a parede de um jeito muito, muito sexual. E então, é claro, ele voltou ao seu estado de espírito normal, lambeu seu dedo e foi embora. 

Mas Arte não podia esquecer dos segundos em que ficara sem palavras. Ele tinha dito que pensava nela quando... Bom, ele pensava nela. E isso já provocava arrepios por toda sua pele. 

Contudo, aquilo era uma brincadeira idiota de Theodoro. Provar que ela estava errada sobre seu autocontrole era uma brincadeira para Theodoro, mas Artemísia não podia negar que ele havia dito e feito todas aquelas coisas, no meio do corredor, como se não se importasse com quem poderia aparecer por ali. E ele a convidara para a festa!

Todos foram convidados, entretanto. Mas com os acontecimentos dos últimos cinco minutos, Arte queria ignorar a voz em sua cabeça que repetia que ela era idiota. Arte ouvia a maldita voz em todos os assuntos que se tratavam de Theodoro, porque a voz era a razoável ali e evitava desastres como tentar beijar Theo novamente ou voltar a ter uma paixonite por ele. De qualquer maneira, a voz não estava sendo muito eficaz, então Arte queria ignorá-la.

Theo colocara-a contra uma parede. Eles estiveram tão próximos. Todo o corpo dele contra o dela e ainda não era o suficiente. Artemísia estava prestes a entrar em um estágio de loucura avançadíssimo porque nada nele era o suficiente e provavelmente era isso o que a irritava quando ele estava por perto. 

Não adiantava se Theo estava sorrindo. Ela queria sentir sua boca.

Não adiantava se Theo estava próximo. Ela queria tocá-lo. 

Não adiantava se...

— Está tudo bem? — uma voz perguntou. 

A primeira coisa da qual ela se deu conta foi de que estava sentada no chão do corredor. Não sabia quando aquilo havia acontecido, mas depois que Theodoro a deixara ali, ela simplesmente acabara no chão de alguma maneira, pensando em toda a situação. Arte olhou para cima e viu Nicolas encarando-a, olhos castanhos e tudo mais. Aquela era provavelmente a primeira vez que se falavam na vida e era estranho. Só que ninguém podia evitar perguntar o que havia de errado com uma garota no chão, especialmente quando ela deveria estar na aula. 

— Sim — Artemísia sacudiu a cabeça. 

E por que ele se importava? Arte apostava que ele chamava o Clube do Livro de Clube da Erva, se é que ele sabia que existia um Clube do Livro. Já bastava um menino popular na vida de Arte, ela não podia lidar com dois. Especialmente com Nicolas, que não tinha os pontos por simpatia de Theodoro. 

— Não parece bem. Você comeu alguma coisa? 

— Sim? — que tipo de pergunta era aquela?

— Não sei — ele deu de ombros. — Você parece magra demais...

Não era a primeira vez que alguém surgia com uma teoria de que Artemísia queria ser tão magra. Não era o caso.

— Eu estou legal, ok? — Arte pôs-se de pé. 

— Não quer ir até a enfermaria? 

— Você não tem o que fazer? Uma aula para assistir? Ou o time de vôlei realmente faz o que quiser? 

O olhar de Nico desceu ao chão e então Arte percebeu o deslize que acabara de cometer. Nico era dos Roses e eles perderam. Além de perder, Nico esteve como um reserva. Ela não era a maior fã de jogadores-populares-e-bonitos — ou evitava —, mas não tinha a intenção de ser tão rude. 

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