Promotor Sedutor - Livro 3 - Trilogia Farcoland

Capítulo 31

Camila

Essa semana foi a mais difícil para mim, porque me peguei viajando na maionese com o cara que planejava me condenar, pensava nele direto e logo as lágrimas surgiam, me apaixonei pela única pessoa que podia me engaiolar, será que ele teria coragem para isso? Ele pensa nesses pequenos momentos de uma maneira boa? Eu errei de novo, eu só escolho o errada, acho que tenho o dom para isso. Mas Henrique não parece ter a intenção de me ferir assim, acho que pode mudar de opinião já que agora sabe que sou eu a pessoa que ''matou'' o marido. De onde as pessoas tiraram isso? Mesmo que eu soubesse que eu devia pesquisar, investigar mais para provar minha inocência, não sabia nem por onde começar, não sei quando as ameaças por telefone começaram, ou quando o ato foi consumado. Eu não sei o que fazer, já tinham tantas coisas ruins acontecendo em meu caminho, e mais um surge para complementar ainda mais minha vida, por que eu fui aquela boate naquele dia com Laura? Por que me deixei se enganar por sua gentileza e cara de anjo? O que há de errado comigo? Lágrimas caem de novo enquanto estou encolhida num canto do meu sofá grande segurando uma xícara de chá de camomila, o sol brilhava lá fora e eu não tinha vontade me levantar pra nada a não ser ir ao banheiro, dia após noite, me mantenho assim. Não sinto vontade para nada, nem mesmo para comer. Não estou recebendo ninguém na minha casa, nem mesmo Laura, não estou com muita disposição, mas ainda tenho um desejo mesmo que apagado, ver Henrique mais uma vez, sentia falta dele, mas não posso esquecer que ele vai ser minha ruína no final de tudo.

Quando você menos espera a vida lhe dá uma rasteira que nem mesmo você consegue ter forças para levantar, você pode ser boa, má, meio-termo, mas nunca vai sair ileso, estou cansada desses tombos da vida, tirar minha vida seria pouco, não costumo ter pensamentos suicidas mas esta semana além de difícil está meio que insuportável. Estou começando a ficar depressiva e sentir coisas que nunca achei que pudesse sentir, nada mais tinha sentido. Meus pais não sofreriam, Laura ia se conformar com o tempo e mais ninguém, não tinha mais amigos, não tinha mais nada. Por que me importava tanto continuar aqui? Ninguém se daria o trabalho de me enterrar num lugar decente, mas mesmo assim eu pensava em tirar a minha vida. Quando eu estiver sentada naquela cadeira em frente o juíz e olhar para o lado do júri e ver Henrique lá, rindo de mim, vai ser a coisa mais difícil que teria de fazer; aguentar. Não podia e não tinha como, só aquilo ia me matar lentamente, dolorosamente, ver que ele ia me condenar sem o menor pudor. Era o trabalho dele, o que ele ganharia com isso? Mais reputação? Ganhar mais reconhecimento do centro onde trabalha? Qual seria a relevância para isso? Eu não tenho as respostas e me custa muito parar de pensar nisso. Mesmo que eu quisesse e implorasse, eu não conseguia tirar Henrique da cabeça, não conseguia esquecer o timbre de sua voz firme e poderosa, do seu sorriso branco e bem alinhados e principalmente de seus olhos penetrantes e tão vivos que faz suas pernas ficarem bambas. Não imagino nem o porquê de ele não ter uma namorada fixa, de tão lindo que é. Olho pela vasta janela do triplex o céu azul com algumas gaivotas sobrevoando sobre, não havia nenhuma nuvem. Me lembro de quando era pequena e olhavam para as nuvens procurando um formato de coelho como minha mãe dizia. Mas nunca havia nada. Minha mente vaga para minha vida antes de conhecer Jorge, era tão boa, tão perfeita que eu mal podia imaginar que um dia estaria passando por isso, que quando a vida se dispõe a me dar uma segunda chance, isso acontece comigo. Choro abertamente como uma criança, enquanto meu chá esfriava intocável na xícara em minha mão. Meu coração se aperta e tampo meu rosto com uma mão livre. O que fazer, meu deus? Não consigo deixar de me sentir traída, o que Henrique queria se aproximando de mim? Vigiar meus passos? Não consigo entender o porquê dele ter surgido assim da minha vida e a pior coisa que podia ter acontecido foi eu ter me apaixonado por ele, por que logo eu? Por que eu fui escolhida?

Essa pequena maldição gerou uma angústia nada agradável em minha vida, meu coração batia bem lentamente conforme os dias passavam, sentia que a qualquer hora ele ia parar e finalmente eu me sentiria livre, mas tinha que expressar tudo pelo menos numa folha de papel e enviá-las para as pessoas que eu ainda considero em minha vida, primeiramente eu pensaria na minha mãe, sinto uma saudade tão grande mas não pretendo vê-la, porque no dia eu que as algemas enjaular meus pulsos, eu veria seu sofrimento e isso me faria sofrer mais, prefiro assim do que haver jeito pior de resolver as coisas, posso estar errando, sendo egoísta, mas não quero fazer minha família sofrer e sentir o gosto do desgosto amargo em seus sofrimentos. Meu pai, pode ter se arrependido mas minha mágoa também carrega ele, pois ele me vendeu para a pior pessoa do mundo. Ele nem sequer imaginou ou pensou no que aquele homem poderia fazer comigo. Seu vício gerou minha destruição total. Não tenho mais sonhos ou vontade de viver, só me restava esperar pelo meu fim. Quando limpei minhas lágrimas, senti meus olhos inchados, e estava fungando, deixei o chá de lado pois já estava frio para que o ingerisse para dentro. Me levanto do sofá sentindo minhas forças se esgotarem rapidamente, não havia posto nada no estômago e tornei a me sentar e sentir uma forte tontura na cabeça, parecia que ia desmaiar. A campainha ressoa disparadamente e isso vai doer meus ouvidos. Quem seria a essa hora? Não sabia quem podia ser, deixei bem claro para Laura que queria passar um tempo sem ver ninguém. Ela não podia estar aqui, sabia o quanto ela respeitou minha decisão sem se chatear comigo e ela sabia que eu precisava devido a este tempo tão previsível para mim. Tento reunir forças para me manter de pé, e andar até a porta, o suor já escorre por minha testa e dou um passo e mais outro me arrastando até a porta. Quando giro a maçaneta e abro a porta, vejo a única pessoa que eu menos queria ver agora; Henrique.