Camila
E estava eu a mais um dia monótono, ontem foi um pouco estranho. Eu achei que Henrique fosse tentar ficar mais um pouco e conversar. Eu não sei se era o que devia ser feito ou o que eu queria que acontecesse. Mas ficou um desejo de que eu queria vê-lo de novo, eu só não sei exatamente porquê. Eu fiquei tanto tempo presa a uma única vida, que esqueci como é ter amigos. Eu sei que tudo não iria passar mais do que uma noite, bem que eu queria ter feito mais.
Estou sentada naquele vasto sofá, tomando uma xícara de café, o dia estava lindo lá fora e minha cabeça girava em torno de Jorge e no que acontecera a ele. E por mais que eu quisesse provar minha inocência, não tinha como. A certeza estava comigo, eu não o matei, mas como eu irei provar? Se nem mesmo a polícia foi capaz de investigar direito? Meu destino é algo incerto, algo totalmente incerto. Eu tenho que viver minha vida conforme ela manda, seguindo cada regra rigidamente.
Lágrimas se formam em minha vista, embaçando-as, quero Laura aqui, mas ela não virá. E não é justo chamá-la quando o problema é somente meu. Eu seria levada a júri no final deste ano, mas até lá estarei sendo vigiada como um animal dentro de uma jaula. Talvez esteja sendo julgada como uma psicopata em massa, tudo por causa de Bertha. No começo achei que ninguém iria acreditar naquela maluca, porém suas palavras foram ouvidas e ela deve estar vibrando de felicidade.
Meu telefone toca interrompendo meus pensamentos e vou atendê-lo;
- Alô? - fungo.
- Ainda não foi presa? - grita uma voz furiosa e arrastada.
- Bom dia, dona Bertha. Ainda se lembra do meu número? -pergunto irônica.
- Insolente! Este telefone é do meu filho! Saia da casa dele! - ordena ela.
-Com licença, dona Bertha, tenho muito a fazer.
- Sua vagabunda! Você irá para prisão em breve, acredite. Deus falou comigo.
- Ok! Tchau dona Bertha.
Desligo antes que ela prolongue está conversa inútil e dolorosa. O pior de tudo é que ela sabe onde o filho estava aquela noite, sabe que ele era viciado em jogo de aposta, ela o conhecia melhor do que ninguém, como poderia acusar-me? Largo a xícara de café ao lado do telefone, na mesinha e me levanto. Hoje não é dia de ficar se lamentando. Laura deve estar correndo por aí, então vou fazer isso também.
Vou em meu quarto e pego minha roupa de ginástica preto básico e prendo o cabelo em um rabo-de-cavalo frouxo. Pego meu celular e fones de ouvido e vou para praia.
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A praia acabou ficando lotada, a ciclovia estava cheio de ciclistas e velocistas, pessoas praticando seus exercícios diários. Atravesso com cuidado e encontro um espaço, coloco meus fones e ponho a música love me like do. E inicio minha corrida lentamente. Várias pessoas corriam na direção contrária à minha e me olhavam curiosas, foquei minha atenção em outras coisas do que sentir os olhares curiosos em cima de mim.
De novo, pensar em Henrique já estava começando a me deixar irritada. Ele foi só um rapaz que conheci em uma noite e que precisou de um lugar para descansar. Eu jamais o encontraria de novo, pela súbita partida dele naquela manhã deu a entender que nunca mais iríamos nos ver. Então tenho que apagar ele da minha mente. Meu coração começa latejar com força quando avanço por mais um pouco.
Eu já sentia a fadiga tomar conta de mim, havia desacostumado dessa vida saudável, graças a Jorge. O sol irradiava por todos os lugares, o suor escorria de minha testa e alguns fios de cabelo também, solto um profundo suspiro e retomo a minha caminhada.
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Ao chegar em casa, olhar para aquele triplex vazio e espaçoso demais, me deixa nocauteada, onde foi que errei mesmo? Ah, me casei com Jorge. Vou direto para o banheiro e ligo o chuveiro, retiro toda a roupa ensopada de suor e me olho no espelho que pendia na parede do banheiro. Apesar da carranca que ali se reflete, dentro dos olhos daquela menina, havia uma grande aflição, algo que nem mesmo ela podia consertar, ninguém poderia. Havia medo e rancor, mágoas e solidão, não havia mais ninguém além dela e sua solidão. E tudo o que o coração dela aclamava é por uma vida feliz, uma família unida e um amor bem resolvido. Depois de toda a bonança, a tempestade veio então, trazendo a pequena Camila e dor e decepção.
Lágrimas surgiram em meus olhos, mas as limpei para que não descesse. Eu estou sendo a suspeita principal da morte, a polícia conjurou que havia uma segunda pessoa no ato violento. Eu não teria chegado a tanto, eu nem mesmo teria coragem para fazer isso, mas por hoje não quero mais pensar nisso, só quero tomar um banho e relaxar como nunca relaxei desde a morte daquele imbecil. Antes eu amava ouvir seu nome, admirar seu sorriso brilhante, bajular sua elegância cheia de classe, mas não ele tinha que desvendar o verdadeiro monstro debaixo de todo aquele príncipe que vi um dia. Ele tinha que ter estragado tudo, tudo mesmo. Eu estaria sendo uma péssima pessoa se dissesse que uma pequena parte de mim sim gostou de saber que de certo modo, eu não veria mais aquele crápula. Mas me doeu saber, que ele havia morrido de uma maneira trágica, cruel e fria. Um crime tão perfeito capaz de esconder o verdadeiro culpado desta história.
Entro no banho e deixo a água morna bater sobre meu corpo rígido e dolorido por causa de minha corrida. Eu havia perdido o costume de ter uma vida saudável, trancafiada num triplex imenso. Viver sozinha não é nada legal, você tem sonhos estranhos e sente que algo esquisito irá lhe visitar a noite enquanto estiver dormindo. Lembrar da sensação de libertação quando Henrique dormiu aqui preencheu minha mente vazia. Mas eu não queria pensar nele, ele é um cara lindo por sinal, mas era muita areia para meu caminhãozinho. Tudo que eu queria essa noite era esquecer todo meu passado esquecer praticamente que nasci.
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Promotor Sedutor - Livro 3 - Trilogia Farcoland
Romance#587 em Romance - 25/05/18 #642 em Romance - 26/05/18 Sinopse : A vida era fácil para um garoto de 24 anos, sendo considerado o destruidor de corações e Homem de pedra, apesar de ser muito profissional em seu trabalho. Ele ama oferecer a denúncia ao...