Capítulo 14

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Camila

Muitas vezes você se pergunta o que anda fazendo de sua vida, o que lhe faz seguir exatamente por esse caminho que está trilhando. Mas a verdade é que nunca sabemos as respostas para essas perguntas, não há uma explicação definida para isso. Eu não dormia direito depois que fui acusada injustamente de assassinato. Eu não teria coragem para tanto, cometer um assassinato? Como puderam supor algo de mim assim? Como puderam apontar o dedo para mim, sem antes checar os antecedentes? Isso se chama política, se chama Brasil. Eu não sou tão fria a esse ponto, ao contrário, eu me vejo como uma pessoa que cuida, que sorri, que se impõe perante a sociedade, que deseja o bem do próximo, que se diverte e que não se importa com a opinião alheia. Essa garota estava presa a um passado distante, acho que depois que passei a morar com Jorge essa menina acabou viajando para outro planeta em busca de paz. Ela estava certa, a nova Camila se importava com tudo que ela não se importava antes, a cena de mais cedo me feriu em demasiado, aquilo era uma imensa dor para uma garota como eu, que nunca sofreu ou passou por algo assim, mas como minha mãe diz quem chora pelo leite derramado é bebê, agora é hora de eu resolver esse problema de frente, encarar a vida como ela realmente é. Depois de uma longa estrada, chego ao escritório de meu advogado que fica na Barra da Tijuca, e procuro uma vaga no estacionamento perto de um prédio comercial, estaciono e desço do carro. Esse caso iria entrar para o livro de recordes, pois havia repórteres para todos lados, eu não sabia nem de onde estavam saindo tantos jornalistas, havia uma multidão também atrás deles aclamando calorosamente por justiça, era injusto comigo. Corri para entrada do prédio de cabeça baixa e passo pelos seguranças parados na porta tão sérios como pedras, e vou direto pelo elevador com porta metálica. Ele demora a chegar e resolvo ir de escada até o 11º andar, subo às pressas sem um minuto de pausa, sinto o suor escolher por minha testa e meu coração disparado pelo esforço que estou fazendo. Tenho ciência que ninguém está me seguindo, mas quero me sentir segura. Quero me sentir segura novamente.

Eu estava em plenos pulmões, mal conseguia respirar direito, estava ensopada de suor e me odiando por isso. O que medo não faz. Segui pelo corredor largo e estreito acompanhado de portas e números subsequentes. O corredor era feito de acoalho e as paredes tinha uma coloração de uma única cor; bege. As portas de várias lojas era apanhada de branco leitoso, apenas algumas, porque havia umas clínicas particulares para exames simplórios. O do meu advogado era a última porta virando a direita. Sigo reto até que viro depois de percorrer o trecho daquele corredor silencioso. A porta branca com uma placa escrito " Fábio Menezes, advogado'', estava escrito em uma placa metálica de bronze. Andei três passos e fiquei bem próxima da porta, toquei a campainha ao lado do batente da porta e aguardei. Uma mulher que aparenta ter uns quarenta e poucos anos atende, seus cabelos castanhos-amendoados estava presos em um coque perfeito, usava óculos de grau e um batom nude que combinava perfeitamente com o tom pálido de sua pele, seus olhos eram de um azul cinzento mas bem simpáticos, ela abriu um sorriso caloroso e franziu as sobrancelhas.

- Eu sei, pareço que corri uma maratona! – digo de uma vez.

- Bom, tecnicamente sim, mas imagino o porquê. – ela responde.

Sorrio encabulada e me sento numa cadeira branca.

- Vou avisar ao Fábio que você chegou!

- Obrigada.

Ela sai do meu campo de visão e ouço uma porta abrir e fechar em menos de um segundo. Ela é rápida. Estou nervosa e ao mesmo tempo temerosa, chegar aqui foi algo...surreal, parecia que estava correndo contra o tempo. O azar conspirava contra mim o tempo todo, a mulher volta em alguns instantes interrompendo meus pensamento, agradeço mentalmente por isso.

- Ele pediu que entrasse, srta. Santiago. – ela diz formalmente.

- Só Camila.

- Como desejar, dona Camila. – ela sorri.

Devolvo o sorriso e me levanto, vou direto para a pequena sala do meu advogado, quase não tinha espaço por tantos armário de ferro embutidos na parede. Sua mesa de madeira de cor marfim era lotada de papéis e um notebook onde ele fazia seus relatórios. Ele era baixo e tinha pouco cabelo em sua cabeça, sua pele tinha um tom amarelado e tinha 55 anos. Ele indicou onde eu devia sentar com a mão e obedeci.

- Boa tarde, Camila, como estamos hoje? – pergunta ele.

- Acho que nada bem...

- A rua está bem cheia! – comenta ele.

- Eu vi, por isso subi correndo pelas escadas.

Ele ri baixo como se estivesse experimentando uma piada interna. Eu não veia graça nisso, eu sei que eles jamais poderiam invadir o prédio comercial porque isso implicaria várias infrações na lei, mas sempre havia um maluco por perto para fazer isso. Dou um longo suspiro e abaixo a cabeça.

- Bem, não se preocupe, eles não podem invadir, já avisei aos seguranças. – avisa ele. – Bom, você já deve saber que seu caso foi reportado para o juiz João Miguel...

- Sim, o mais temido dos juízes, eu sei disso. – anuncio com a voz falha.

- Exato, foram poucos casos que ele inocentou alguém, ele é um homem muito correto em suas convicções e duvido que vá engolir quaisquer mentira que nós contaremos, só podemos contar a sua história, e mostrar as poucas provas que adquirimos. Mas possivelmente...

- Possivelmente eu serei condenada, como você disse, ele não vai me aliviar.

- Exatamente, e acredito que isso seja uma má notícia e podemos esperar pelo pior, mas farei o meu melhor para resolver essa situação.

- O que quer dizer?

- Podemos fazer um acordo com a família do falecido, andei contatando alguns amigos e descobri que a família de seu falecido marido, não se importa com a morte dele, parece que ele não se dava bem com a família, mas a mãe dele quer uma...grana.

- Como assim? Dona Bertha é maluca! Todos sabem disso.

- Ela é ou se faz de maluca? - ele pergunta com uma sobrancelha arqueada.

- Não sei, Jorge mal deixava ela entrar em casa, sempre o vi ofendendo a mãe...

- Por isso mesmo eu digo, ela está interessada no dinheiro, acredito que se partimos para o meio de uma negociação, podemos diminuir a pena, se for o caso...

Eu vou para cadeia de qualquer jeito!

- Acho que isso seria um pouco intransigente.

Ele deu de ombros e virou uma página de um arquivo, parece o meu.

- Descobri também, que seu caso foi denunciado por um promotor que é braço direito de João Miguel, e esse é um dos que vai dar mais problemas, porque ele é mais temido do júri e nunca vi ele falar a palavra ''absolvição''- ele fez sinal de aspas com a mão. – Contudo, vale a pena tentar por esta alternativa...

- Eu aceito então. 

Promotor Sedutor - Livro 3 - Trilogia FarcolandOnde histórias criam vida. Descubra agora