Capítulo 44

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Sabrina

O tempo se passou, Gabriel não se comunicou mais. E eu queria que ele tentasse vir atrás. Mas eu me conheço, eu não o aceitaria. E por isso, ele decidiu ficar na dele. Mas aquilo ainda estava tão vívido em minha cabeça, que só de lembrar me dava ânsia de choro. Minha mãe tenta ainda entender a morte do cafajeste dela. Sim, para mim era um cafajeste.

Peguei as últimas coisas que precisava para meu novo trabalho temporário em um restaurante que abrira no final da rua. Minha mãe entra em meu quarto e me olha. Seu olhar é pesaroso, desesperador. Meu coração se aperta a medida que vou me aprofundando, a dor não foi perdê-lo, foi não ter me contado a verdade.

Ela vem em minha direção e me abraça, retribuo com tamanho ardor, sinto falta dela, sinto falta de ouvir suas risadas grotescas, dos seus carinhos, das palavras doces. É um momento único. Não queria soltá-la, está tão prazeroso, tão gostoso que me recuso a sair de seu abraço.

- Estava com saudades, anjo. - diz ela.

- Eu também, mãe...- digo e dou um longo suspiro.

- Filha, lamento não ter contado antes, eu só queria te proteger desta vergonha que passei na minha vida. - sua voz ecoa como um guincho.

- Mãe, já passou. - replico. - Eu só quero construir algo novo a partir de agora.

Ela me solta relutante e sorri para mim, os olhos banhados a lágrimas. Suas mãos alisavam as laterais dos meus cabelos dourados.

- Boa sorte com o novo trabalho, e espero que você se entenda com Gabriel.

- Obrigado. Mas não vejo como voltar para ele depois do que vi.

- Pode ter interpretado errado. Sabe disso.

- Não interpretei nada errado, apenas sei que errei quando deixei Marcos.

Ela assente e dá um beijo em minha testa e logo a campainha ressoa em minua casa, aquilo morteceu meu coração, me deixou com nó na garganta. A imagem de Gabriel vem a minha cabeça, meu coração dá um salto mortal e meu inconsciente logo se manifesta. Você é muito burra. Achou mesmo que ele ia casar com você?, gritou meu inconsciente.

Deixo um leve suspiro escapar por meus lábios e pego minha bolsa e passo a alça por cima do ombro e saiu do meu quarto. Ouço minha mãe falar com alguém na sala, ela não parece nem um pouco educada com a pessoa e isso me traz curiosidade e preocupação. Caminho até a sala e tenho o gosto forte do puro desgosto de ver aquela maquiavélica aqui. O que ela quer agora?

Falar que Gabriel é dela imbecil!, gritou meu inconsciente debochado.

- O que você quer? - pergunto secamente.

Leona guia seus olhos azuis-cinzentos em minha direção e dá um sorriso que só cobra sabe dar. Se eu não tivesse prestes a ficar atrasada no primeiro dia de trabalho eu lhe daria uns belos supapos, como dei em Alessa, quando quase perdi Gabriel. Mas para falar a verdade, eu não perdi, ele nunca foi meu. Meu coração se encolhe ao lembrar daquela cena que me destruiu.

Mas encarei a bruaca na minha frente com ar estranho, elevei o peito e coloco minha mão no quadril. Minha mãe fica ao meu lado.

- Eu gostaria de trocar uma palavrinha com você...a sós. - diz ela, suave. A voz macia que esconde uma armadilha.

Sorrio em deboche.

- Eu não tenho nada para falar com você, por favor, saia da minha casa. - peço secamente.

Ela abaixa a cabeça e torna a me olhar, por um momento quero saber o que é, mas por outro não.

- Só lhe peço mais do que alguns minutos, não vou te...incomodar, por favor.

Seus olhos quase me imploram, por fim eu cedo e olho para minha mãe, para acalmá-la. Ela caminha relutante até seu quarto e depois de um tempo, volto a atenção para Leona. Está bem vestida, usa um vestido de seda frente única, num tom beterraba, vejo que está usando um dos seus saltos agulhas, indico com a mão para que ela se sentasse e ela sorriu bastante agradecida, dou a volta para ficar de frente a ela.

- E então? - pergunto, impaciente.

- Eu nem sei por onde começar...- ela diz de cabeça baixa.

- Então não comece, simplesmente curta seu novo romance.

- Espera. -ela pede desesperada. - Bom, eu vou tentar me explicar desde o começo.

- Que não demore, preciso trabalhar...não tenho a vida ganha como você.

- Quando conheci Gabriel, eu me apaixonei. O casamento com L.M Sparks, foi só uma fachada da mídia, mas eu queria me livrar dele. E fiz tudo errado, eu sei. Um homem quase perdeu o emprego e o outro está preso por minha causa. Mas, eu juro que tentei esquecê-lo. - Seus olhos se levantam vermelhos e com lágrimas, ela funga. - Mas quando eu voltei na esperança de pedi perdão e ver se iria ficar tudo bem, ele estava com você e eu fiquei enciumada...

- Leona...

- Deixe-me terminar. - ela pediu com certo floreio. - Gabriel não era mais meu, também o que eu fiz, não é para menos. Naquela noite, eu tinha saído para curtir uma noite, já que Gabriel não saía da minha cabeça e para piorar minha situação ele estava caindo de bêbado, ele mal conseguia andar...

- E daí vocês dormiram, treparam na sala e nem sequer me avisaram. - ironizo.

- Não foi bem assim...

- Ele estava nu debaixo das cobertas!

Ela suspira e joga os cabelos para trás e pega o celular em sua bolsa, que só reparei agora. Uma Louis Vitton, original, linda e bela. Ela o entregou para mim que me recusei a pegar de imediato, mas ela insistiu.

- Se ver esse vídeo vai ver que ele é inocente. Quando você me encontrou na cozinha eu tinha acabado de chegar, eu estava tão enciumada que quis provocá-la achei que não acreditaria, mas você acreditou...

Fico calada com uma sobrancelha arqueada. Olho para o celular e aperto o play, sabendo que podia me arrepender.

Após terminar o vídeo de 7 minutos inteiros, fico boquiaberta. Se eu não estivesse tão petrificada, eu arracaria os cabelos desta vaca. Preciso reconhecer que Gabriel é mais maluco do que essa daí.

- Agora você sabe. - ela diz, sua voz choraminga. - Eu o perdi. Eu vi o estado que ele ficou depois que você foi embora. Por mais que seja difícil de aceitar, tenho que reconhecer que o perdi...perdi para alguém melhor que a mim. Você pode fazê-lo feliz, eu não.

Olho para ela espantada. Por que ela estava fazendo isso? Se até agora, ela só aprontou para nos separar?

- Eu não quero mais prejudicá-lo, faço isso por ele e não por você.

Continuo sem fala, ela apenas pega sua bolsa e ajeita seu vestido.

- Tente falar com ele.

Ela se vira e limpa os olhos antes de sair porta afora. O único som que destingui foi da porta batendo e o celular dela em minha mão. Corri para a porta e a gritei do portão que se vira.

- O seu celular! - grito.

- Pode ficar. - ela dá uma piscadela. - Ah, eu vou embora hoje, se isso lhe alivia.

Apenas fico parada vendo ela descer ladeira abaixo. Que merda que eu fiz?

Advogado Sedutor - Livro 2 (Repostagem)Onde histórias criam vida. Descubra agora