O prédio a frente era grande, com traços de arquitetura românica e uma dúzia de escadas logo no início. As janelas eram limpas como água, e o gramado bem aparado.
Campbell sorri, ele já conhecia aquele local, mas pela surpresa de Elisabeth, soube que era a primeira vez que a mulher estivera ali. Ambos ultrapassam o rau de entrada, e seguiram a orientação da recepcionista para chegar ao salão onde os testes seriam aplicados. Benn e Paine já estavam lá.
Peterson dera ordem de que seus melhores agentes deveriam ser os primeiros, assim poderiam voltar logo aos ofícios. Ela não estava ali por ser considerada a melhor, mas sim pela necessidade dos relatórios serem entregues na data certa, e estando ela ocupada com outras funções, isso não seria possível.
O local realmente se assemelhava a um campo de treinamento. Era um salão enorme, equipado com um tatame de boxe e utensílios para exercícios no lado esquerdo.
Campbell deixara de sorrir, e adquirira uma expressão intrigada, para somente então cair em si: Becker não deveria estar tão surpresa assim, afinal aquele era o lugar onde os alistados eram treinados antes de serem considerados parte do exército. Ele se lembrava muito bem de que em sua ficha, constava informações de que ela estivera no exército desde o início da guerra. A pergunta que não calava era: como ela entrou? E será mesmo que entrou?-Campbell? Estou falando com você! - grita Benn.
Foi então que notou que todos já estavam em fila, com as mãos alinhadas na lateral corpo em forma de respeito ao homem diante do grupo. Ele correu, e tomou seu lugar ao lado de Elisabeth.
-Para os que ainda não me conhecem, sou o capitão Moore. Vocês vieram aqui hoje porque são considerados os melhores. Mas sou eu quem decide isso. E já começo adiantando que não vão ter moleza. - diz, recitando a última frase com os olhos cravados em Elisabeth.
A moça controla a vontade de revirar os olhos diante da ameaça. Mostraria a ele que não precisava de uma colher de chá, e que era tão competente quanto os que estavam ali. Por sorte, escolhera uma boa opção de roupa, sua calça e o sapato baixo a ajudariam durante o exame.
-Muito bem, vamos começar com aquecimento simples. Acredito que todos vocês saibam fazer abdominais? Não é? Quero cem, e os que forem terminando podem se aquecer na pista de corrida.
Ali mesmo onde estavam, um a um se acomodou, iniciando a sequência de exercícios. Já fazia tempo que Elisabeth não chegava a casa dos cem, desde que Allan aparecera, ela praticava metade dos exercícios que costumava fazer para se manter em forma. Sua presença trouxe problemas, e com isso, falta de tempo.
Apesar da falta prática, ela conseguiu chegar ao final da sequência sem grandes dificuldades, apenas com um leve incômodo no abdômen. Se esforçara para terminar o quanto antes, e ficou entre os quatro primeiros na maratona proposta pelo capitão. Correr não era o seu esporte preferido.
Quando finalmente o grupo pensou que os testes haviam acabado, Snart decide lançar o último desafio.-Formem duplas, vocês vão lutar.
Era óbvio que em um grupo de nove pessoas, uma ficaria sem par. E mais óbvio ainda era que essa pessoa seria ela. Todos ali tinham medo de ser o responsável por "machucar" uma mulher.
As duplas começam a lutar ali mesmo no centro, já que não havia espaço suficiente para todos no tatame, e sem saber exatamente o que fazer, Lizzie se aproximou do capitão.
Ele encarou a jovem dos pés à cabeça, com os braços cruzados e pernas afastadas enquanto a observava com um ar de superioridade.-Por que não está lutando? - questiona.
-Não tenho um par, senhor. - sem esconder o sarcasmo.
Ele se volta para o salão, comprovando o que Becker acabara de dizer, e depois a analisa por mais alguns minutos. A jovem parecia forte. Usando a quantidade de força adequada, tinha certeza que não a machucaria.
