Capítulo 29

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Henrique

Ao ver a cara daquele filho de uma puta, uma raiva já cresceu, eu teria dado um soco na sua cara se não tivesse paralisado em ver essa cena. Ele me olhava confuso e assustado ao mesmo tempo, não sabia o que fazer tanto quanto eu. Eu pensei de nunca mais ver a cara desse corno na minha frente de novo, preciso sair do carro urgentemente, mas prevejo que já estou atrasado para me encontrar com Camila. Não posso mais perder mais tempo nesse reconhecimento idiota, pelo menos hoje ele é taxista, vai ver a vida não deu muito certo para ele. Então me ajeito desconfortável no banco do carona e olho para frente, tentando manter minha sanidade e controlar meus instintos afinal estava em frente ao meu ponto de trabalho.

_ Para onde o senhor vai? - pergunta ele, como fosse educado para isso.

_ Para o parque, apresse-se por favor. - digo rispidamente.

_ Sim, senhor.

Ele deu partida com o carro e mal conseguia conter as batidas frenéticas de meu coração, porém por outro lado me senti desesperado para sair desse táxi. Viajar com Erick era uma coisa que não entrava mais na minha cabeça. E outra coisa que também girava em minha cabeça, era o número desconhecido, eu havia pegado o número dela com Marcelo, por que ela me mandaria mensagem de outro número se não fala com ninguém? E uma outra coisa me correu, como ela sabia meu número se eu nem mesmo liguei para ela, não tive coragem para fazer mesmo que eu tenha pegado no celular umas mil vezes? Se não fosse ela, por que eu estava indo para o parque encontrar um desconhecido? De repente ela pode ter comprado outro chip, alguma coisa deve ter sido feita, mas tinha que ser ela. Eu sei que ao longo do caminho eu gerei bastantes inimigos. Meu trabalho ao mesmo tempo é maravilhoso, mas em contrapartida tem um lado sombrio; o perigo. Eu sei que devia controlar meus impulsos e minha ansiosidade, mas eu não conseguia fazê-lo. Eu parecia uma criança desesperada para ver o papai noel deixar meu presente na árvore de natal. Nunca pensei que viesse sentir isso novamente. Nunca senti isso desde...Mariana. Um amor de adolescente que me restou muita vergonha, porque pelo resto do ano eles, os meus colegas de classe me zoaram até o fim dos tempos. Aquilo jamais saiu da minha cabeça.

Mas o que me deixa mais enfurecido, foi que meu melhor amigo que hoje dirige um táxi que armou essa cilada para mim. Eu confiava nele, ele estava sempre na minha casa para jogar vídeo game comigo e Gabriel, fazia parte da nossa família e a decepção depois foi inevitável, não chorei se é que estavam pensando mais fiquei tão puto que jamais pensei que ele seria um desgraçado que um dia ia pôr minha imagem no fogo e tudo para andar com a turma popular da escola, eu fui seu preço. Minha mãe sempre dizia para eu não guardar mágoas do passado pois isso só poderia me fazer mal. Mas não tem como esquecer a grande vergonha que passei, o constrangimento que senti ao ver e ouvir tudo o que eles diziam graças a Erick e Mariana. Quando eles terminaram e se saíram da escola, aquilo eu até achei um castigo justo, mas nada apagaria o que eles dois fizeram naquele dia. Se aproveitaram de um almoço para mostrar quem eram de verdade. Estou muito curioso para saber que a Camila queria comigo do que ficar revivendo meu passado que não é mais do que uma página virada. Estava com 23 anos e acho que superei, só é difícil esquecer mesmo. Erick dobrou uma esquina e continuou o trajeto até o parque, como era muita contramão onde ele ia me deixar, ele deu a volta para ficar amis próximo. Meu celular apitou e retiro do bolso da calça e abro. Vi outra mensagem e lá dizia o local exatamente onde ela estava. No Campo de Santana. Estava perto da ponte me esperando, meu coração acelerava cada vez mais, estava a ponto de mandar Erick a ir mais rápido quando o sinal ficou vermelho, ele parou e esperou, havia um ônibus em nossa frente.

_ Cacete! - resmunga Erick.

_ O que houve? - pergunto normal.

_ Odeio ficar atrás de ônibus, já tive prejuízo por conta disso.

_ Dirija devagar então, estamos chegando.

_ Posso fazer uma pergunta?

_ Já está fazendo.

Ele ri.

_ É só para esclarecer minha dúvida.

_ Faça.

_ Você seria o Henrique Monteiro Farcoland?

Meus olhos se pegam paralisados como meu corpo, talvez eu não esteja assim tão irreconhecível. Ele estava apenas na dúvida, pois foram longos anos depois daquele dia. Quando ele saiu da escola, nunca mais nos vimos. Eu agradeço muito por isso, mas hoje o destino quis me mostrar que todos colhemos aquilo que plantamos. Me mostrou que mesmo uma coisa tão pequena gera grandes consequências, de repente recuperei meus sentidos, respondi.

_ Então me reconheceu? - pergunto, rindo.

_ Seu cabelo te denuncia. - ele sorri.

_ Faz bem meu estilo.

_ Sei bem disso.

_ É só isso?

_ Acho que sim, é bom te ver depois de anos. Está com encrenca na justiça?

_ Não. Eu trabalho lá, sou promotor.

_ Sempre quis isso, não é? Parabéns, muito sucesso.

_ Muito obrigado.

O sinal abriu e ele deu partida devagar, esperou que o ônibus virasse e seguiu para o outro lado, pude ver o campo de Santana a minha frente e mal podia conter minha emoção. Ele estacionou em um lugar estratégico e paguei a corrida.

_ Foi bom te ver novamente, Farcoland. E me desculpe pelo acontecimento do passado.

_ Tudo bem, nem ligo mais para isso. - sorri.

Desço do carro rapidamente e corro para o portão sem olhar para trás, estava quase lá, eufórico, quase tirando a roupa de tanta euforia. Estou me aproximando da ponte à medida que corro em sua direção e a imagem que vejo não é aquela que eu esperava. Podia ser alguma maldição? Hoje era o dia para resolver um passado pendente? Porque se for eu vou ficar muito puto com este destino. Paro de correr no mesmo instante e começo a andar lentamente, meu coração vai murchando, parando, se recolhendo. É como levar um soco às escuras, como resolver esta situação? 

Promotor Sedutor - Livro 3 - Trilogia FarcolandOnde histórias criam vida. Descubra agora