Capítulo 27

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Henrique

Por volta das sete da noite eu cheguei em casa para lá de exausto, meus pais quando me viram não entenderam nada e simplesmente subi para meu quarto e me joguei na cama. Por mais bêbado que estivesse ou como eu quisesse fechar os olhos e ir dormir, era impossível. Me viro de um lado para outro, implorando que o sono viesse, mas nada. Só me sentia exausto e culpado. Tem vezes na vida da gente que temos que tomar decisões, aquela que todos temem e evitam o máximo possível deixar que ela os dominem. Acontece com muita gente, e você sempre pensa que nunca vai acontecer com você, que nunca terá de fazer uma decisão difícil, mas quando chega a sua vez, você não tem escapatória, claro que eu ia pensar em todos prós e contras, a tontura causada pela quantidade de bebida alcóolica consumida, me deixava de estômago revirado. O teto branco do meu quarto expressava um vazio sem fim, nem sua claridade me ajudava a pensar, era a mesma cor do meu interior, vazio, sem fim, algo sem igual. Por mais que tentasse, eu me frustrava soberanamente e era o que me deixava com mais raiva ainda. Não conseguir discernir a razão do emocional. Uma coisa que sempre fiz questão de manter o controle e agora não tinha o controle que sempre gostei de ter, era como se eu estivesse flutuando pelos aires sem um destino, não havia céu e nem terra apenas eu vagando como um fantasma. Mesmo alguns minutos deitado me torturando, se passaram tão lentamente que chego a pensar que se passaram horas. Mas passaram apenas 7 minutos e minha cabeça anda fervilhando pelos acontecimentos de hoje, o que me deixa cada vez mais estressado. Eu teria coragem de revê-la novamente? De conversar com ela? Eu não entendo porquê estava com tanto medo.

Me sento na cama sabendo que o sono não viria e decido tomar um banho para relaxar os músculos tensos e rígidos, o que mais me deixava confuso fora a fúria extrema que se apossava de minha pessoa, era que pela primeira vez eu estava me preocupando com alguém além de mim mesmo. Qualquer decisão que eu tomar vai pôr uma chave mestra para a minha carreira, o que vão pensar do promotor do diabo que costumava dizer ''Culpado'', em nenhum momento a palavra ''inocente'' saiu da minha boca. E a ideia de fazer isso com Camila, me assustava. Acho que esta palavra me define melhor com qualquer coisa que eu esteja sentindo agora, eu estava apavorado com a ideia de retroceder a quem eu sou. Mas por que estou me preocupando com isso? Eu posso saber que ela é quem vou condenar no dia de seu julgamento, mas ela ainda não sabe quem eu sou, então posso reverter a situação sem me sentir confrontado com a situação. Me levanto da cama e pego uma toalha limpa branca no meu guarda-roupa e caminho em direção a porta, quando a abro vejo Ronaldo passar transtornado, ele parecia estar com muita raiva, mas esforçava-se para se controlar. Sei que tenho que me desculpar por aquele dia em que quase o deixei no hospital, André deve ter tido resultados melhores que eu e Gabriel, pois parece estar funcionando, pelo menos que em pouca parte. Saiu para o corredor e vejo ele de costas usando sua roupa badboy. 

- Ronaldo? - chamo com a voz contida, estou sem jeito.

Ele pára se mantendo de costas para mim.

- Quero pedir desculpas pelo... - no mesmo instante que estas palavras saíram de minha boca ele se vira e tenho uma visão melhor de sua fisionomia.

Os cabelos escuros recém-molhados indicam que havia tomado banho, mas seu rosto estava com com hematomas bastantes visíveis. O lado esquerdo de seu rosto estava tomado com uma bola roxa bem escura pegava da maçã do rosto até a cima do supercílio, seu olho o globo branco estava domado pelo sangue sobrando apenas a íris escura, seu nariz estava inchado e bem avermelhado no corte curvado no centro do nariz, e sua boca também, seus olhos expressão fúria e indignação. Eu acabei com a cara dele e aquilo me acertou como uma faca de dois gumes.

- Quer mesmo se desculpar? Acha mesmo que vai fazer isso – ele apontou para os ferimentos. - desaparecer de meu rosto?

- Sei que não vai, eu não o vejo apenas como primo, quase um irmão, eu perdi a cabeça naquele dia...

Ouço sua risada irônica.

- Me considera um irmão? - pergunta com deboche. - Agradeça a André por eu não registrar queixa contra você e saiba desde já que ele é o único que pode se dirigir a mim. Mesmo com meu erro do passado.

Dou um longo suspiro.

- Eu sinto muito pelo que aconteceu, aceite se quiser, fiz a minha parte. - digo por fim.

- Que bom.

Ele se virou novamente e sumiu de minha vista como fumaça, pelo menos o demônio do homem estava sendo controlado. Entro no banheiro e coloco a trava para não correr riscos constrangedores com Renata, não tenho a visto ultimamente desde o dia do ocorrido também e isso aglomerou dentro de mim, ela estava chateada e eu no seu lugar faria o mesmo. Mas agora só quero tomar um banho gelado e tentar dormir mesmo que seja um pouco.

[...]

Depois de um banho demorado de quase uma hora, entro em meu quarto e me lembro da minha noite como foi a mais feliz de todas que já tive, pois foi algo que eu desejei, algo que almejei. Foi diferente de tudo que senti pelas outras. A consciência era diferente, as outras eu fazia por diversão e por pura necessidade, com ela não eu me senti diferente. Eu preciso fazer algo em relação a isso, senão vou surtar. 

Promotor Sedutor - Livro 3 - Trilogia FarcolandOnde histórias criam vida. Descubra agora