Capítulo 14

1K 115 11
                                    

Depois de longas discussões, os três chegaram em comum acordo, e Carnegie explicara que a grande dificuldade estava realmente apenas em entrar. Pois a russa afirmava que dentro do estabelecimento, em meio a tantos clientes, ninguém a reconheceria. Ainda mais estando ela vestida daquele modo, com sua típica peruca ruiva na cabeça.
No momento, Allan era o único que dispunha de um carro, ele não era lá muito rico, mas também não era nem um pouco pobre ou cercano à classe média, por isso, concordou em empresta-lo.
Já passava da meia noite quando estacionou o carro perto do mesmo beco escuro que ambos estiveram naquele dia. Elisabeth confere as armas e facas por debaixo do vestido, e introduz um pequeno objeto na orelha, tampando-o com o cabelo fajuto.
Aquele era um dos mil inventos que Allan trouxera para sua casa. Segundo ele, aquela coisa ajudaria na fase de comunicação entre a dupla. Era uma espécie de telefone portátil? ela não entendera muito bem o nome. Mas sabia que ele funcionava através de frequência, a qual somente eles poderiam ouvir. Talvez aquilo fosse uma espécie de rádio, mas não estava nada preocupada em definir o que era aquela invenção mirabolante naquele momento.
O beco continuava escuro, e as vozes do interior do local eram ainda mais altas que dá última vez que estivera ali. Mas por sorte, naquela madrugada não chovia.
Ela caminha pelo corredor estreito, parando pouco depois da porta de aço, sabia que a alguns metros a frente, estaria a sala onde os homens de Black Rose costumavam se reunir.
A cinco metros acima da sua cabeça, encontrava-se uma janela estreita. Onde a russa lhe dissera que era originaria do banheiro masculino.
Rolando lentamente um barril de ferro até o local, onde antes provavelmente guardavam peixes, ela conseguiu diminuir um pouco mais a distância entre ela e a sua entrada. Mas ainda faltavam alguns metros para alcançar a janela e, infelizmente, os outros barris se encontravam muito longe, trazê-los até ali poderia provocar algum barulho e chamar atenção indesejada.
Se equilibrando naquele barril torto em cima dos saltos, ela toma impulso na calha ao lado, que era um pouco mais baixa do que a outra e literalmente escala a parede. Ela aprendera isso nos tempos da adolescência, fugia de casa durante as noites em um tanque de guerra, já que era o único veículo que ela sabia dirigir, e ia às festas com os soldados, fumava, bebia em apostas, tudo só pra irritar o general e sempre se mantinha de pé.
Ela fez alguns amigos nas bases, que no começo se encarregavam de ajuda-la a fugir. Mas quando o pai ficou sabendo, dispensou um deles, e o resto foi transferido para outro local. Desde então, nenhum outro soldado se atreveu a aproximar-se da filha mais velha do general Austen.
Voltando a se concentrar, faltavam apenas alguns centímetros para chegar até a janela, no entanto, a partir dali, a parede já não era tão apta para escalagem. A janela estava aberta e a luz do banheiro apagada, mas ainda assim podia-se ver a veneziana do lado de fora. Foi então, que ouviu a voz de Allan bem próxima a si.

-Lizzie? Já entrou?

Ela demorou alguns segundos para entender que a voz provinha do aparelho que colocara na orelha, e só então respondeu.

-Estou quase lá.

-Me avise quando entrar.

Soltou umas das mãos, estendendo-a para cima, e com a outra segurou firmemente na falha da parede. Pulou somente quando sentiu segurança, lançando seu corpo para cima e agarrando a veneziana com a mão estendida. Agora com ambas as mãos o movimento era bem mais fácil, novamente impulsionou o corpo e se lançou para dentro do recinto, agradecendo mentalmente o fato da veneziana ter sido forte o suficiente para segura-la.

-Estou dentro. - anuncia.

