38. Ficou contemplando seu tesouro...

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Por mais que quisesse disfarçar o sorriso que saía sem que contivesse, Cosima não conseguia. Suas ações eram involuntárias. Estava em êxtase. Feliz. Satisfeita.

Não sabia há quanto tempo não se sentia tão bem, mas sabia que tudo era apenas um reflexo de seu íntimo por ter conseguido o que tanto queria. Delphine.

As lembranças dos momentos que acabara de ter com a ela, surgiam, a entorpeciam e ficavam. Nem em sua imaginação bem fértil e ousada, houvera imaginado que ela seria tão doce, tão linda e tão gostosa. Aquilo enlouquecia Cosima apenas por pensar.

Não tinha dúvida alguma ao afirmar que Delphine lhe meteria em sérios problemas, por que já estava metida em um, que era não deixar de pensar nela, em como tudo estava sendo bom demais para ser real.

A rapidez com que despiu a roupa intima, entrando debaixo da água fria, era apenas para voltar o quanto antes para perto dela. Delphine estava presente entre seus lençóis, entregue, nua e divina, como deveria ser. Como Cosima queria que fosse dali para frente.

Sentiu a água fria, tocando sua pele, espalhando-se, acalmando sua circulação, sua intimidade.

O barulho da água chocando-se com o piso ecoava pelo pequeno recinto, deixando-a presa em seus próprios pensamentos. Queria que a água também retraísse aquela chama que Delphine acendera, incendiara, sem pudor algum, mas ao mesmo tempo adorava sentir todas aquelas sensações.

Por mais que se perguntasse, não lembrava há quanto tempo estar com uma mulher não a afetara daquele jeito, não na primeira vez juntas, não ao ponto de ao tê-la continuar a sentindo aquela vontade por mais, de imediato, uma vontade que a consumia. Não havia mentido, quando dissera que queria aproveitar a oportunidade que estavam tendo, mas algo, dentro de Cosima, dizia que não era só aquilo.

O termo aproveitar, limitava muito seus anseios quanto àquela mulher. Muito antes havia pensado que deveria ser só um momento, só aquele tesão, só uma transa casual. E fim. Concluía depois de vê-la chegar ao clímax em suas mãos, que não era. Não seria, e seguir com aquela afirmação, não enganaria nem a mais inocente das pessoas. E inocência não se aplicava nem a ela, nem a Delphine Cormier.

Omitia informações de Delphine para se proteger. O que confessara havia sido uma linda história, mas havia muito mais que não cabia dizer, não naquele momento.

Havia algumas partes em que a palavra desastre se encaixaria perfeitamente.

Delphine não precisava saber que olhar para seus cabelos louros, seu sorriso, e toda sua timidez, fazia com que lembrasse e muito sua primeira paixão quando criança.

Delphine não precisava saber das noites que passara chorando escondida, ou nem tanto, buscando entender do porque era diferente de suas irmãs, de suas colegas, que gostavam de rapazes, que saíam com eles, que se interessavam por eles, que namoravam com eles.

Delphine não precisava saber das inúmeras vezes que havia sido motivo de piadas preconceituosas na escola, na rua, dos olhares de desaprovação que recebera, até mesmo de pessoas que eram próximas demais.

Mas já passara. Seria demais para si mesma dizer tudo aquilo, nem queria imaginar como seria para Delphine ouvir suas lamentações. Já dissera mais do que deveria, e ainda procurava entender onde estivera com a cabeça para abrir-se daquela forma. Mal se conheciam. Mal a conhecia. Havia se exposto e agradecia mentalmente por não ter derramado lágrimas ao lembrar-se do passado, das incertezas, da tristeza.

Foi aconchegante receber aquele olhar complacente, responsável por fazê-la sorrir sozinha. Um pequeno gesto que fazia seu coração bater mais rápido e mais lento ao mesmo tempo, e por mais que houvesse uma sinceridade, uma troca, queria mais, precisava de mais.

Defy ThemOnde histórias criam vida. Descubra agora