33. Nunca saberei a hora de preparar meu coração!

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- O que está acontecendo com você Niehaus? – Cosima perguntou-se. Já havia perdido as contas de quantas vezes havia feito a si mesma, aquela mesma pergunta.

Não precisava de muito para entender que a mulher que acabara de entrar em seu banheiro era a única responsável por aquilo. A jovem Niehaus mal se conhecia desde que a vira, e mesmo sem uma resposta para as perguntas que se fazia, queria acreditar que a evasiva, não tão furtiva ao beijo da mulher que mais quisera desde que despertara naquele domingo, ocorrera porque seu ego falara mais alto, e como uma criança que acabara de perder um jogo de par ou ímpar, quisera mostrar a Delphine que quem mandava naquele jogo era ela.

Preferia acreditar que Cormier houvesse entendido daquela forma, e se não o houvesse, esperava ter a chance de esclarecer ainda naquela noite, já que não tinham conversado sobre o que claramente estava acontecendo quando se aproximavam.

Conversar sobre os picos de desejo em que a vontade de estarem juntas era aplacada ou tocando-se ou beijando-se, era o que menos faziam e talvez fosse aquele o problema, não tinha uma conversa, e aquela ponta ficava sempre solta e ao invés de amarrarem-na, elas insistiam em soltar mais fios fazendo com que cada vez ficasse mais difícil de voltar a sua forma inicial.

Não que Cosima acreditasse que conversar com Delphine resolveria aquilo, estava mais inclinada, a concluir que talvez o que precisavam mesmo era de uma transa casual e nada que ultrapassasse aquilo.

E por mais que a sua insegurança em tudo ao que referia-se a Cormier, houvesse esvaído de seu intimo, aquele momento longe dela, em seu próprio quarto depois de beijá-la debaixo de uma chuva torrencial, fazia Cosima lamentar-se por não conseguir distinguir o pouco que restara da insegurança com o temor que que ganhava forma, o temor de que se ultrapassasse aquele ponto entre o sexo casual e as emoções que aquela mulher despertava ao admirar sua timidez, e que depois poderia nunca mais querer outra mulher além dela.

Em todos seus anos de vida pós-adolescência, Cosima sempre havia mostrado-se corajosa, e no controle dos sentimentos que lhe habitavam, e ainda mais obstinada no que tratasse de sua sexualidade. Havia adquirido juntamente com o seu diploma de seis temporadas de The L Word, a ser uma galanteadora, Shane era a maior responsável por aquilo, embora o caráter dela não fosse o melhor exemplo a ser adotado para a jovem inexperiente que tinha sido.

Era nostálgico para Niehaus, lembrar de todo o passado bom em alguns aspectos e difícil, para dizer o mínimo, em outros. Naquele passado em que deixara a casa da mãe, para estudar em Western, a independência em contraponto com a timidez e faixa de lésbica nerd estampada em sua testa, a faziam ser um prato cheio em um campus habitado por homens e sua maioria, mas com outros campus bem mais interessantes ao seu redor, e naquela época, se uma mulher bonita que lhe despertasse aquele desejo, ela corria atrás sim, até conquista-la e ter o que ela costumava chamar de cereja no bolo, termo inventado por Sarah. Havia naquele meio também as que seduzia apenas por diversão, que apesar de não ser tão prazeroso, pois não incluía a cereja, era engraçado para passar o tempo em seu convívio anti-social.

Felix Dawkins tinha conhecido um pouco daquele seu lado e mesmo odiando Shay, tinha ajudado ela naquela fase de transição, entre o inicio de namoro com Shay e a vida que até então gostava de levar. Lembrou então que ela e Shay tinham tardado em assumir um relacionamento exatamente por aquele motivo, e Shay apesar de todos os defeitos tinha muitas qualidades.

Shay Daydov tinha seu mérito, não era porque não namoravam mais que esqueceria daquilo, mas quando a conhecera Cosima já estava um tanto quanto entediada e em um circulo restrito de amizades. Já que a maioria das mulheres com as quais saíra, não eram maduras ao ponto de querer vê-la depois de um distanciamento necessário, como Niehaus delicadamente definia como um tempo sem dar noticias até que a jovem desistisse de procura-la, e que sempre justificava com estudos em excesso e problemas familiares.

Defy ThemOnde histórias criam vida. Descubra agora