Capítulo 55

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Henrique

Eu não entendo porque coisas ruins costumam acontecer. Eu nunca me permiti chorar desde a época de Mariana, mas agora depois de tudo as lágrimas caíam sem qualquer objeção. Havia uma semana que eu não saía mais do quarto, minha mãe sempre deixou uma bandeja de comida na pequena cômoda, mas sempre que voltava a comida estava intacta. Eu não sentia fome, André investigava mais a fundo o esquema de Romário, pois desconfiava que ele mandou matá-lo.

Se tinha algo errado nisso tudo, sim, tinha. Mas como provaria? Minha mãe entrou delicadamente no quarto usando um vestido confortável dois centímetros abaixo do joelho bege, seus olhos brilhavam e uma preocupação estampando seu lindo rosto. Ela sentou-se ao meu lado e limpou minhas lágrimas, manteve um sorriso débil no rosto e beijou minha face.

– Querido, vai ficar tudo bem. – diz ela, tentando me consolar.

– Como? Ela está enjaulada por minha culpa! – rebato.

– Você não teve culpa, meu bem – afirma ela alisando meus cabelos. – não faça isso consigo mesmo...

– Eu sou um monstro desprezível!

– Pare com isso, Henrique! – pede minha mãe. – Eu sei o quanto dói, mas não se castigue assim.

– Por que não? Eu estava lá, vi ela ser algemada, mãe! Ser levada como um cachorro! – minha voz sai arrastada.

– Por que não vai visita-la? Acho que da mesma forma como sente falta dela, ela sente a sua.

– Com que coragem farei isso?

– Com a coragem que eu sei que Henrique Monteiro Facoland tem!

Me calo.

– Querido ficar sofrendo e fazendo greve de fome não resolverá nada.

– O que eu faço?

– Tome atitude, Henrique.

Ela se levanta e beija minha testa de forma carinhosa e volta para a sala. Eu me levanto e caminho até a janela. A chuva caía graciosamente sobre o jardim, o cheiro de grama molhada preenchia minha narina. Meu pensamento girava em torno de Camila. Marcelo disse que Laura estava triste pela notícia sobre a melhor amiga.

Me lembro do grito estridente da senhora que chorava muito no tribunal, suponho que era a mãe de Camila. Quando as algemas abraçaram seus pulsos, meu coração dobrou-se e se contorceu de dor, pude sentir na pele o que a dor de um amor pode fazer, parecia uma adaga em brasa perfurando o único orgão que batia me mantendo vivo. Tive de ver aquela cena calado e sob o olhar impassível de João Miguel. Não foi fácil e nunca será. Meu coração pertencia a Camila e seria única coisa que não respeitaria no pedido dela; viver um outro amor. O que ela me pediu não havia cabimento, como eu me apaixonaria de novo?

Nada mais seria como antes, eu não sentia vontade mais de sair à noite, encher a cara e pegar meninas variadas que fosse de meu gosto. Estava amargurado e ocupado em sentir culpa, uma culpa desesperadora, intensa e mais intensa de todas.

Gabriel surge em meu quarto e o olho, atrás dele vem André com seu impecável cabelo bagunçado. Laila surge também e sorrio.

– Gabriel e André – chama Laila e os dois a olham. – deixem que eu falo com ele.

– Tudo bem. – diz André.

Os dois saem nos deixando sozinhos, Laila desde que entrou para nossa família, se tornou muito querida, principalmente para mim. Ela é uma mulher incrível em seus 27 anos. Tudo que vinha dela, me agradava, mas hoje não sei se eu estava apto a ouvir o que ela tinha a dizer.

Eu só queria ficar sozinho, mergulhando na minha culpa e na tristeza. Laila me abraçou e retribui, mais lágrimas surgiram em meu rosto, não conseguia contê-los.

– Henrique...

– Não precisa, Laila. Eu sei tudo o que vai falar.

– Eu só ia dizer para você resolver essa situação.

– Não há como!

– Há sim. Precisa ir vê-la, sabe que tem.

– Não tenho cora...

Laila me soltou e me olhou furiosa.

– Olhe aqui, eu já cansei de ouvir vocês dizerem que não podem ou que não conseguem! Vocês se acovardam quando podem ir lá resolver o problema. Mas preferem ficar absortos de culpa, mergulhados na tristeza, eu não entendo isso!

Fico calado e arqueio uma sobrancelha.

– Não sabia que eram tão fracos ao se permitirem ficar...assim – ela aponta para meu estado.

– Não posso ir lá e fingir que nada aconteceu ou que não fui culpado.

– Foi você que bateu o martelo?

– Não, mas ofereci a porra da denúncia!

– Henrique se não quer perdê-la para sempre, lute por ela, amanhã pode ser tarde demais.

– Laila...

– Você vai parar de bancar um adolescente que acabou de levar um fora da garota mais bonita do colégio e vai sentar naquela mesa com sua família e comer alguma coisa antes de visitar a menina.

Começo a rir.

– Não vejo graça nenhuma, vou contar até três.

– Já vou, mamãe.

– Você está agindo como uma criança, então lhe trato como tal.

Ela deixa meu quarto e suas palavras me intimidam. Eu estava sendo um covarde, me escondendo da realidade. Deixei Camila sozinha nessa, como pude ser tão egoísta? Desço para a sala de jantar e todos me olham.

– Parece que estão vendo, Martin Luther King. – ironizo.

– Tecnicamente estamos vendo uma lenda novamente. – brinca Gabriel.

– Vai se fuder!

– Olha a boca menino! – repreende minha mãe. – Vou preparar seu prato.

Me sento ao lado de André olhando sempre para minhas mãos.

– Filho? – chama-me meu pai. – Sinto muito pelo que aconteceu, mas você tem...

– Eu sei, tenho que resolver isso, mas não sei como!

– Deixando de ser covarde! – afirma Gabriel.

O encaro de uma forma assassina e André segura meu braço.

– Não começa, Gabriel. Se ponha no lugar dele. – adverte André. – Meu irmão, visite ela.

– Eu vou...

– Ótimo. – diz Laila.

Olho para ela e sorrio.

Só agora me dei conta do quanto sinto sua falta.

Promotor Sedutor - Livro 3 - Trilogia FarcolandOnde histórias criam vida. Descubra agora