Elisabeth estava tão nervosa quanto Allan aparentava estar. Agora não só teria de proteger uma criminosa, como também um duplo procurado. Escondendo esse terror nas profundezas do seu íntimo, ela procurou acalmar os pensamentos.
-Finalmente! Isso significa que riquinho: você já era. - debocha Black Rose.
-Isso não tem graça Carnegie. - reprova Elisabeth.
-Vou ser sequestrado? -choraminga ele.
-Não, você vai para um parquinho de prostituição. - debocha Carnegie. -Fica tranquilo, um hotel cinco estrelas te espera!
-Linguagem! E vê se cala essa boca! - murmura Allan.
A francesa revira os olhos. Ainda teria de aguentar aqueles dois.
-Isso não foi nada cavalheiro Sr. Matte. Não é assim que se trata uma dama. -debocha a russa.
-Você não é uma dama, "rosa mucha".
-Podem ficar quietos?! Vocês são péssimos na área do deboche! -suspira. - Amanhã mesmo mudaremos para um novo apartamento! - decide Becker. -Já escolheu um novo local, Carnegie?
-Sim, o mais seguro que encontrei...
-É muito longe? - questiona Allan, acalmando os ânimos.
-Não, é perto. Somos dois procurados, não podemos andar por aí sozinhos.
-Esta bem, amanhã enquanto estiver no trabalho, vocês farão a mudança! E ajude Allan com o disfarce, ele é horrível nisso!
-Odeio quando você incorpora o estilo mandona. -reclama Allan. - E... Aí.... Você deveria tomar banho!
-Palavras do seu amigo! se eu dissesse, diriam que é implicância!- murmura Carnegie, sem esconder o sarcasmo.
-Aconteceram alguns imprevistos... -fala Lizzie, explicando sua situação.
-E por que não se comunicou? Ficamos preocupados! - repreende.
-Fale por você. - murmura a russa.
-A porcaria do seu comunicador deixou de pegar assim que entrei naquele lugar!
-Ei! Não chame minha criação assim!
-E por que está assim? - indaga Carnegie.
-Benn, Campbell e Paine estavam lá.
-Eles te reconheceram?! - questiona preocupado.
-Não, bom... Acho que não. Mas somente Benn me viu.
-Você tem que tomar cuidado... Nada de ficar andado sozinha. - diz Matte.
-Eu sei me cuidar Allan.
-Esse é o problema. As vezes sua tendência kamikaze se sobressai.
-Já terminaram a discussão de casal? - indaga Carnegie. -Porque eu quero dormir! E para de querer defender a Becker, ela sabe se cuidar melhor do que você...nerd...
-Isso foi um elogio, ou uma espécie de defesa? -indaga Lizzie, sorrindo de lado.
-Isso foi um fato.
(...)
A base estava repleta de homens correndo para todos lados. O que levou Elisabeth a concluir que provavelmente Benn já espalhara a notícia de que vira a ruiva naquele estabelecimento.
Sua caricatura, que antes estava no auto da parede de procurados, agora estava nas mãos de Benn, que dentro da sala de reuniões gesticulava relatando sua quase ordem de prisão à ruiva. A francesa segurava a vontade de revisar os olhos diante de cada palavra proferida pelo Agente. Segundo ele, ambos estiveram cara a cara e que ela só escapou, porque ele não queria machucar uma mulher.-Ela carregava uma maleta de madeira nas mãos. - diz ele.
-Sabe o que era? - questiona um dos homens.
-Não, Paine e eu investigamos, mas o máximo que chegamos, foi que a mulher não foi vista entrando pela porta. - diz Campbell.
Pela cara de Peterson, o chefe já lançara uma reprimenda aos seus agentes por frequentarem um local tão ruim como um bar de criminosos. Por isso, a cada vez que Benn mencionava o nome Coatra, os músculos faciais do homem tencionavam em resposta.
A reunião serviu apenas para espalhar a notícia de que a ruiva fora vista, e reanimar os homens a procurá-la pela cidade. E, é claro, aumentar o ego do agente Benn.
