Capítulo 50

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Camila

Aprisionada.

É assim que me sinto ultimamente, encurralada, voltando a estaca zero. Choro todas as noites, penso em Henrique e isso me machuca, pois o que mais queria era estar nos braços dele. Mas tive de expulsá-lo da minha vida, como Laura e Marcelo. Estava sozinha, sem ninguém. Telefonemas só para receber ameaças, então nem atendo mais o telefone. Meu celular toca várias vezes ao dia, é Henrique e mesmo assim não atendo.

Ele corre risco se continuar comigo e eu não me perdoaria se algo acontecesse com ele. Lágrimas salgadas caíam por meu rosto 24 horas por dia, mesmo que não lhes desse permissão elas estavam lá, caindo sobre meu rosto e terminando em meus lábios ressecados e quebradiços. O apartamento vivia as sombras, e eu já não tenho mais vontade de viver. Se o destino me aprisionar como está para acontecer, eu estaria feliz em demasiado.

Tentaria sobreviver o máximo possível, mas meu pensamento ficaria no que eu deixei para trás, tudo que pude viver em um curto período da minha vida. Meu telefone começa a tocar novamente e finjo não escutar apesar do som insistente que causa em meus ouvidos. Irrita em demasiado. Limpo as lágrimas e me levanto, apesar da fraqueza estar me atingido, estou semanas comendo apenas uma folha de alface ou uma xícara de arroz. Nada que me desse sustância a ponto de me fortalecer como bem entendia. Me apóio nos lugares mais próximos a mim e sigo para o banheiro tomar uma ducha.

O momento mais difícil que eu estou passando é esse, porque tenho que manter a pessoa que amo longe de mim, quando nesse momento eu mais precisava dele, de seus acalentos, das palavras, do sorriso, dos olhos verdes que eu tanto amava. Eu me sinto como uma inútil empalhada no meio da sociedade mais sórdida do planeta. Porque ninguém merecia passar por isso, mesmo que eu soubesse quem matou não adiantaria de nada. Tudo apontava diretamente para mim. E, Henrique estaria lá, observando do júri tendo de fazer seu trabalho que compreendo que agora não é nada fácil. Mas eu implorei que ele fizesse isso, era o trabalho dele, não podia estar tão envolvida assim. Qualquer pessoa diria que eu era louca por me apaixonar pela pessoa que diria ao juiz ao me apontar que eu era a culpada. Mas aconteceu e por mais que isso seja de tamanha dor, não posso negar que por um tempo ele que me fez feliz, me fez sentir amada como nunca fui.

Desejar tê-lo conhecido antes não mudaria nada, porque se aconteceu era para acontecer. O que mais me dói não é o meu problema judicial, é ter de ficar longe dele, de tocá-lo, abraçá-lo, beijá-lo, sorrir com ele, lembrar do brilho dos seus olhos. Agora eu sei, o famoso felizes para sempre não era real . Era muito raro acontecer algo assim. Meus pais eram o exemplo certo sobre essa questão, sempre os vi brigando, discutindo e se agredindo verbalmente. Sempre jurei encontrar alguém diferente de meu pai, mas o que encontrei foi pior, pior mesmo de que um castigo lançado por demônios. Jorge era o pior deles. Sua sombra ainda se escorava em mim.

Debaixo do chuveiro fecho meus olhos e me lembro de minha verdadeira noite de amor, um amor que durou mais que horas, mais que um dia, era algo que ainda permanecia vívido em mim. Sorri com esta lembrança, o jeito doce de dormir, a tranquilidade que esteve em meu lado, o jeito como me agarrava junto ao seu corpo, eram coisas que levaria para sempre guardada dentro de mim. Levaria essa imagem até o último suspiro da minha vida. Henrique sempre será a melhor parte da minha vida e sempre o amaria apesar de não querer, apesar de tentar esquecê-lo.

Como Laura sempre dizia, às vezes é impossível esquecer algo que a gente mais ama na vida, porque se torna nossa jóia mais preciosa. Desligo o chuveiro e me enrolo na toalha e vou para meu quarto que me traz tantas péssimas lembranças que chego a me tremer, muitas noites sofri ameaças daquele crápula, muitas vezes recebi tapas dentro deste maldito quarto, lembro-me de entrar neste quarto e Jorge me acusar de uma péssima esposa, que eu não sabia fazer nada e que eu era um lixo que devia ser jogado fora. Lágrimas tornam a cair, porque por um momento eu acreditei mesmo em suas palavras tão cruéis. Diante disso pego meu babydoll rosa e o visto lentamente. Após escovar meus cabelos desgrenhados caminho a cozinha e preparo um pouco de arroz e um peito de frango, apesar da minha solidão, meu estômago reclamava por mais que eu protestasse. Havia muitas possibilidades que não fazia questão de pensar no momento. Quando o meu cativeiro chegar, eu pensaria melhor, mas ainda posso sentir um pouco do cheiro de liberdade enquanto ela estiver ao me redor.

Após alguns minutos, boto em meu prato e sento-me na sala. Em seus grandes momentos de solidão, o relógio acabava se tornando seu pior inimigo., as horas custavam a passar e por mais que evitasse estar prestando atenção neles, era lá que você prendia sua atenção. Vida solitária e monótona. Meu celular apita e vejo uma mensagem de Laura.

" Não importa o que aconteça daqui a dois dias, eu estarei sempre aqui! Você é minha melhor amiga e sempre será mesmo que esteja me evitando de sua vida, apagando minha lembrança. Mila, todos nós sabemos que é inocente e não vai ser a polícia ou um juiz que mudará nossas opiniões, você vai conseguir! Te amo."

Dessa vez não pude conter, chorei como uma criança com a mensagem de minha melhor amiga, a minha vontade era de chamar ela e me afagar em seus cafunés. Mas tenho de prezar a sua vida, pois ela espera um filho, e não posso arriscar-lhe a vida e a de seu filho que espera vir ao mundo lindo e saudável. Sempre guardaria todos nossos bons momentos para o resto da minha vida. Procuro não responder por mais difícil que seja, não posso arriscar, se estiverem rastreando meu celular? Quero protegê-los de toda as formas.

Promotor Sedutor - Livro 3 - Trilogia FarcolandOnde histórias criam vida. Descubra agora