Henrique
A escuridão da noite densa predominava lá fora, e consecutivamente dona Alícia está pirando com minha demora, tenho de ligar para casa e depois para João Miguel de um possível atraso, o que ele não vai gostar muito. Mas eu não ligo desde que eu faça o que me faz bem. Mas fui à casa dela na intenção de dizer uma coisa e vacilei na primeira oportunidade, ainda não posso revelar nada. Melhor manter em segredo, quando a faço comer tudo, principalmente a gelatina, seus olhos estavam se fechando automaticamente, pelo menos ela não deu muito trabalho para comer, uma criança comportada. Olho para ela sonolenta e sinto meu estômago se revirar por completo, espero até que ela durma para que eu possa sair do quarto e avisar a minha mãe que estou vivo. Já posso imaginar quantas coisas ela vai falar ao telefone, e sei que eu merecia. Mas eu tive um motivo para isso, uma pessoa desmaiou do nada em meus braços, meu único pensamento foi pegá-la no colo e trazê-la para o hospital. Só agora me passou pela cabeça telefonar para meus pais e avisar que ainda estou vivo. Fecho a porta cuidadosamente atrás de mim, e olho para os corredores, vendo que não havia ninguém, pego meu celular no bolso da calça e vejo que tem 3 ligações perdidas de casa, como sempre meu instinto não falha ainda se tratando de Alícia, que é uma mãe super protetora. Olho para o teto branco e sorrio e digito o número de casa, espero que alguém atenda. Chama umas seis vezes e decido desligar, tento ligar para o celular da minha mãe que atende no quarto toque.
_ Alô? - sua voz é preocupada e macia ao mesmo tempo.
_Mãe...
_ Deve estar ligando para o número errado, porque não tenho filhos! - diz ela tentando parecer normal, mas no fundo está muito brava.
_ Desculpe mãe, mas tive um problema no caminho, depois te explico. Só para dizer que vou ficar no hospital até amahã porque...
_ Henrique, o que houve? O que você tem?
_Nada. - começo a rir.
_ Então o que faz aí.
_ Trouxe uma pessoa que está precisando de cuidados, amanhã eu te conto tudo.
_ Tudo bem, filho. Mas avisa mais cedo, na próxima vez.
_ Está certo. Tchau.
Devolvo o celular para meu querido bolso e deixo minha cabeça centralizar no que mais quero agora, eu saí do Campo de Santana com um desejo insano de contar para Camila a descoberta sobre mim mesmo, mas quando chegou a hora eu vacilei. Eu sou estranho pois a certeza que eu tinha antes, não estava mais aqui, pela primeira vez sentia medo de contar algo alguém e não ouvir o que esperava. Eu sempre tive o péssimo ato de não gostar de algo que não seja o que eu preciso ouvir. Se ela me rejeitar, então aí que não vou saber mesmo o que fazer. Eu estava tão bem antes, sabia como manobrar as mulheres, ainda ''agendava'' a noite com elas e me satisfazia do jeito que eu bem quisesse. Quando dormi com ela, pensei que meu desejo e tesão passaria, mas não foi bem como eu esperava. Eu só queria mais e mais e nada fazia isso cessar, ver Mariana de novo religou algo dentro de mim que nem mesmo eu, Henrique Farcoland, sei explicar. Só sei que isso está chegando com muita intensidade que eu não estou sabendo controlar, mas preciso segurar o máximo de tempo possível. Eu gosto de Camila, gostaria de ficar ao lado dela conhecer tudo. Mas antes eu preciso ajudá-la a encontrar sua inocência, eu devia apontar o verdadeiro culpado e não uma culpada inocente. Sei o que ela pediu. Mas mesmo que eu quisesse desistir, não poderia, João Miguel daria um sermão daqueles e eu jamais gostaria de ouvir suas palavras nesse sentido. Minha única opção era descobrir o máximo que pudesse, talvez assim poderia resolver um caso mal investigado. Volto a pegar meu celular e digito uma mensagem para André:
"Irmão, sei que está resolvendo os problemas e ainda tem sua família para cuidar, mas estou precisando de um favor seu. Responda-me o mais rápido possível."
Começo a andar de um lado para outro impaciente e uma enfermeira entra no hall do corredor entrando em outro quarto. Me sinto aliviado e continuo impaciente pela demora, mas sei que André anda ocupado desde que seu menino nasceu, eu apenas vi o menino no colo de Laila no dia da briga, estou até ansioso para conhecê-lo melhor, ensiná-lo como encantar as mulheres, mas do jeito certo. E tem Sabrina, que espera gêmeos e está terrivelmente cansada, em meu pensamento, ainda não tive tempo de visitá-la, posso ver a bagunça que será a casa de minha mãe quando eles tiverem maiores. Leva uns 20 minutos atordoantes até que ele responde que sim, explico a situação resumidamente e peço a ficha de Jorge e Geraldo, eu sabia que estava me metendo em algo que não devia, mas tinha que fazer alguma coisa a respeito, se não eu acusaria alguém inocente e mesmo assim não faria bem para mim, nem para ela e ninguém para ninguém. André diz que amanhã me passará tudo e disse para que eu mantesse a calma.
Me espedi dele e continuei no hall pensando e pensando, mesmo que tentasse não achava nenhuma solução para isso. Mas eu sabia onde isso ia dar, se eu não falasse direto com João Miguel, ouvir seu sermão não sairia despercebido, mas eu precisava tentar tirar ela dessa situação e ficar nervoso não iria me ajudar, afinal acaba só atrapalhando. Camila dormia e eu queimava de tanto pensar em alguma solução, desistir como falei, não era uma opção, eu teria de fazer, mas como eu faria? Com que coragem eu faria? Não tinha.
Porque a mulher deitada naquela maca dentro daquele quarto me enfeitiçou.
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Promotor Sedutor - Livro 3 - Trilogia Farcoland
Romance#587 em Romance - 25/05/18 #642 em Romance - 26/05/18 Sinopse : A vida era fácil para um garoto de 24 anos, sendo considerado o destruidor de corações e Homem de pedra, apesar de ser muito profissional em seu trabalho. Ele ama oferecer a denúncia ao...