Capítulo 18

891 118 20
                                    

Para Elisabeth, ficar sem comer durante algumas horas não lhe causava um pingo de medo. Foram muitas as missões em que comer se tornou algo superfulo, e seu corpo aprendeu que em determinados momentos era necessário poupar energia se quisesse continuar em pé. Sua real preocupação estava em Allan e Carnegie, estes não sabiam nada sobre o que acontecia, e nesse exato momento provavelmente pensavam que o pior acontecera. Isso se ambos não estivessem ocupados demais discutindo!
Foi então, que lembrou das escutas espalhadas pela base. Recordou também que a maioria delas se encontravam, principalmente na sala de interrogatórios.

-Está tudo bem, a ajuda já está vindo. Tudo sobre o controle. - murmura, sabendo que eles estavam ouvindo.

O som da maçaneta atrai sua atenção, e ela revira os olhos ao ver quem entrava.

-Confortável? - debocha Benn.

Na verdade não, aquela cadeira de ferro começava a machucar seu bumbum e as algemas impossibilitavam qualquer tentativa de aumentar seu conforto, demonstrando que perdera um pouco da resistência. Ele mantinha o mesmo sorriso debochado de quando entrara, sabendo que isso irritava Elisabeth, e tentou iniciar um diálogo.

-Sabe que você foi esperta? Tenho que admitir. Esse tempo todo na nossa frente, coletando informações e se escondendo como um rato. Isso foi o que? Vingança? Vingança por ser apenas uma secretária? Ou apenas nos considerou tão estúpidos a ponto de sermos enganados?

Lizzie deu um sorriso, quase imperceptível, deixando claro que escolhia a última opção. O que irritou ainda mais o Agente.
Foi somente então, que ela percebeu que a pior parte não era ficar sem comer, mas sim estar no mesmo ambiente do que Benn.

-Sempre soube que mulheres não serviam para estar aqui, não sei nem como você entrou! Eu vejo o que faz... tenta provar a todo mundo que não é apenas um rostinho bonito, a pergunta é: por que ainda insiste?

Lizzie revira os olhos.

-Cala essa boca. - murmura cansada.

-Sua cara está péssima. -diz, enquanto observa Lizzie se acomodar melhor na cadeira.

-Obrigada, Benn, sua sinceridade animou o meu dia.

Becker tentava a todo custo controlar sua língua. Ela sabia o que ele estava fazendo, já passara por isso muitas vezes. Queria lhe dizer tudo o que fazia ali e tudo fez sobre o seu nariz, entretanto, seria imprudente não esperar pela ajuda.
Desviou seu olhar até o vidro espelhado, sabendo que outras pessoas observavam a tentativa de interrogação do outro lado. Mas seus pensamentos não estavam naqueles homens, muito menos na ajuda que demorava em chegar. Ela pensava no rumo que as coisas tomariam, a amizade de Campbell não era tão ruim assim, ele a fazia rir em alguns momentos e sempre se propunha a ajudá-la com o serviço extra.
As palavras de Benn passavam desapercebidas por Lizzie, tanto, que o próprio agente começava a perder a linha. Ele odiava interrogar por meio de um diálogo, seu método sempre fora o mais violento. O próprio criminoso escolhia se queria abrir a boca para dizer a verdade, ou para cuspir sangue.
Campbell observava tudo do outro lado, na saleta contígua. Seu aprecio por Elisabeth já não era mais o mesmo, e apensar de que a um bom tempo pensava em elevar aquela amizade a um outro patamar, e passar a corteja-la. Ele se arrependia por siquer pensar na hipótese ao constatar que estaria cortejando uma criminosa.
Ao meio dia do dia seguinte, Elisabeth ainda permanecia desperta. Não pregou o olho durante toda a noite e manteve sua língua, e estômago controlados. Batucava as unhas na mesa de ferro, procurando se distrair e provocando um som irritante aos ouvidos de Benn. Provavelmente algumas delas estariam quebradas, pois já faziam horas que repetia com cincronia os mesmos movimentos, tudo com o intuito de irrita-lo. E sabendo disso, Benn saira três vezes durante aquele período, com a desculpa de precisar usar o banheiro para se livrar da dor de cabeça que era aquela mulher.
Já passavam das duas horas da tarde quando Peterson ordenou que Becker fosse solta e levada até as coordenadas deixadas com Campbell. Ele ainda não entendia o motivo, mas decidiu cumprir o que lhe foi dito, a voz do chefe pelo telefone parecia tensa e ele não queria contraria-lo com perguntas.
Seguiu até a sala de interrogatórios, com as chaves das algemas nas mãos, e fechou a porta atrás de si.

-Você está livre. - diz, procurando no rosto dela, qualquer expressão que delatasse o que significava tudo aquilo.

Lizzie massageia os pulsos, marcados pelas algemas, e penteia o cabelo com os dedos. Ela sabia que finalmente sua ajuda chegara, e não teria tempo de tomar um banho, por isso, o jeito era tornar-se o mais apresentável possível. Benn observava os movimentos da Agente, seu rosto era indecifrável e apesar de tudo o que passou, ela não parecia abalada.
Depositou sobre a mesa as armas de Elisabeth. Aquela mulher era um perigo, eram incontáveis o número de facas e arma encontrados por Charlotte naquele corpo. Ela o encara, franzindo a testa e pedindo que ele se virasse. Benn entende o recado, e permanece de costas para que Becker introduza as armas no seu devido lugar. Pelo olhar do agente, soube que nenhum outro homem ocupava a saleta separada pelo espelho.
Chamou-lhe a atenção assim que terminou o que fazia. Precisavam ir.
Lizzie não sabia ao certo para onde Benn a levava, mas a devolução das armas comprovou que ela já não estava mais em perigo e que não contonuaria sendo prisioneira. Endireitando a coluna assim que saíram do prédio, ambos encontram Campbell sentado dentro do carro, com aparente mal humor estampado no rosto. O agente não fez questão alguma de encara-la, ou ao menos lhe dirigir a palavra, apenas manteve o foco no trânsito.

-Não acha que nós deveríamos saber o que está acontecendo? - questiona Benn.

-Você tem o número do Peterson, não é?

O homem bufa, odiando o fato de depender de Becker para obter respostas. O chefe deveria ter lhe dado mais informações, assim não precisaria sondar aquela mulher.
O carro descrevera a última curva, quando Campbell o encostara na primeira vaga à disposição, e viu a francesa analisar o prédio ao lado, que pelas estruturas provavelmente pertencia ao governo Americano. Ela sabia que agora tudo se esclareceria.
Saiu do carro às pressas, para alcançar os dois homens que já atravessavam a portaria do prédio. A moça que cuidava da liberação de entrada e saída já anunciava sua chegada pelo telefone. Em seguida, uma outra mulher guiaram-nos até uma sala, que para Elisabeth se assemelhava a uma biblioteca.
Ela não era totalmente apaixonada por livros, mas mesmo assim não pode esconder o fascínio e ver tantos livros em um só local.
No centro, Peterson e a famosa "ajuda" conversavam, ambos com os dois olhos cravados no agentes que se aproximavam.

-General Clarke. - cumprimenta ela, com um breve aceno de cabeça.

Agent BeckerOnde histórias criam vida. Descubra agora