Capítulo 45

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Gabriel

E lá estava eu, sozinho e vazio dentro do meu farto escritório. Lorrana pediu demissão pois queria tentar algo melhor, a data do julgamento de Sabrina se aproxima e eu não sei mais o que fazer. Ela não me procura. Henrique vive agora na gandaia e André está cuidando da sua nova família. Meu pai e minha mãe resolveram tirar uma segunda lua de mel, então basicamente estou sozinho. Renata, por alguma faceta do destino está namorando alguém de verdade, Ronaldo resolveu simplesmente viajar de novo.

Eu sou apenas uma carcaça vazia e oca que respira automaticamente. Estou sozinho nesta jornada mesmo. Fico batucando a ponta da caneta na mesa, olhando para um ponto oco do meu escritório, ao meu lado está arquivos de casos novos que vou ter que julgar e comparar alguns com os que já foram presos. Amo meu trabalho, mas agora eu não sentia tanto prazer, como sentia antes. Eu não tinha um motivo.

Ouço batidas lentas e fracas na porta, meu coração salta ao pensar que pudesse ser quem eu quero ver, mas a pessoa que entra faz meu coração murchar feito ameixa e vejo Leona sorrir para mim. Tudo o que queria neste momento.

- Gabriel...- ela diz.

- Leona. - digo secamente.

- Eu estou indo embora e espero que você possa me dar uma boa despedida.

- Você já fudeu com minha vida duas vezes, e ainda quer que eu vá me despedir?

- Acho que sim, espero muito que vá.

- Vou pensar, mas obviamente não irei.

Ela assente veemente e lágrimas escorrem de seu rosto.

- Gabriel, me empresta seu celular?

- Para quê?

- Preciso fazer uma ligação...

- E cadê o seu?

- Está com a Sabrina..

Ela sorri e meu coração sobe a boca, olho para ela esperançoso.

- Eu disse que iria consertar e acredito que ela agora ea está se perguntando que merda ela fez.

- Mas ela...

- Ela virá ou se chamar ela, pode facilitar.

- Leona, você...

- Nada disso, apenas vá se despedir de mim.

Assinto e ela se levanta e vai embora do meu escritório. Meus lábios se contraem em um sorriso, há esperanças brilhando em meu íntimo, algo que eu nem sei explicar. Quero soltar fogos de artifícios.

***

Mais tarde ao chegar em casa, vejo Henrique sentado no espaçoso sofá assistindo futebol e tomando sua cerveja. Ela nem se dar o desplante de me olhar.

- Gabriel, está passando o jogo...

- Estou sabendo, vou dormir.

Subo para meu quarto e me tranco lá. Jogo minhas coisas em qualquer canto e tiro minha roupa. Coloco meu moletom preto e meu celular e fones. Coloco na música my escape, de Ravenscode. Fecho os olhos para sentir as ondas sonoras penetrar em minhas veias. Meu coração está amargurado e vazio, sou apenas uma carcaça abatida, vazia e oca. Não tenho motivos para nada, nem mesmo posso confiar no que Leona falou. Ela não deve ter estado com Sabrina, ela pode até ter ido porque a conheço. Mas, nunca para me ajudar ou ser a meu favor. Talvez esse seja o revés de qualquer advogado criminal que atua em defesa.

Escolhi uma profissão certa, mas na qual eu não me adaptava. Devia ter escolhido atuar em defesa, de uma vez. Tampo meu rosto com meu antebraço e coloco a música no último volume. Não quero saber de nada, não quero mais ter que me importar com nada. É por isso, que é tão difícil se apaixonar por alguém.

Após um tempo, a música estava a ressoando alto em meus ouvidos, é longa. Retiro os fones e deixo o celular de lado. O vento gélido entrou pela minha janela indicando o inverno. Está prestes a chover no Rio de Janeiro, com ele, os desastres naturais causados todos os anos, desde que nasci. Levanto e fecho minha janela, as árvores farfalhavam um som estridente lá fora e coloco um casaco e desço. Não sinto fome desde a partida de Sabrina e isso já me custou 4 kg perdidos.

Saiu do quarto e vejo Henrique subir as escadas, seu hálito fedia a álcool.

- E aí? - pergunta ele.

- Nada. Está precisando de um banho. - digo.

- Sou o único que não virou maricas, nesta porra. - ele resmunga.

- Imbecil!

Ele vai para o seu quarto e eu desço para cozinha para tentar preparar algo para mim, que não seja tão salgado demais e nem adocicado demais, para se jogar fora. Eu sou um desastre ambulante na cozinha, preferia que Sabrina fizesse isso para mim, sua comida é tão gostosa, tão apetitosa que minha mente me leva para o dia anterior aquela briga.

Tudo me faz lembrar dela, até o cheiro do seu perfume entranhado em algumas das minhas roupas me faz sorrir. Pego uma forma de silicone e coloco uma lasanha, algo prático e bem fácil de fazer. Retiro o plástico e coloco no microondas. Aguardo o tempo sentado na copa da cozinha. Batuco os dedos nervosamente no tablado de granito e fico fitando algo a minha frente.

A chuva acabara de cair, vejo um carro parar em frente a minha casa e vou ver o que é. De repente pode ser ela. Meu coração se acelera e sinto meu rosto ruborizar. Corro até a porta e a abro na esperança de vê-la. Mas era apenas meus pais, voltando de viagem.

Eles corriam desesperadamente para casa e me olham surpresos.

- Gabriel, ainda acordado? - pergunta, minha mãe.

- E por acaso eu durmo esse horário? - pergunto com certa ironia.

- De certa forma, sim...

Suspiro e abaixo a cabeça e dou espaço para eles entrarem.

Mesmo que ela não queira eu vou estar lá.

Advogado Sedutor - Livro 2 (Repostagem)Onde histórias criam vida. Descubra agora