Defy Them

50. Não devia jamais ter fugido.

Desde que saíra de casa naquela manhã Delphine sabia que seu estado emocional estava afetado, e que sua aparência não era a das mais invejáveis, mas não foi aquilo que a fez demorar mais que o necessário para chegar em casa, foram seus compromissos.

Assim que saiu do loft de Felix, o primeiro pensamento da jovem compreendeu em ir direto para casa, para refletir sobre o que havia acontecido, mas a necessidade a fez pedir para o motorista parar em alguns lugares específicos durante o trajeto.

Delphine sabia que poucas pessoas a reconheceriam com aqueles trajes, por isso sentiu-se mais à vontade para passar em algumas lojas já conhecidas por ela, onde comprou utensílios para o lar, além de lençóis e toalhas que usaria em breve, provavelmente mais em breve que os objetos das primeiras compras.

Durante o trajeto a loura tentara contato telefônico com Virginia para pedir um favor, e como o esperado a tia não havia lhe atendido. Após a última parada onde locou um veículo a seu gosto. Delphine foi para casa.

Graças as paradas conseguira resolver boa parte das questões que não tivera nem tempo, nem ânimo, para resolver pela manhã, e graças as paradas não teria motivo para sair do novo apartamento naquele dia.

Assim que adentrou pela pesada porta de madeira uma sensação de alívio em misto a uma solidão muito conhecida atingiu Delphine, com a mesma intensidade que uma descarga elétrica forte, as sensações vieram e mesmo a jovem estando satisfeita por estar onde deveria estar, foi inevitável para ela sentir o vazio, sentir-se solitária.

Separando os objetos que havia adquirido, Delphine organizou cada qual em seu lugar e assim que terminou, sentou-se na cama e buscando o aparelho celular que estava próximo tentou novamente contato com Virginia, que novamente não lhe antedeu. Provavelmente ela estaria em alguma reunião importante.

Com o aparelho em mãos baixou as mensagens recebidas, havia mais curiosidade no gesto do que qualquer outra coisa, seria esperar demais que surgisse ali a resposta de uma pessoa em especial. Se Cosima houvesse respondido teria visto nas outras inúmeras vezes em que olhara para o aparelho naquela mesma tarde, mas como nas outras vezes, não havia nada novo.

Delphine não soube o que a motivou naquele ato impulsivo que seguiu suas ações, talvez a ânsia por ouvir a voz de Cosima, talvez a necessidade em confirmar por outro meio que realmente tudo estava bem entre elas. Tateando o display até a parte inferior, selecionou o contato dela e em seguida a opção chamada e enquanto o nome de Niehaus aparecia na tela confirmando a ligação que se iniciava, a esperança estampou os olhos âmbar que brilhavam como os de uma criança e enquanto esperava uma resposta a esperança lá ficou, até o último instante onde a chamada foi encaminhada para a caixa postal.

Afastando o aparelho Delphine desligou a chamada e deixando o aparelho de lado, levantou-se caminhando até o banheiro, onde esperou a banheira encher com água quente, onde em seguida despiu-se vagarosamente e na água entrou e lá ficou.

Delphine não soube que horas eram, mas algo no ambiente pouco familiar levou-a a pensar que já era tarde. Muito tarde.

A jovem não soube definir se o motivo de suas conclusões havia sido o tempo empregado no banho morno e relaxante que quando chegou levou mais de suas energias que o esperado ou se foram os pensamentos inquietantes que a fizeram viajar quilômetros, levando-a a muitos lugares distantes da enorme banheira onde de repente viu-se imersa.

Os pensamentos de Delphine abrangiam o reencontro que teria com a família, e como tudo seria diferente daquela vez, por que não havia mais o patriarca que as unia. Queria saber o quanto à ausência de John mudaria a relação tão conturbada que tinha com a madrasta e as irmãs e desde o pesadelo que tivera no dia anterior, as oscilações de seu humor, levavam o temor por um reencontro ao ponto mais extremo.