- Sua cara está péssima, baby – Delphine ouviu Felix dizer assim que se afastou. Os olhos da jovem estavam inchados e não soube mensurar o tempo que ficara ali abraçada a Felix, podia apenas afirmar, sem sombra de dúvidas que suas pálpebras tinham adquirido um tom rubro que quase aproximava ao roxo, simplesmente por saber que sua pele era clara demais para disfarçar qualquer reação que tinha.
A jovem passou as costas das mãos por sobre as lágrimas, que ainda se faziam presentes, numa tentativa inútil de secá-las. Naquele momento Delphine se viu obrigada a pegar novamente um lenço no bolso, passando-o dessa vez por toda extensão de sua face abatida. Após aquele gesto reparou que o pequeno lenço de papel branco continha traços de batom, de delineador, e até resquícios do pó compacto que havia aplicado naquela manhã, e para a jovem Cormier ser vaidosa após aquela tormenta de emoções ficou em segundo plano, como a muito tempo não ficava.
Delphine não se importou mais em conter aquele sentimento de tristeza que lhe era crescente, e inevitável. A jovem não podia mais conter toda aquela carga emocional que estar em meio a um abraço amigo lhe havia despertado. Estava em casa, e ela agradeceria eternamente a Felix Dawkins por ter estado ali, para ela, quando ninguém mais havia estado.
Felix era aquela pessoa que Delphine sabia que poderia classificar como amigo em seu sentido mais amplo da palavra. Eles eram parentes, mas aquele era um pequeno detalhe, que em momento como aquele a jovem Cormier se esqueceu, pois conhecendo Felix como conhecia, sabia que ele agiria da mesma forma, mesmo se ela não fosse sua prima.
A jovem lembrou-se que foi Felix o encarregado de lhe informar o falecimento de seu pai há uma semana. Aquela notícia surpreendera Delphine, e a deixou em estado de choque, como ainda estava naquele momento.
Delphine sempre considerou John Cormier uma pessoa saudável e ter a noticia de que um câncer nos pulmões o havia levado, não foi uma noticia que aceitou facilmente, a única coisa que fez Delphine convencer-se que aquilo não era um a brincadeira de mau gosto, foi o fato de o mensageiro ser Felix. Felix lhe comunicou, da forma mais calma que pôde e o jovem se emocionou e lhe consolou, mesmo sendo por telefone, a quilômetros de distância. Felix até mesmo se dispôs a lhe ajudar no que fosse necessário e ali estava ele, sendo um ótimo amigo, confortando ela.
A jovem culpava-se por não estar próxima ao pai naquele momento e perguntava-se desde que saíra de Paris o motivo pelo qual estava voltando para Toronto. Delphine tentava não pensar no choque que seria rever todas aquelas pessoas que havia deixado para trás e tentava não pensar em como estava perdida e sem chão com todos aqueles acontecimentos. Mesmo Delphine tendo feito todas as adequações que foram possíveis, soube no mesmo dia que não poderia chegar a tempo no funeral do pai, e internalizou aquilo conformando-se em dar seu o último adeus a John, quando estivesse em Toronto, depois que sete dias passassem.
"Espero que tenha tempo para me ver enquanto estou vivo, porque depois que eu morrer será tarde."
Lembrou-se Delphine que aquela era uma frase que o velho John Cormier costumava dizer nas poucas palavras que trocavam por telefone. Delphine não acreditava que a doença do pai seria algo recente, mas sabia que se não o era, a escolha de não dizer nada, foi dde John. Devido a todas aquelas circunstâncias a jovem cientista deu-se aquele prazo de sete dias, John havia morrido e nada que ela fizesse o traria de volta. Naqueles sete dias a jovem cientista resolveu questões de sua mudança e de sua transferência do último semestre do mestrado em Genética para a Université de Montréal, ainda não acreditava que havia conseguido aquela transferência de forma tão fácil, mas não considerava um milagre, visto que havia dito de quem era filha. Em Toronto ninguém negava nada a um Cormier. Delphine não deixou laços em Paris, até porque era uma pessoa solitária e extremamente ocupada, e não podia dar-se ao luxo de criar laços ou de envolver-se em relacionamentos e por mais que Delphine adorasse viver na cidade luz, sabia que seu retorno a Paris não seria tão breve e depois de ter resolvido todas aquelas questões, a herdeira de John Cormier pegou seu voo programado rumo ao Canadá, ela sabia que não deixaria Toronto tão cedo.
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Defy Them
FanfictionCosima era a caçula de quatro irmãs, e mesmo que pelo jeito desastrado e irresponsável ela duvidasse que pertencesse a talentosa família Niehaus, responsável por um dos Cafés mais bem-sucedidos de Toronto, a irmã gêmea a fazia descartar a hipótese d...