10. As pessoas adultas não compreendem nada sozinhas.

341 29 16
                                    

Ao passar pelas amplas portas de vidro do teatro, Delphine sentiu como a brisa da noite havia se tornado gelada. Não calculou quanto tempo havia se passado desde o momento em que entrara com Felix até naquele momento, mas calculava que não havia se passado mais que uma hora. Observou as ruas bem iluminadas em tom amarelado, devido luz artificial presente, a noite quase em seu ápice, um misto de sons inteligíveis. Notou o grande número de pessoas circulando por todos os lados, algumas mais apressadas, outras nem tanto. Notou os veículos movimentando-se pela avenida ao longe, quase congestionada, as luzes vermelhas dos faróis incomodando seus olhos. Suas bochechas provavelmente coradas devido ao encontro com a noite. Foi automático seu gesto ao passar os dedos finos pelos cabelos, checando se haviam ficado desordenados por conta da brisa.

O sorriso largo que se desenhou em seus lábios foi involuntário, ao constatar o cabelo estava da mesma maneira que havia organizado minutos antes, assim como foi involuntário que os pensamentos a levassem a jovem com dreadlocks escuros e com o sorriso tímido, que estava sendo difícil de esquecer, Cosima, a dona do casaco vermelho que ela ainda vestia e que há alguns minutos perfumava cada pensamento que surgia em sua mente. Delphine estava confusa e assustada, além de não saber o que estava fazendo, e tinha medo de lidar com as consequências do que realmente queria fazer.

Delphine cruzou os braços finos, fazendo com que suas mãos frias segurassem ambos os cotovelos. Estava indecisa e temia se arrepender pela atitude que estava tomando. Permitiu-se aguardar alguns instantes em frente ao teatro, contemplando a rotina da cidade, enquanto reunia coragem para dar os primeiros passos em direção ao ser lar temporário. Embora fizesse anos que havia abandonado seu vício por cigarros, não conseguia esconder sua ansiedade por ter um ali, naquele momento, talvez ajudasse a aliviar a tensão, talvez ajudasse sua mente a fugir daqueles pensamentos. Era isso o que ela sempre fazia. Fugia. Estava mostrando-se forte, mas em seu íntimo todas aquelas descobertas em misto a montanha-russa que estava sua vida, só piorava tudo. Ela se conhecia o bastante para saber que aquele encontro inocente com a jovem Cosima a afetaria, já estava afetando. Foi impossível para ela não pensar em como os braços desnudos de Cosima reagiriam àquela brisa. A morena vestia apenas uma regata e por ter optado pelo casaco, mesmo antes, quando estava mais fresco, significava que ela era daquelas mulheres prevenidas ou das que se sentiam incomodadas por sentir frio. Delphine poderia muito bem procurar a jovem e devolver a peça, mas o simples pensamento em nela, em encontrá-la já a incomodava. Por alguns instantes aquele pensamento em Cosima, lembrou-a no motivo de ter mentido para Felix.

- Delphine Cormier?! – pode ouvir uma voz grave lhe chamando.

- Oui! – respondeu automaticamente, ainda presa em seus pensamentos, fazendo um movimento na tentativa de localizar de onde a voz havia surgido, constatando sua origem depois de já ter respondido ao chamado.

Havia visto o vulto passar alguns segundos antes à sua frente, mas não focou sua atenção, fazendo-o apenas quando o jovem deu alguns passos até que estivesse a sua frente novamente. Conseguiu distinguir face familiar em meio à penumbra. Os olhos esverdeados em meio ao emaranhado de fios castanhos revoltos. A barba preenchia cada espaço em seu queixo e a face do homem parecia surpresa ao encará-la mais próxima.

- Tony!? – afirmou enquanto inclinava a face para que encostasse contra a dele, em um leve toque. Um sorriso envergonhado surgiu em seu rosto, pelo encontro inesperado. Tentou não sentir-se incomodada pela forma como a barba fina tocou em sua pele sensível, e a surpresa por encontrar alguém conhecido de forma tão inesperada, lembrou-a de como o mundo era pequeno, mesmo estando em uma cidade do tamanho de Toronto com mais de dois milhões e quinhentos mil habitantes.

- A boa filha a casa torna! – ouviu o dizer enquanto afastava-se lentamente baixando os olhos para admirá-la. Se fosse qualquer outra pessoa que o estivesse fazendo, Delphine se sentiria incomodada, mas conhecia Tony Sawicki há alguns anos e seu estranhamento seria se ele não tivesse feito algo como aquilo. Ela deixou o constrangimento de lado e permitiu-se observar o jovem a sua frente, reparou em como os cabelos castanhos mais longos que os dela estavam amarrados de forma despojada, em como a camisa xadrez com mais de três tons de verde estava dobrada nas mangas e desabotoada em seus dois primeiros botões no peitoral, que naquele momento eram o suficiente para deixar à mostra o peito desnudo que havia por baixo. Delphine notou que a calça Jeans azul clara destacava-se pelos rasgos na região do joelho, e da coxa e que se fosse o tipo de mulher que sentisse facilmente atraída por homens charmosos e com um corpo atlético, teria caído nas conversas de Tony, as infinitas vezes que ele havia flertado com ela.

Defy ThemOnde histórias criam vida. Descubra agora