Camila
Naquele instante pude ver um Henrique mais a fundo, diferente daquele que eu conhecera. Não queria que ele desistisse do caso, só quero que ele tenha consciência que eu sou uma inocente, é o trabalho dele e nossa afeição emocional não pode interferir nisso. Ele se afastou para perto da janela, e fixou seu olhar em alguma coisa lá fora e cruzou os braços diante do peito.
_ Ela me causou muita...dor. - confessa ele.
_ O que ela fez de tão ruim? - pergunto.
_ É uma história longa, resumindo é uma prostituta de meia tigela e só quer saber de status. - desconversa ele. - Mas quero saber por que a senhorita não anda comendo?
_ Essa semana depois que descobri...eu fiquei acomodada em meu sofá tomando apenas chá para dormir.
Ele me olha sério sem esboçar nenhuma reação e não consigo decifrar os seus pensamentos, me sinto temerosa por qualquer coisa que sair de sua boca. Batidas na porta interromperam nosso diálogo, olho para porta com um cansaço e a porta branca se abre, é uma moça trazendo a janta. Todos dizem que comida de hospital é horrível, eu nunca comi apesar de vir ao hospital regularmente desde que era pequena, mas nunca fiquei internada. A moça de pele parda se inclina e aperta um botão embaixo da maca que se eleva um pouco me deixando amis confortável. Ela se levanta e prepara uma bandeja colocando os itens à minha frente, tenho certeza que Henrique faria de tudo para me fazer comer até o último grão de arroz que ele ver na marmita branca, tinha arroz, feijão, e no transparente tinha carne assada de panela e salada e gelatina de framboesa sem açúcar. Franzi o nariz e Henrique riu ao se aproximar de mim, ele pegou os talheres de plásticos e retirou uma quantia razoável no garfo e foi dando em minha boca. Eu me senti como uma criança de novo, lembro-me de quando minha mãe cuidando de mim como eu fosse ainda um bebê, e Henrique estava agindo igual a ela nesse momento, imagino-o cuidando de uma criança, isso faz meu coração se anuviar de amor por ele e cada vez se torna algo mais forte, mas claro e pleno. Agora eu sabia que não podia mais negar, a metade que eu sempre esperei agora estava na minha frente, olhando para mim carinhosamente, dando comida em minha boca, seus olhos verdes são tão intensos e tão vibrantes ao mesmo tempo que mesmo deitada fazia minhas pernas tremer e algo tremeluzir em minha parte íntima. Ao vê-lo assim, um calor insano me subiu, eu seria capaz de agarrá-lo ali mesmo. Mas quando eu pensei em fazer, a moça que viera trazer meu jantar anotava algo no meu prontuário.
_ Pronto, mais tarde eu volto para recolher as coisas. - diz ela amavelmente.
Ela sai do quarto fechando a porta silenciosamente atrás de si e Henrique continua a me dar comida, apesar de estar gostando do gesto carinhoso, posso me servir normalmente.
_ Henrique, posso fazer isso sozinha. - digo.
_ Tanto pode fazer sozinha, que hoje está aqui. E o médico só vai te liberar se comer normalmente. - rebate ele.
Começo a rir e me engasgo com a comida em minha boca, ele me dava um misto de cada coisa e me dava tempo para mastigar, ele tinha praticamente uma paciência de jó para fazer isso.
_Você tem irmão, não é?
_ Irmãos.
_ Hum, me conte mais sobre eles.
Ele riu e colocou outra garfada em minha boca.
_ O mais velho se chama André e é delegado da polícia federal, casou-se uns anos, e acabou de ter um filho que foi batizado como Gabriel Henrique. - ele sorri ainda mais. - E o outro se chama Gabriel, casou-se há pouco também e a esposa está grávida de gêmeos...
_ Nossa!
_ Fazer o quê! - ele dá de ombros.
_ E você?
Seus olhos se arregalam e o sangue some de seu rosto.
_ Eu? Eu acho que ainda sou novo para isso. E espero segurar isso o máximo de tempo possível.
_ Por que? Não sonha em ser pai?
_ Não. Não acho que fui feito para isso.
_ Não tem amor por seu sobrinho?
_ Tenho, é uma criança linda, aliás. Mas eu só tenho vinte e três anos, acho que ainda tenho tempo para mudar de opinião e se eu mudar...
Não consigo evitar a risada alta que dou naquele momento mesmo que doesse minha barriga, mas tudo que ele dizia me intrigava, me deixava mais confusa do que nunca. O que o faz pensar tão negativamente de um relacionamento? Eu sei o que ele já me contou; foi por causa da Mariana, mas o que ela fez foi tão ruim assim? Não vejo isso como um motivo para fuga, mas acho que os homens são diferentes e pensam diferente de nós mulheres. Não posso julgá-lo por ser tão radical nesse aspecto, porque eu também jurei que não tornaria me apaixonar de novo depois de Jorge, mas Henrique acabou destruindo as barreiras e se penetrou em meu coração de mansinho. Se um dia eu pensei que todos homens eram iguais aquele monstro eu estava enganada, havia homens de todos os tipos, tinha Henrique que precisava ser curado de uma ferida que ainda estava aberta em seu interior e sei que ver Mariana deve ter mexido com ele, pois vê-lo vulnerável me deu a entender que ele ainda lembrava daquilo, de alguma forma, ele guardava aquilo para lembrar que havia motivo para usar as mulheres e descartar, porque acha que todas vão ser iguais a ela. Mas ele tinha que entender que nem todas são iguais, como eu também devia entender que nem todos os homens são iguais ao monstro que um dia chamei de marido. Ambos de nós somos pessoas que de certa forma fomos magoadas e quase parecidas, por isso nos tornavam as pessoas mais perfeitas do mundo, porque nenhum de nós superou a dor, a traição, a raiva, a vergonha. No caso dele era uma ferida de um coração partido, e a minha também mas manteve várias sequelas e mesmo com medo me permiti entregar-me de novo mesmo correndo o risco de levar o famoso pé na bunda, porque não há mais nada tão doloroso do que ver uma pessoa que a gente ama nos fazer chorar todos os dias e ver o amor que sentia tão grandemente se esvair aos poucos de sua vida, escapando por entre seus dedos, deixando a mágoa ganhar espaço e se acomodar. Meu problema não tinha tamanho comparado o dele. Fugir do amor era a única coisa que ele sabia fazer de melhor e usava isso a seu favor. Mas eu fazia do meu erro ser a melhor decisão da minha vida.
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Promotor Sedutor - Livro 3 - Trilogia Farcoland
Romance#587 em Romance - 25/05/18 #642 em Romance - 26/05/18 Sinopse : A vida era fácil para um garoto de 24 anos, sendo considerado o destruidor de corações e Homem de pedra, apesar de ser muito profissional em seu trabalho. Ele ama oferecer a denúncia ao...