Elisabeth encontra o interruptor e acende a luz, mas obteve apenas um chiado forte como resposta, indicando que aparentemente o objeto estava dando interferência. Já que não havia bolso no seu traje, ela retirou e guardou a pequena peça dentro do sutiã.
Encarando sua figura no espelho, Lizzie procurou alinhar os fios rebeldes da peruca, e retirar um pouco de poeira do vestido. Agora assim, estava pronta.
Não foi vista ao sair do banheiro masculino, e os clientes do local pareciam nem perceber que ela nunca estivera alí. Tratavam-na como uma deles, alguns lançavam olhar sugestivos, outros de arrogância, e outros apenas continuavam as suas apostas.
Sentando-se em um dos bancos do bar, ela pede sua bebida preferida, vodca. Esse era o tipo de bebida que desde início a fazia ferver, mas que depois de anos de prática só lhe fazia efeito depois da quinta garrafa. Isto é, só então os efeitos começariam a acontecer.
O bar parecia comum, ela pensava que bares de ladrões e criminosos nesse país eram em geral horríveis. Mas tudo ali se assemelhava aos bares que frequentava na França. Sentiu uma pontada de saudades no peito. Se esquecera de como era bom se divertir nas horas vagas. Nos estabelecimentos que costumava ir no seu país natal, os homens de lá a tratavam de igual pra igual, já conheciam sua fama, e apenas os novatos ousavam desafia-la para um rodadas de bebida ou para qualquer outro jogo. Lizzie amava vislumbrar suas caras de desapontados ao final da disputa.
Bebendo mais um copo, ela relembra a felicidade que tinha pelo simples ato de ver aqueles homens perdendo uma bolada de dinheiro. Como era infantil.

-Mais uma, senhorita? - indaga o homem, atrás do balcão.

-Sim, mais um copo.

Não pretendia beber muito naquela noite, mas precisava manter seu disfarce e permanecer algum tempo se divertindo no salão antes de sair a procura da máquina.
Sua tensão foi grande, quando do outro lado do salão, avistou Benn, Campbell e Paine adentrando pela porta. Bebendo seu último gole, Elisabeth se afastou em direção ao caminho que Carnegie lhe dissera ser o certo para chegar até o Enigma. Precisava completar o seu plano o quanto antes, estava com a peruca ruiva, e se eles fossem espertos, não demorariam à reconhece-la como a mesma ruiva que roubara o Sr. Colome. E depois de uma melhor analise, veriam que na verdade, a ruiva era Elisabeth, sua colega de trabalho.
Seguiu reto pelo corredor e virou a esquerda, pois máquina estaria na primeira porta naquela direção. Entrou sem grandes dificuldades, já que porta não estava chaveada e por alguns minutos pensou qie Rostova à tivesse enganado. Mas ao investigar melhor, encontrou o Enigma guardado em um ladrilho solto da parede do quarto. Aquilo estava muito fácil para ser verdade.
A máquina não era grande, sua forma era moldada no tamanho de uma maleta de madeira, e era exatamente isso que disfarçava o conteúdo.
Saindo do quarto, ela encosta a porta de vagar para não chamar atenção dos outros homens, que estavam na saleta ao lado fazendo apostas privadas entre o grupo.
No mesmo corredor avista Benn, aos beijos com uma loira de boas formas encostado na parede. Ao que tudo indica, ela o encurralava, não ele. Mas Benn parecia gostar da atenção que recebia.
O tempo para, quando o Agente abre os olhos e fita a ruiva que os encarava. Ele a conhecia de algum lugar, e suas suspeitas se confirmaram quando vislumbrou a tensão nos olhos da mulher, surpresa por ser pega.
Nos segundos seguintes, tudo aconteceu muito rápido. Assim que Elisabeth leu o sussurro de Benn, constatou que ele a reconhecera e seu único instinto foi correr rumo ao banheiro por onde entrara.

-A ruiva!! -grita ele, empurrando a loira que o beijava.



Agent BeckerOnde histórias criam vida. Descubra agora