40. Mas é preciso esperar...

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A ideia de fazer o trajeto até o carro com os pés descalços, não parecera tão ruim para Delphine em um primeiro momento, mas sentir aquele choque térmico desde sua base de equilíbrio corporal, tendo seu corpo em contato constante com o piso frio estava resumindo-se em uma tragédia até então.

E quando sentia o calor que seu corpo emanava chocando-se com o piso, que parecia encoberto por uma fina camada de gelo, tudo se tornava bem mais trágico.

Naquela troca que já se tornara constante, parecia que o calor era absorvido, e diminuindo aos poucos, e o frio tomava conta sem pudor algum, atingindo seus ossos, causando lhe desconforto, dificultando sua linha de raciocínio.

Delphine tinha ciência de que tudo estaria sendo tão mais fácil se tivesse esperado Cosima voltar, na verdade aquilo era o mínimo que deveria ter feito antes de sair do jeito que saíra, de deixa-la do jeito que deixara.

Nenhuma das duas estava ali pelo fácil e Delphine não se orgulhava de ter agido com tamanha imaturidade, mas aquela era quem ela era, uma mulher que fazia as coisas sempre do jeito torto, o jeito que aprendera.

Sempre do seu jeito, por muitas vezes do jeito mais difícil e mais doloroso.

Quem não a conhecia, poderia até julgá-la como uma mulher movida por impulsos, mas enganavam-se porque todo aquele temor era fruto de um amadurecimento falho. Problemático para dizer o mínimo.

A verdade era que Delphine sempre nutria muitas esperanças. Sempre esperava ter o melhor das pessoas, e sempre sofria, sempre se decepcionava, e o que a afligia naquele momento era que não sabia até que ponto aquilo era culpa das atitudes que tomava.

Queria parecer forte, queria não deixar-se seduzir pelas conversas e pelas gentilezas de Cosima, mas havia sido fraca. Havia sido alguém que ela não conhecia.

Deu passos apressados até o fim do corredor que parecia ter o dobro do tamanho, desde a primeira vez que passara por ali, então lembrou-se que não sabia o caminho que levava as escadas de emergência, procurando com os olhos um tanto inquietos, em todas as direções e naquela busca veio até mesmo um desejo de dar meia volta e despedir-se de Cosima, de pedir ao menos desculpas pelo que estava fazendo. Niehaus merecia uma justificativa.

E o breve barulho que ouviu, em seguida, do elevador que no timing perfeito acabara de abrir as portas, direciou suas ações, dando-lhe um caminho para seguir e desviando sua mente da ideia inicial. Se voltasse para Cosima poderia surpreender-se, poderia descobrir-se de uma forma única e talvez perder o foco dos planos que havia feito para sua vida, do real motivo de ter voltado para Toronto e não podia dar-se aquele luxo. Não tão cedo.

Os passos automaticamente voltaram a ser dados, cada vez mais apressados, evoluindo para uma curta corrida assim que viu um casal com algumas sacolas em mãos deixando o elevador em meio a risos, que cessaram assim que observaram a maneira que ela se vestia, ela levou à mão direita a porta que já fechava. Abrindo-a de imediato

Já com o elevador vazio, abrigou-se, sem dar sequer um último olhar para trás. Evitando ao máximo qualquer gesto que se assemelhasse, virando-se apenas quando viu no reflexo do espelho em frente, as portas se fechando. Não olhara para trás, não porque não nutrisse esperanças de que Cosima ali aparecesse, mas porque sua visão se tornara um borrão, e se não focasse no objetivo que tomara, se perderia.

Apertou dois botões consecutivos do elevador acertando na terceira vez o que precisava. Observar no espelho interno as bochechas coradas foi mais do que suficiente para expor a tolice que estava cometendo, mas não iria voltar.

Voltar implicava em uma entrega que não se via capaz de oferecer, e não queria trazer de volta toda a insegurança, toda a tristeza de seu passado, e por mais que Delphine o estivesse ignorando, tudo era forte demais para ser ignorado.

Defy ThemOnde histórias criam vida. Descubra agora