-Então serei seu parceiro.
Sem dizer mais nada, ambos colocam as ataduras e se posicionam para a luta. Elisabeth já observará que ele não era um homem de muitas palavras, e assim que o viu fazer isso, soube que teria a sua luta.
Antes de começar a briga, o militar sorriu de canto e desabotou a camisa azul marinho que vestia, jogando o pedaço de pano do outro lado da sala.-Isso machuca a sua sensibilidade? -indaga sarcastico, vendo a mulher deslizar os olhos pelo seu abdômen.
Lizzie sorri de lado.
-Admito que poderia ser melhor...mas a vista não é nada mau...
O primeiro soco é desferido no ar, trazendo um pequeno vento consigo, e espalhando os cabelos de Lizzie, que insistiam em escapar do coque. Novas sequências atingem o ar, o homem elevava a força dos seus golpes a cada soco ou novo chute contra Becker. Moore planejava pegar leve, mas aquele ritmo já o estava irritando, odiava trabalhar apenas no modo de ataque, e odiava ainda mais não conseguir acertar nem um mísero soco na sua adversária, que desviava de modo gracioso.
Elisabeth, que até então se mantinha na defensiva, decide avançar naquela luta. Já o deixará irritado, e o modo com que ele começará a lutar comprovou sua teoria de que o capitão estava pegando leve no início. O surpreendeu ao desferir o primeiro soco e o acerta no maxilar, e sem dar tempo para que o militar sentisse dor, o próximo golpe foi um chute giratório na altura do estômago.
O capitão se recompõe, claramente surpreso pela revira volta da disputa. Os golpes da mulher eram precisos, e ele teria que se concentrar na luta se quisesse ganhar. Seus pensamentos são interrompidos por uma rasteira, e o impacto contra o chão foi inevitável.
Lizzie sabia que o homem era bom, afinal é um capitão, mas durante o seu período de defesa ela conseguiu identificar sua fraquezas, e tinha sobre ele essa vantagem.
Sua atenção é novamente voltada a luta, o homem já tinha se recuperado, e estava em pé, pronto para continuar.
Ele parecia irritado, e isso foi comprovado a cada nova investida contra a Agente. Desviando o seu corpo com leveza e rapidez, ela percebeu uma brecha na defesa do homem enquanto praticamente dançava na sua frente. Era alí que iria atacar.
Tomando impulso no joelho flexionado do capitão, ela alcançou o seu pescoço e entrelaçou suas pernas em torno dele. Não queria mata-lo, mas precisava de força adequada para derrubar tamanho homem.
Ainda surpreso, ele tentava tirá-la de cima dele, segurando suas pernas e forçando-a para o chão. Mas a jovem era forte, e isso não foi possível.
Ambos caem no chão, mas nem isso foi capaz de fazer com que Elisabeth diminuísse a força. Quando finalmente constatou que os lábios de Moore começavam a adquirir tom lilás, ela o soltou, levantando com pequenk salto e estendendo a mão para o colega de luta, que ainda tossia para recuperar o ar.
Ele recusa a ajuda, e levanta por si só, percebendo que o grupo todo prestavam atenção neles. Não se envergonhava por ter perdido para uma mulher, mais sim por ter fracassado. E apesar de ter falhado de forma miserável ao julga-la inicialmente, ele sabia que tudo isso era somente um teste e que aquela mulher tinha recebido um ótimo treinamento.
O capitão estendeu a mão, cumprimentando-a pela vitória, e o seu jesto foi aceito com seriedade.-Muito bem Agente, você está aprovada.
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Agent Becker
AksiElisabeth, uma moça independente numa época totalmente machista que luta pelo reconhecimento do seu valor dentro de uma das mais secretas organizações do governo, a OSCU. Afastada da família após fugir aos Estados Unidos em busca da liberdade, aos p...