Capítulo 47

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Sabrina

Ainda não entendia muita coisa que havia acontecido nesses últimos dias, de repente eu me encontrava distraída e perturbada. A falta que sentia de Gabriel e de sua família é algo que não posso explicar. Me sinto perdida e desolada, a torrente lá fora mostrava que o dia hoje não seria fácil, o sopro forte e gelado do vento entrava por portas e janelas. Podia sentir meu queixo bater violentamente e escutar os dentes trincando ritmicamente.

Luísa uma outra garçonete com quem havia feito amizade em apenas alguns dias desde que comecei a trabalhar aqui, me zombava a cada instante em que me encontrava perto do balcão de arenito escuro. Havia uma clientela gigantesca e o dobro de funcionários trabalhando hoje, para suprir toda essa gente. Mesmo o dia chuvoso e cinzento, elas estavam lá. Não fazia a menor importância. O lugar é barato, também não se pode cobrar nada caro aqui.

Luísa se sentou num pequeno banco de madeira e eu a olhei divertida.

- Hoje está pior do que ontem. - comenta ela.

- Você acha? - ironizo.

- E você ainda ironiza? Quero ver no meu lugar!

- Eu tenho a mesma função que você, para de reclamar e vai trabalhar! - digo, pegando a bandeja redonda com bebidas diversas e um prato de petiscos e levo para seu destinatário.

Quando volto Luísa está partindo para o lado sul do recinto e começo a rir. Quando ela voltou e vimos que teríamos alguns minutos de descanso, suspiramos juntas e começamos a rir.

- Quando vai ser seu julgamento? - pergunta ela.

- Semana que vem, numa terça-feira se não me engano. - admito.

- Ahn...e seu advogado?

- Eu acho que...não sei...não consegui outro em cima da hora...e...

- E nem vai conseguir, liga para ele, Sabrina. Vai ser bom para os dois.

Eu a olho e ela apenas se levanta e sorri para mim.

- Talvez, acho que uma ligação não vai bastar.

Franzo as sobrancelhas para ela, que olha intensificamente para entrada. Sigo seu olhar incessantemente irritante e meu coração lateja, como se tivesse ressucitado do inferno e subido para o Paraíso dos anjos musculosos e atraentes. Meu olhar fixou nele e não quis se desgrudar dele. Meu coração dava saltos ornamentais e munha deusa interior começou a dançar rebolativa. Minha barriga está comprimida, não consigo respirar. É uma miragem? Uma alucinação? Não, ele estava lá.

Gabriel está usando sua roupa casual, segundo ele, um terno risca de giz. Devia ter saído do trabalho para o almoço e achou que aqui deveria ser um bom lugar para relaxar o estresse. Ele ajeitou a gola e abaixou a cabeça num gesto incrivelmente sexy, me deixando boquiaberta. Meu coração estava disparado e meu cérebro rodava.

Meu inconsciente começou a gritar em zombaria.

Ele veio apenas almoçar. Esqueceu que ele não sabe onde você trabalha?, gritou ele.

Em parte, é verdade ele não sabe onde eu trabalho, como? Talvez André deva ter usados seus métodos ultra secretos para me descobrir a mando dele, o que eu acho improvável. Luísa voltou e me cutucou com o cotovelo.

- Vai atendê-lo ou só vai ficar aí babando? - pergunta ela, complacente.

- E-eu acho que vou deixar para você, ele não pode me ver! - suplico.

- Ah não, você vai lá e vai atendê-lo. - diz ela me levantando. - São duas pessoas normais, que tem pelo menos que se respeitarem...vai!

Luísa foi a melhor pessoa que já conheci neste mundo. Eu me senti a vontade contando tudo para ela. Sei que ela nunca vai falar para alguém sem meu consentimento. Mesmo assim, ela não vai. Ela tem pele morena, parece aquelas meninas lindas da India, cabelos bem enrolados e bem hidratados, olhos negros e um corpo escultural.

Seu sorriso branco me encorajou em parte. Ainda tinha medo de encará-lo. Pego minha bandeja e vou em direção a Gabriel, querendo desistir a cada passo que dou. Eu posso simplesmente fingir que ele é só mais um cliente e trata-lo como ninguém, ou implorar para Luísa fazê-lo. Mas ela parece tão irremediável que desisto da segunda idéia. Mergulho mais a fundo neste caminho. Não sei qual será sua reação, mas espero que seja pelo menos...normal.

Seus olhos caramelados intensos se levantam e encontram os meus. Um brilho aceso passa por eles ao me ver, ele está com o celular em mãos e o guarda assim que chego perto dele.

Fico sem jeito, não sei o que dizer, ele me encara atentamente.

- Oi...- ele diz, por fim, parece sem jeito também.

- É...oi...vai pedir alguma coisa? - pergunto, com a voz esganiçada.

- Não, na verdade sim, gostaria de falar com você a sós...

- Gabriel...

- Por favor, não vou tomar muito o seu tempo.

O encaro calada e depois de dois segundos assinto. Ele suspira aliviado e Luísa de repente aparece atrás de mim.

- Vai! Posso cobrir aqui por alguns minutos. - anuncia ela.

Deixo a bandeja na mesa vaga e vou lá para fora com ele, ou melhor atrás dele. Nos distanciamos um pouco e finalmente vejo seu Rand Rover parado e ele encosta no capô. Ele parece bem acabado para um garoto de 26 anos que ainda tem a  vida inteira pela frente, sinto pena de seu estado. Ele parece ter emagrecido um pouco, mas nem tanto.

Ele me olha e suspira.

- Sabrina, preciso que me ouça...- pede ele.

- Estou aqui, não estou? - respondo com certa rispidez.

Ele franze as sobrancelhas e assente.

- Naquele dia eu errei, saí para encher a cara e não estou nem pouco gostando da vida que estou levando. Eu não me lembro do que aconteceu depois que apaguei, mas sei que não houve nada...

- Eu sei... - o interrompo.

- Então por favor, por que ainda estamos separados? Minha mãe te convidou...

- Eu sei, não vou faltar com a palavra.

- Não respondeu a minha pergunta...

- Estamos separados porque não somos compatíveis um com o outro.

-

Sabrina, eu preciso de você!  - exclama o rapaz.


-Precisa? Não me diga... - digo sem forças para encará-lo.

Quero chorar agora.

- Eu te amo. - dispara  ele.

- Eu também, Gabriel, mas não posso mais arriscar, sempre vai ter um para nos afastar e...

- Por favor, Sabrina, estou lhe implorando. - ele suplica e os olhos banhados a lágrimas.

- Preciso pensar...

- Eu estarei lá para te defender, espero que não me repele.

- Não esperava nada menos de você. Obrigada.

Advogado Sedutor - Livro 2 (Repostagem)Onde histórias criam vida. Descubra agora