Capítulo 1

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Camila

Todos nós achamos que vamos dormir e acordar, começar com a rotina doméstica e depois ir para o trabalho, voltar para casa e esperar pelo marido. Achei que minha vida seria igual a qualquer garota normal no mundo. Mas eu tinha que ter escolhido logo viver uma vida de merda que levei. Jorge foi um calhorda comigo durante dois anos. Me agredia, me xingava, não aceitava contratar empregados e ainda sabia enganar a todos que éramos um casal feliz. Tenho apenas 23 anos, casei quando tinha dezoito por uma dívida que meu pai tinha feito e como sua empresa entrou em falência, eu fui o preço a ser quitado.

Jorge era até amável no começo, cogitei até me apaixonar, apesar de ele ter 39 anos. Mas eu não tinha noção do que um ano depois aquele verme se tornaria. Eu vivia em pânico até para ir ao mercado, o pânico era tangível que qualquer pessoa que olhasse para mim, eu sentia que ela iria me fazer algum mal. Mas era só psicose, eu ia a psicólogos escondida de Jorge, para aliviar este meu tormento e tomava calmantes para dormir tranquila, não no dia em que Jorge queria seu momento de amor.

Era mais um tormento.

Mas eu tenho a agradecer ao meu pai, pois ele me vendeu para quitar uma aposta que ele não podia pagar. Depois disso foi proibida de vê-los, ver meus amigos, ir a lugares que costumava ir, tudo. Para ficar trancafiada num triplex na Barra da Tijuca. Então, seu vício o levou à morte que é um mistério sem solução. A culpa caiu diretamente a mim.

Minha relação com família de Jorge? Não era uma das melhores. Seu pai havia falecido por doença quando ele era adolescente. Sua mãe, Bertha Santiago, era o diabo em pessoa. Desde que a conheci ela me julgava que não seria uma boa esposa e que eu seria a ruína da família, Jorge até me defendia neste aspecto, mas sempre ao chegar em casa eu apanhava por isso. Eu tomei horror ao entrar na casa de Bertha quando havia almoço em família.

Bertha ao saber da morte do filho, foi a primeira a me acusar. Dizia que eu tinha motivos suficientes para mandar matá-lo, porque eu arruinei sua família, todos a via como uma evangélica maluca, mas era a mãe de Jorge. Ele tinha mais dois irmãos que moravam no exterior que sempre me alertaram de certa forma. Jorge era o mais novo da família Santiago, e também endiabrado.

Estou com medo do que possa me acontecer, meu advogado está recorrendo à várias soluções, mas parece que minha causa já foi denunciada e aquilo me deixava mais louca ainda, pensava em acabar com minha própria vida. Eu estou tão perturbada, tentando imaginar como havia sido a morte deste crápula, se havia sentido dor ou não, se morreu lentamente ou rapidamente. Ao mesmo que me sentia aliviada por não ver aquela porta do triplex abrir, estava nervosa e com medo.

O telefone toca incessantemente tirando-me de meus pensamentos e me arrasto até a pequena mesa perto do sofá. Me sento e tiro-o do gancho levando-o ao ouvido.

- Alô? - minha voz sai arrastada.

- Filha, como você está? - pergunta uma voz triste, é minha mãe.

- Estou com medo, mãe. Acho que não vai ter jeito, eu vou ser condenada.

- Não pense assim, vai dar tudo certo...

Suspiro fundo e lágrimas se crescem em meus olhos, fungo.

- Mãe, eu quero muito desaparecer!

- Não diga isso, você tem a gente, vai dar tudo certo. Quer que eu vá aí?

- Não, quero que a senhora fique aí, está tudo bem. Tenho que desligar.

- Oh filha, estou tão preocupada com você...

- Não fique, eu te amo muito, mamãe.

- Te amo também, minha filha.

Desligo o telefone hesitante e me debullho em lágrimas.

******

Mais tarde, deitada em minha cama encolhida, ouço a campainha tocar irritantemente. Aquilo me deixa furiosa, me levanto e coloco as pantufas preguiçosamente e me arrasto bem lentamente até a porta. Minha camisola de seda pura estava amassada pelo modo como estava deitada na cama.

Levo uns seis minutos para chegar a porta, a campainha tocava sem intervalos. Olho pelo olho pelo Olho-Magico, vejo uma figura loura do outro lado da porta e suspiro. Era Laura, minha melhor amiga de infância. Desde que Jorge morreu, ela tem sido um grande alívio, posso contar com ela para tudo. Porque ela sabe o que me dizer o que preciso ouvir, a saudade era muito grande.

Abro a porta e vejo a loira me olhar com a ternura que seus olhos azuis tem, e seu sorriso que me trazia tanta segurança. Não me seguro e a abraço forte.

- Vamos entrar! - diz ela.

Ela entra em casa e fecho a porta.

- Menina, está uma escuridão aqui!

- Prefiro assim, já que em algum tempo vai ser pior, só estou tentando me acostumar.

- Você está sendo muito negativa. A polícia está investigando, isso não quer dizer que vá presa...

- O caso vai a júri, segundo Manuel, meu advogado.

- Seu advogado não sabe de nada.

Ela se senta pesadamente no sofá e me olha profundamente.

- Pare de se culpar, vão descobrir a verdade.

- Duvido, dona Bertha...

- Essa mulher é maluca, duvido que alguém dê ouvidos a ela.

Me sento ao lado de Laura e olho para um ponto vazio da parede.

- Enfim, vim te chamar para uma noitada hoje, está na hora de você se divertir um pouco! - exclama ela.

Mas eu não tinha vontade de sair e nem estava animada e se alguém da família de Jorge me visse e alegassem que eu estava me divertindo? Que merda isso não ia dar?

-Não vou...

- Ah, você vai! - ela se levanta e tira algo de uma bolsa escura, que eu não havia percebido. - Pode tomar um lindo banho e vestir isso, esquece Jorge por algumas horas!

- Laura...

- Não estou pedindo, estou mandando.

Promotor Sedutor - Livro 3 - Trilogia FarcolandOnde histórias criam vida. Descubra agora