Allan ouviu o som de mais um baque, e fechou os olhos para não ver a pancada. Carnegie e Elisabeth estavam lutando.
A russa se ofereceu para demonstrar ao cientista como é uma verdadeira luta. E desde então, a disputa estava mais acirrada do que nunca.
Elisabeth deu um pequeno sorriso quase imperceptível, e não atacou Röstova enquanto ainda estava no chão, mas se afastou para que ela pudesse levantar.
Carnegie não se machucou, mas suspirou e levantou de novo. E quando ela se ergueu teve que colocar os braços cruzados na frente do rosto para se defender das sequências de chutes de Lizzie, que só parou quando viu a russa bater as costas nas cordas do ringue. Black Rose colocou as mãos nas cordas para não cair de novo, e quando o fez, Elisabeth deu um soco no seu rosto. E não foi fraco.-Vai chorar? -provoca, vendo a russa torcer levente o nariz por causa da dor.
-Há! Hilário!
-Escuta... quando a lutar vai começar?- ironiza.
-Deu por hoje senhoritas. - murmura Allan, tentando evitar uma briga séria entre as duas.
Carnegie se recompõe, incomodada por ter perdido. As coisas não ficariam assim, algum dia ela teria a sua revanche, e ai sim estaria concentrada. Elisabeth ergueu as cordas que rodeavam o ringue para que Allan entrasse. O cientista se posicionou, desajeitado, tentando imitar o que vira Black Rose fazendo alguns segundo antes.
-Firme os pés. Base forte significa soco mais forte. Para defesa pessoal, recomendo que use o peso do seu oponente contra ele mesmo, ideal para pessoas pequenas.
-Não sou pequeno.
-Eu sei, mas é um ótimo estilo para iniciantes. Mantenha os pés um pouco separados e as mãos rente ao rosto, em forma de proteção. É como um conjunto, juntos, formam um triângulo.
Ele posicionou os pés e as mãos da maneira que Elisabeth lhe ensinava. Allan não demorou muito para compreender alguns movimentos e realizá-los. Mas ainda precisava de muito treino até que realmente ficasse perfeito. Enquanto isso, Rostova apenas analisava ambos sentada próxima às cordas do ringue, a fala de Allan sobre Becker atiçou os seus sentidos. Queria saber exatamente o que aquela mulher escondia, mas sabia que ela era esperta o suficiente para evitar que isso acontecesse.
Eles lutaram mais de duas horas, e só pararam quando Matte reclamou de dores no corpo, pedindo um tempo para descansar. Pelo horário, Lizzie decidiu deixar os treinos para outro dia. Não poderia exigir muito de Allan, já que ele não estava àbituado à prática de exercícios.
A volta pra casa foi tranquila, o taxista não fez tantas perguntas quanto o primeiro, provavelmente por causa do cansaço. Assim que chegaram, Allan voltou aos seus equipamentos para tentar melhorar e replicar os comunicadores. Enquanto Carnegie, ouvia rádio e fumava cerca da janela. Aquele foi o acordo entre as duas, se a russa realmente desejasse fumar, deveria ficar colada na janela.
Elisabeth trocou de roupa e antes de sair, avisou ao amigo que compraria Baguetes para o café da manhã na padaria mais próxima. Ela ainda não sabia nada sobre as lojas que cercavam a região onde morava, por isso, demorou algum tempo para achar uma padaria, tudo graças a uma senhora que descidiu ajudá-la.
Entrou no estabelecimento, ouvindo o sino sobre a porta que anunciava sua chegada. Devido ao horário, várias pessoas formavam filas para comprar pães. Ela bufou frustada, ficaria o resto da tarde esperando, e no final, talvez não houvesse mais baguete.
Sentou em uma das mesas vagas, esperando que o movimento diminuísse. Foi quando viu do outro lado do balcão, Jane, que servia aos clientes com um sorriso no rosto, lançando um ainda maior para amiga, assim que a viu. Lizzie não sabia ao certo se retribuía ao aceno, ou se fingia não tê-la visto. Ela sabia que provavelmente Jane lhe perguntaria sobre o seu repentino sumiço, afinal ela se mudou sem ao menos dizer adeus a garota. Seu desespero foi ainda maior quando a jovem se aproximou da sua mesa.-Elisabeth, que saudades! Por onde andou mulher?! De um dia pro outro você sumiu!
-Pois é, me mudei, precisava cuidar da minha prima. Ela mora aqui perto, tadinha, tão jovem e já teníase.
-Sério? Que pena... Minha tia também sofria dessa doença... É muito triste.
-Você trabalha aqui? - indaga, fingindo não saber o óbvio.
-Sim, a pouco tempo, antes trabalhava como secretária. Mas digamos que o meu chefe tinha as mãos... Bem, um pouco bobas...
-Você não o denunciou?
-Até tentei, mas as autoridades não fizeram nada... Aquele homem é um caso perdido... Além disso, o velhote se negou a dar uma carta de recomendação, por isso, o máximo que consegui foi esse emprego.
-Garanto que com o tempo você vai conseguir algo melhor Jane. Só tem experiência em secretariado?
-Sim, foi somente nesse ramo que meus pais permitiram. Eles disseram qualquer outro trabalho não garante um bom casamento. Segundo eles, as secretárias costumam casar com os chefes.
Lizzie franze a testa, aquilo era um absurdo.
-Me desculpe Jane, mas como você aguenta?
Ela da de ombros.
-Não quero ser deserdada. São nessas horas que eu te invejo!
-Inveja?
-Sim, você não tem família, por isso é livre para escolher o que bem quiser.
-Não é bem assim... Tenho minha tia Morgana. Mas ela nunca ligou muito pra essas coisas. -mente.
-É disso que estou falando! Às vezes me sinto a pior pessoa do mundo por pensar desse modo!
-Srt. Scott! - grita alguém, em meio a movimentação de pessoas.
-Tenho que trabalhar! Ou corro o risco de perder esse emprego também. - sorri. - Ah, quase esqueci, tem algum pedido?
-Na verdade não, só estou esperando a fila diminuir, ainda tenho esperanças de sair com pelo menos um baguete.
-Que não seja por isso, trago três agora mesmo, estão quentinhos!
-Jane! Seu chefe vai te matar se te ver furando a fila pra mim!
-Pode deixar, esse sim é uma boa pessoa. Ele só não gosta de moleza. Espere aqui que já volto!
*

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Agent Becker
ActionElisabeth, uma moça independente numa época totalmente machista que luta pelo reconhecimento do seu valor dentro de uma das mais secretas organizações do governo, a OSCU. Afastada da família após fugir aos Estados Unidos em busca da liberdade, aos p...