Novamente na sala empoeirada do almoxarifado, ela procurava por novos arquivos, mas direcionando sua pesquisa ao nome dos navios registrados que passavam pelo porto. E aqueles que estiveram lá durante o tempo dos sequestros.
Analisou as informações com cuidado, tinha tempo para isso. Dois navios lhe chamaram a atenção, um seguia em direção ao próximo porto, e outro, transportava peixes para o porto da Califórnia. Mas havia algo estranho no segundo navio, pois pelos seus cálculos, assim que chegasse ao seu destino, os peixes já estariam estragados.
Procurou informações sobre os registros daquele lugar, e não se surpreendeu ao descobrir que nenhum navio de peixes ancorava na Califórnia, só em Oregon. Mas aquele navio, chamado Cold fishes, em específico não entrou nos limites de Oregon. Guardou a data da próxima visita do navio à Washington, prevista para daqui quatro dias no bolso, sabendo que precisava apenas da confirmação de Black Rose sobre o nome exato do navio.
Guardou os registros no seu devido lugar, e agradeceu mentalmente por eles estarem atualizados, Charlotte Asher fizera um bom serviço. Apesar de não se darem bem, ela tinha que admitir que a mulher era organizada.
Saiu do almoxarifado um pouco sorrateira, se fosse vista, teria de explicar sua presença num local não autorizado ao seu chefe. Entretanto, assim que deu alguns passos, cruzou e quase esbarrou no capitão Moore e sem conseguir esconder a surpresa por vê-lo, ela o cumprimentou com um aceno de cabeça, e seguiu o seu trajeto de volta a sua mesa.
Observou a figura do homem caminhando até a sala de Peterson, havia uma certa tensão no seu olhar. Ele carregava uma pasta negra nas mãos, e parecia ter apertado o conteúdo entre os dedos ainda mais forte quando à viu.
Seu telefone tocou, e ela automaticamente atendeu-o esperando que fosse o entregador na recepção do prédio, e que este trouxesse consigo o almoço do chefe, ou ela teria de ouvir mais uma vez suas reclamações.
Evidentemente não era o seu dia de sorte, do outro lado da linha, escutou uma voz já conhecida, mas que a um bom tempo não ouvia. Todavia, o tom grave do homem deixou claro que essa não era uma ligação de cortesia e que algo sério estava acontecendo.-Elisabeth?!
-Ela...?
-Preciso que tome cuidado. Não diga nada. Amanhã estarei aí.
Então a ligação foi cortada, mas ela continuou segurando o telefone de modo apreensivo. Porém, procurou disfarçar a preocupação e colocou-o sobre o guincho, analisando as pessoas ao seu redor e procurando saber se alguém a observava.
Elisabeth não teve disposição suficiente de encarar os olhos que a observavam. Ela sabia que ambos provinham da sala de Peterson e que se olhasse, estaria se entregando. Respirou fundo, e retirou o pedaço de papel do bolso, guardando-o dentro do sutiã por precaução. Tudo de modo lento e disfarçado. Becker sabia que a partir de agora seus movimentos teriam de ser calculados.
Ela pensou em fugir, mas sem levantar os olhos do relatório sobre a mesa, pode sentir olhares disfarçados de cada lado do salão. Além disso, se fugisse, estaria entregando Allan e Carnegie, e sabia que a confusão seria maior. Sabia também, que a russa cuidaria de Allan, e que nesse exato momento eles já não estavam mais na sua antiga residencia, isto é, a agência não conseguiria encontrá-los, já que o único endereço que tinham era aquele.
Sua única opção foi sustentar o olhar do capitão Moore e de seu chefe logo à frente. Ambos a encaravam como se ela fosse a pior espécie de criminosa.
Olhou ao redor, só então percebendo que ficara tão distraida com seus pensamentos que não percebera que a maioria dos agentes já tinham saído da base. Mas seja lá o que aqueles homens tinham descoberto, ela estava em apuros.

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Agent Becker
ActionElisabeth, uma moça independente numa época totalmente machista que luta pelo reconhecimento do seu valor dentro de uma das mais secretas organizações do governo, a OSCU. Afastada da família após fugir aos Estados Unidos em busca da liberdade, aos p...