Capítulo 15

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Nesse percurso os corredores pareciam ter ficado cada vez mais longos. Ela podia ouvir os passos apressados de Benn atrás de si. Elisabeth sabia que teria de alcançar logo o banheiro se quisesse manter o seu disfarce, e que apesar de ser muito boa com corridas, tinha que admitir que Benn estava melhor preparado, afinal à meses não praticava tal exercicio.
Recolhendo suas últimas forças, ela apressa os passos e entra no banheiro masculino que, por sorte, estava vazio.
Trancou a porta e se pôs a recuperar o oxigênio, sabendo que precisava sair dali o mais rápido possível, pois o agente dera o primeiro chute contra porta e ela não parecia muito resistente às suas investidas.
Lizzie abre a pequena veneziana pela qual entrara, mas que agora estava fechada para impedir o vento de entrar. Sentou na beirada da janela, calculando o tamanho do impacto que teria sobre a calha visinha. A distância não era muita, mas com certeza teria dores no dia seguinte.
Justamente quando lançou seu corpo para fora, foi que ouviu o som da porta sedendo e a voz de Benn, gritando preocupado com a moça que para ele, estava se suicidando. Sua voz logo foi substituída pela dor do impacto do corpo de Elisabeth contra as telhas, que felizmente não se quebraram, e suportaram o seu peso.
Olhando para cima, avistou Benn na janela, indeciso em pular ou não para alcança-la. Sem dar tempo para que ele decidisse, desceu do telhado e caminhou cambaleante, por conta da dor, até o carro do amigo.
Dirigindo em alta velocidade para se afastar o máximo que podia daquele porto, ela tomou rumo ao seu apartamento. Teria de dar algumas voltas à mais caso alguém a estivesse seguindo. Mas pelo retrovisor, constatou que isso não seria necessário.
Seu braço doía, dificultando o ato de dirigir naquela madrugada, e imaginou que provavelmente teria deslocado o ombro e que não percebera nada no momento por conta da adrenalina.
Ainda na direção, com a velocidade um pouco menor, ela segura o seu ombro esquerdo, aparentemente deslocado. Nenhuma das mãos estavam no volante, mas o carro continuava retilíneo sobre a pista.
Forçando o ombro machucado contra a mão dura e firme, ela sente um fisgar de dor momentâneo que deixou sua respiração tornar-se descompassada. O som do osso voltando ao seu lugar se fez presente, e a dor não durou nem dois minutos antes de Lizzie sentir um alívio quando viu que ele estava no seu devido lugar, e que agora, sentia apenas o local dolorido.
Voltando às duas mãos ao volante, ela direciona o carro que começava a se desviar do centro, para o meio da pista e acelera o automóvel.
A máquina estava no banco ao lado, e ela não via a hora de chegar e saber mais sobre as próximas vítimas. Infelizmente Elisabeth não tinha a mínima idéia de como mexer naquela coisa, por isso, deixaria essa tarefa nas mãos de Carnegie. Mas estaria por perto, para garantir que a russa não à enganasse.
Retirando aquela peruca e amassando-a entre as mãos, ela estaciona o carro sete quadras antes de chegar ao seu apartamento. Não seria bom se alguém reconhecesse o carro frente a sua casa, e Allan concordou em se desfazer do automóvel.
A rua estava escura a essa hora da manhã, apenas criminosos e bêbados perambulavam por alí. Segurou firmemente a maleta que continha o enigma e iniciou sua longa jornada até o apartamento. A sensação dolorida no ombro ainda a incomodava, mas ficava suportável a cada segundo que ela se aproximava de casa. O vento bagunçava-lhe os cabelos, sua testa estava suada e eles grudavam-se alí. Secando o suor no vestido sujo, ela lembra de sua visita a casa da senhora Kent, esquecera -se totalmente de visita-la. Os acontecimentos eram tantos que Lizzie temia que seu cérebro começasse a ter problemas em guardar a sua agenda. Mas por outro lado, se o enigma realmente tivesse alguma utilidade, não precisaria incomodar aquela familia.
Estacou frente ao prédio, sua janela era muito alta e a possibilidade de escalar foi rapidamente eliminada. Mas ainda assim precisava entrar, e com as portas fechadas, as coisas ficariam mais difíceis. Procurou por um grampo no seu cabelo, utilizara-os para esconder suas madeixas na peruca. Mas agora eles teriam uma utilidade bem maior.
Ignorando uma sensação ruim que parecia queimar nas suas costas, ela girou o grampo no interior da fechadura que, por sorte, era uma combinação simples e encontrou facilmente o mecanismo que deveria rodar. Com um click, a porta foi aberta, e sem tardar ela fechou-a atrás de si. Caminhou em passos rápidos e silenciosos até o seu andar, seguindo algumas luzes acesas e iluminavam o seu caminho.
Conforme o combinado, bateu três vezes na porta, e em seguida forçou a maçaneta. Ela estava aberta, mas junto com Carnegie, chegaram ao acordo de avisar quando chegasse, assim evitariam ataques repentinos ao "estranho invasor".
O cheiro forte de fumaça atingiu seu rosto, ela sabia que Rostöva estava muito perto, e que desobedecera suas ordens fumando no seu apartamento.
A luz foi acesa, revelando um Allan sonolento que segurava sua cabeça entre as mãos e apoiava os cotovelos na mesa do centro. E Black Rose, que assim como imaginara, estava ao seu lado. A russa correu até ela e tomou a maleta de suas mãos. Estranhamente, ela estava feliz por rever a sua máquina.
Abrindo-a, e depositando o enigma na mesa, ela digita uma letra, enquanto outra surgia no painel luminoso. A cada letra digitada, as engrenagens giravam impedindo que a mesma letra fosse reproduzida na sequência.

-O que está fazendo? - indaga Lizzie, retirando os saltos e se aproximando.

-Pedindo permissão para o reenvio da lista. - responde.

-E eles não sabem que é você? - indaga Allan.

-Não, essa máquina deveria estar destruída, mas digamos que eu a escondi. Não é sempre que se ganha um equipamento desses!

As teclas começaram a mover-se novamente, mas desta vez, nenhum dos três digitava. Alguém do outro lado estava respondendo. Anotando a mensagem no papel, Elisabeth constatou que ela estava sendo transmitida via código morse e que uma decodificação deveria ser realizada. Com o texto, Carnegie configura a máquina nos mesmos parâmetros, fazendo o processo inverso para ler a mensagem original.
Allan, apenas observava a euforia das duas mulheres em decodificar aquela mensagem enquanto ele tentava se manter desperto. Mas seu sono caiu por terra abaixo quando seus olhos fitam o papel à sua frente. Seu nome estava gravado naquela folha, e isso não era algo bom.

Agent BeckerOnde histórias criam vida. Descubra agora