Capítulo 43

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Henrique

Voltando para sala depois de revelações que podem, com certeza, derrubar um ser humano emocionalmente fraco, encontro Camila com meu sobrinho em seu colo. O sorriso brilhou em seu rosto como jamais havia visto neste tempo ao seu lado, era puro, ingênuo como a de uma criança, parei para admirar a cena e por mais repugnante que fosse a idéia cheguei a permiti-me uma vaga imaginação de como seria ser pai. Não era compatível comigo, enruguei o nariz. Laila sorria ao seu lado, brincando com seu bebê no colo de Camila, que mexia os pequenos braços desajeitados em mistura de alegria. André se juntou a trupe e essa cena quase me faz vomitar. Removo-me para perto de meu pai que estava admirando seu filho mais velho com seu neto. Ele nem me olha, mas sabe que estou ali.

- Apesar de todo alvoroço, essa pequena criança consegue dissipar a tensão que ficou. - diz ele.

- Filho de peixe, peixinho é. - digo com nariz enrugado.

Meu pai ri devertido.

- Gabriel seguiu os mesmos passos, mas não espero nada de você. - afirma ele.

- Tenha a absoluta certeza disso!

- Por que a trouxe qui?

- Não sei, achei que devia trazer. Vamos mudar de assunto?

- Sempre desconversando. - ele ri.

- Pai...

- Ela me parece muito a sua mãe quando mais nova, eu me lembro de sentir-me sufocado sem ela por perto.

- Meu deus, não precisa contar sobre isso.

- Estou realmente surpreso por vê-la por aqui hoje e que tenha sido você à trazê-la.

Meu coração se contorce por dentro, olho para Camila tão divertida com meu sobrinho que até parece que não existo mais. Laila e ela pareceram se entrosar bem, Renata ficava mais ao lado da minha mãe. Ela pelo menos não virou-se totalmente contra nós. O isolado do Ronaldo ficou no mesmo canto e eu que não vou ficar pedindo para se juntar. A raiva é dele e não minha. Não estou inocentando meu pai, ele tem 50% de culpa, mas seu pai forjou a própria morte, criou uma identidade falso e voltou com uma desculpa esfarrapada que sempre me deixou com a pulga atrás da orelha, sempre soube que havia algo mais. Mas sobre ele tentar manchar o nome da Família Farcoland é algo muito grave. André devia prendê-lo, mas a justiça do Brasil é lenta mais que uma tartaruga, então devíamos fazer o que André disse. Deve haver um jeito de pôr um fim nisso.

Encosto no parapeito da janela e cruzo os braços, Gabriel se afastou de nós e falava ao telefone. Camila me olha com certa doçura no olhar, e sorrio. Me sinto tão fraco, tão vulnerável que só olhar ela me deixa, literalmente...nu. Eu me sinto desesperado para assumi-la em meus braços e em minha cabeça passa em câmera lenta a noite de ontem, nós dois juntos na mesma cama, a necessidade de possuí-la, o desespero de sentir seu cheiro doce e irreplacável. Não havia nada como ela e olha que já se passaram de tudo em minhas mãos, nada se iguala a ela, ninguém tinha o seu cheiro, ninguém tinha a maciez da pele, ninguém tinha cabelos tão cheirosos e bem cuidados, ninguém chegava aos pés dela.

- Vá falar com ela, filho. - pede meu pai.

- Sim, chefe.

Me aproximo de Camila e olho para o boneco nos braços de André, ele me olha e chupa o dedo ao mesmo tempo. Aliso seu cabelinho liso e curto e abraço Laila.

- Vou tomar meu par, por um instante, se não se importam. - digo brincando.

- Fique à vontade, sr. Henrique. - diz Laila, rindo.

André chama sua esposa para outro canto e eles curtem o grande momento juntos. Camila ri baixinho.

- Sua família é grande e bem alegre. - comenta ela.

- Ainda não viu nada! - retruco.

- Aquele lá no canto é o primo de quem me falou?

- Sim, ele está nesta fase rídicula da vida. Não esquenta.

- Ele podia ser mais participativo...

- Perto de você não! - fico sério.

- Henrique..

- Ele é nosso primo, mas ele tem o costume de se relacionar com as mulheres do primo, como André e a ex noiva rídicula que ele tinha.

- Nossa!

- Põem nossa nisso!

Alguma música suave entoou pelo ar, era lenta e todos estavam a dançar, a única sobrando era Renata e Gabriel fez o favor de tirar ela do isolamento. Peguei Camila pela cintura e puxei-a para mim e alinhei seu braço. Ela riu divertida, mas pude ver perfeitamente as maçãs do seu rosto ficarem ligeiramente vermelhas, aquilo me fez sorrir, me fez bem. Dava para ver como nossos corpos juntos ficam em repleta harmonia, como se já se conhecessem independente de nós mesmos. Eles entram numa sintonia perfeita. Nos movimentamos conforme o ritmo da música, eu a conduzia como minha mãe me ensinou quando era pequeno. Era como se só existisse nós dois ali, a sala todinha para nós.

Eu agora sei o que é amor, nada do que senti por Mariana era verdadeiro, agora sei diferenciar o real da ilusão. O que senti por Mariana foi mera atração de um adolescente, o que sentia por ela não chegava a um-terço do que estou sentindo por Camila. Valeu então a pena o que aconteceu naquela época. Valeu a pena ter dispensado Mariana na ponte, valeu a pena eu aprender que perder noites dentro de boate não era consolo para ninguém, apenas distração. Não me arrependo de muita coisa que fiz, porque elas haviam merecido, mas outras não. Fiz muitas se apaixonarem desnecessariamente porque estava com rancor, estava cheio de ódio, para poder enxergar de verdade alguma coisa.

Quando menos espero sou ligeiramente obrigado por meu instinto interior a tomar seus lábios nos meus e isso fez algo disparar dentro de mim, algo que jamais saberia descrever, apenas só posso senti-lo de uma maneira intensa. Não tenho muito o que ficar pensando, apenas viver o momento que estarei ao seu lado.

Eu apenas a amo!

Promotor Sedutor - Livro 3 - Trilogia FarcolandOnde histórias criam vida. Descubra agora