Elisabeth sentiu seu estômago revirar pela décima vez naquele dia. Seu corpo estava cansado e graças aos enjôos contínuos, não dormiu nada naquela noite. Não havia um local específico para dormir, todos dormiam juntos, amassados, ou até mesmo sentados.
Ela não viu exatamente quando Allan chegou, e muito menos onde foi colocado. Estava em meio a muitos homens, e o cuidado com a sua identidade deveria ser redobrado.
Apoiada na lateral do navio, Lizzie controla a vontade de vomitar e analisa o comportamento de cada homem.-Você aí!
Ela fitou a pessoa que lhe chamou a atenção. Era o capitão do navio, estava lá em cima guiando a embarcação através do timão. Ele a encarou dos pés a cabeça assim que se aproximou.
-Qual o seu nome? - indaga.
Elisabeth, demorou um pouco para responder, tomando o tom de uma voz grossa.
-Phill, senhor.
-Phill, pegue um barril de cerveja e traga até aqui, e depois chame Justine para limpar a bagunça que aqueles dois fizeram na proa!
-Sim senhor.
Obedecendo as ordens do homem, ela desceu até o subnivel e caminhou apoiada nas paredes para não cair. Lá em baixo a movimentação do navio era ainda maior. Procurou no final do compartimento, onde no dia anterior viu alguns marinheiros rolarem barris até lá. Era uma sala ampla, com odor à húmus e estalos provenientes a do metal que se repetiam a cada segundo. Os barris estavam organizados em linha reta, uns sobre os outros e amarrados por cordas, para que não se deslocassem.
Elisabeth tentou diferenciar cada barril, mas todos eram iguais. Pensou que talvez os barris de cerveja fossem guardados em outro lugar e que não estivessem lá. Andou mais um pouco naquele labirinto de peixes, foi quando avistou uma porta a sua direita, cercada por tantos barris, que era quase impossível vê-la desde a entrada da sala. Forçou a maçaneta, mas estava trancada.
Elisabeth constatou que com certeza Allan estaria ali, era um local escondido, de difícil acesso e além disso, trancado. Caminhou mais um pouco entre os barris, planejando voltar mais tarde para conferir o conteúdo daquela sala, e examinou cada barril. Sorriu satisfeita, havia encontrado, viu entre eles buracos tampados por rolhas.
Tombou-o no assoalho de madeira e saiu empurrando-o até a parte superior do navio. Quando chegou, o capitão já estava impaciente com a demora, e por sorte, a dispensou em seguida para procurar a tal Justine. Ela desceu mais uma vez até o andar de baixo imaginando que talvez a mulher estivesse dormindo.
Mas não, suas hipóteses estavam erradas, o lugar estava vazio. Suspirou cansada e segurou o estômago com força, a vontade de eliminar tudo o que tinha nele aumentava à cada segundo. Ainda por cima, o cheiro de suas roupas não ajudavam muito. Anotou mentalmente que dali em diante, "emprestaria" apenas roupas cheirosas. Até porquê, naquele navio não parecia haver um local para se tomar banho.
Entrou em uma das tantas cabines da embarcação, seguindo as vozes femininas. Era uma cozinha, e sua presença ali chamava a atenção. Sem saber ao certo quem era Justine, disse em voz alta o que o capitão desejava, e esperou que a primeira mulher se manifestasse. Uma morena baixinha e de cabelos enrolados ergueu as mãos, aparecendo entre as mulheres com o balde e o esfregão firme, rente ao corpo.
Pelo olhar de cada uma presente, elas pareciam assustadas com a presença de um homem naquela sala. O que fez com que Elisabeth pensasse que talvez, elas não fossem bem tratadas pelos marinheiros, ou até mesmo... Bom... Ela nem queria pensar nisso.
Olhou para o fim do corredor, avistando a entrada da sala onde guardavam os peixes, e também onde encontrou aquela misteriosa porta. Ela estava em dúvida se deveria ou não investigar naquele horário, já que por mais que a montanha de barris a protegesse de ser vista, ainda havia uma grande chance de ser pega e jogada ao mar. Além disso, mesmo se conseguisse abrir a porta e entrar, não teria como tranca-la novamente, e isso levantaria suspeitas.
De qualquer forma, ela precisava falar com Allan, ou pelo menos saber onde ele estava. Quando o navio ancorasse, precisaria seguir o sequestrador, e sem saber exatamente onde seu amigo está, teria dificuldades em segui-lo.
Subiu até a proa do navio, para respirar um pouco da brisa que soprava naquela tarde. Já fazia tempo que não viajava de barco. A última vez que o fizera, estava acompanhada do pai e da irmã. Mas aquele navio era muito diferente deste, não era uma embarcação comercial. Era um encontro entre militares e seus familiares, algo somente para a elite da época. O que já deixa claro que tudo era de extrema chatice.
Elisabeth saltou para lado, assim que sentiu a água invadir-lhe os sapatos. Olho para a sua lateral, e aquela mesma moça, Justine, a olhava aterrorizada. A jovem levantou, segurando o esfregão com força na mão esquerda, tentando não tremer e se preparar para que viria em seguida.

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Agent Becker
ActionElisabeth, uma moça independente numa época totalmente machista que luta pelo reconhecimento do seu valor dentro de uma das mais secretas organizações do governo, a OSCU. Afastada da família após fugir aos Estados Unidos em busca da liberdade, aos p...