Capítulo 10

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Desde o momento em que a cidade acordara, o assunto não fora outro. Mais um sequestro.
Entretanto esse último casou uma algazarra bem maior, porque desta vez não fora um cientista, mas sim um militar.
Ela conhecera o soldado Kent durante o seu período no exército. Era um ótimo moço, respeitável e de família. Amava muito sua mulher e planejava casar-se assim que o fim da guerra fosse anunciado. Infelizmente Elisabeth não pode comparecer à cerimônia, mas os visitará um dia depois para desejar felicidades. Ela não conseguia imaginar a tristeza de Cássia, mulher do desaparecido, ao receber tal notícia.
Mais uma vez a informação do sumiço foi vazada, e nas Gôndolas não se falavam em outra coisa.
A rua estava movimentada e, em todos os cantos, ouvia-se murmúrios sobre o soldado Kent. As pessoas pareciam temer por suas vidas.
Hoje era sábado, e a jornada de trabalho seria bem menor do que a de costume. Ela estaria ocupada somente até a horário de almoço, aí então poderia se dedicar à outras coisas. Nessa manhã Allan também deixou o prédio para visitar algumas opções de um novo lar. Já fazia algum tempo que Elisabeth andara coletando informações com alguns conhecidos, buscando o melhor local para esconder o cientista. Ela planejava acompanhá-lo, porém, os recentes acontecimentos a impediram, e teria de cumprir algumas horas extras que Peterson lhe encarregara
Depois de garantir sua edição do jornal do dia, ela dobra a esquina, entrando no correio. Já estava atrasada, mas sabia que provavelmente ninguém teria se dado conta do seu atraso.
Aparentemente o correio era como qualquer outro. O grande segredo daquele local estava na porta dos fundos, onde um elevador dava acesso aos dois últimos andares. Os quais eram reservados para a sede da OSCU.
O local estava vazio, poucas pessoas ocupavam suas mesas. Foi então que ela soube o motivo da falta de circulação pelos corredores. Através do vidro, pode ver o tumulto de homens na sala de reuniões.
Entrara sem chamar a atenção, ocupando o único lugar que sobrou, ao lado de Campbell. Ele sorriu em silêncio, cumprimentando a colega.
Peterson e Benn estavam em pé, relatando a visita frustada a casa de Cássia Kent. Ao que tudo indica, a moça não quis colaborar com seu depoimento.
Elisabeth sabia que ela a receberia, mas mesmo assim visitar Cassia apenas para obter informações não lhe parecia agradável, então descidiu esperar por mais um tempo, até que o luto e dor da perca do marido diminuisse.
Voltou sua atenção ao chefe, que repetia várias vezes os próximos passos a serem tomados para Paine, que parecia não entender metade das palavras ditas pelo tio. O fato era que ele estava encarregando os sobrinho de repassar as instruções para os demais agentes de que todos passariam por exames físicos exigidos pelo próprio general.
Entretanto, esses exames seriam separados, ja que enquanto alguns agentes fariam o teste em um campo reservado, outros continuariam na procura de pistas. Segundo Peterson, os testes seriam feitos para o remanejamento de agentes da OSCU, os que passassem, ficariam, os que não, seriam levados a outra organização.
Do outro lado da sala, Benn sorri convencido, lançando um olhar desafiador na direção da agente. Ele duvidava que Becker conseguisse permanecer naquele local por muito tempo. Elisabeth franziu a testa, não pela provocação do colega, mas sim por não entender exatamente o motivo do General Clarke pedir essa espécie de exame justamente agora. Por que remanejar agentes?

-Já tem com quem ir? - cochicha Campbell.

-Na verdade não, estava pensando em pegar um táxi.

-Se quiser, será bem vinda como minha passageira, garanto que minha habilitação não é comprada. -diz, tentando fazer uma espécie de piada, apesar de já ter provado ser péssimo nisso.

-Bem, se não for incômodo, eu aceito.

-Sem incômodo algum.

A reunião foi encerrada, mas ainda faltava um tempo saírem, tempo suficiente para que sua cabeça continuasse levantando questionamentos acerca dos testes, afinal, o país estava passando por um momento difícil, e desviar a atenção dos agentes com exames não era uma decisão muito sábia.
Obviamente o General Clarke sabia que ela passaria nos testes. Afinal ele mesmo a treinara, e necessitava que ela permanecesse na equipe para as investigações.
Seguira o conselho de Campbell, e retirou-se alguns minutos mais cedo do trabalho para vestir-se de forma adequada. Aquele vestido negro que trajava, dificultaria os exercícios. E não só ela, mas todos os agentes foram liberados para que fazerem o mesmo.
Allan ainda não estava em casa quando chegara, por isso deixou um bilhete dizendo que se atrasaria, e que não a esperasse para almoçar.
Já a caminho do campo de treinamento, Lizzie observava Campbell. Ele estava concentrado na direção do carro, mas ainda assim procurava puxar assunto com a colega, diminuindo o silêncio entre os dois.

-Vi nos relatórios que o caso não tem avançado muito. - diz.

-Sim, Peterson está furioso. Todos os dias o general e o capitão ligam para saber das novidades. Como acha que serão os testes? - indaga, mudando o rumo da conversa, e demonstrando que não queria falar daquele assunto.

-Não sei, talvez de resistência e habilidade. -Responde.

-Tem saído muito? - questiona.

Ela franze a testa, tentando adivinhar o motivo das repentinas mudanças de assunto.

-Não muito, como disse, tenho uma vizinha teníase.

-Minha mãe também é teníase, ela era enfermeira, mas teve que se afastar por conta da tuberculose.

-Ela mora com você?

-Não, mas eu a visito todos os dias. Meu pai morreu a alguns anos, e ela não quis se desfazer da casa que viviam juntos. No início até insisti, mas depois percebi que para ela, era importante manter aquela lembrança. E você? tem pais?

-Bom, acho que todos nós temos. - diz, vendo-o rir diante da afirmação.

-Eles vivem aqui?

-Na verdade eles morreram. - fala ela, lembrando-se da história que Clarke criara. -Fui criada por minha tia, Morgana.

-Ah, me desculpe...

-Sem problemas, já faz muito tempo.

-Você sente falta deles?

Ela demora um pouco para pensar, e responde quase que involuntariamente de forma sincera.

-Sim.

-Chegamos...




Agent BeckerOnde histórias criam vida. Descubra agora