23. As pessoas grandes são mesmo extraordinárias.

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Três anos longe de Toronto haviam sido mais que suficientes para fazer Delphine esquecer-se de como o trânsito naquela metrópole sempre acabava com seu humor, até mesmo nos melhores dias, o que não era o caso daquele domingo especificamente. Ela poderia desmembrar o motivo do congestionamento associando-o a vários fatores, como o local no qual queria estacionar, somados ao horário de fim de tarde e multiplicando-o pelo agravante de ser domingo, o que ela poderia mais comumente chamar de hora do rush. Ela odiava-se por não ter lembrado daquilo, quando optou pelo carro, que pareceu mais prático em um primeiro momento e mesmo que em tese ela não estivesse atrasada pois não tinha um horário marcado com Virginia, nada conseguia tirar dela aquela sensação de estar atrasada.

Delphine tamborilava o volante à frente com os dedos magros. A música baixa que soava estava agradável, e preenchia o silêncio que ela não saberia lidar se habitasse o interior do veículo. A canção que tocava, mesmo sendo desconhecida lhe fazia cantarolar, e trazia uma calma que Delphine havia sentido sumir desde que saíra do compromisso agendado com o corretor minutos antes. Desviou a atenção dos veículos à frente detendo-se no semáforo acima que fazia mais de um minuto que estava vermelho.

- Vamos lá. O que você está esperando? – murmurou Delphine demonstrando a impaciência em lidar com aquela situação cotidiana. Ela só queria a mudança do vermelho para o verde. Aquele não era um desejo tão impossível.

Tempo era algo tão relativo, um minuto presa ali parecia uma eternidade, e lutar contra o tempo, levou-a ainda naquela impaciência começava a aparecer, e já lhe incomodava, levando-a a fazer outro cálculo, bem mais significativo. Delphine analisou, a decisão que havia tomado anteriormente, que definia onde estaria morando nos próximos doze meses. Doze meses que seriam trezentos e sessenta e cinco dias no apartamento que era exatamente como ela queria. Perto do Dyad e decorado como ela pedira, ainda havia muitos detalhes a serem definidos, mas o primeiro passo já havia sido dado. Não era como se ela fosse obrigada a cumprir todo o período, já que havia a quebra de contrato, mas ela gostava de cumprir com as obrigações, e havia ficado muito satisfeita com o lugar. O foco dela naquele momento, não era os gastos ou o tempo lá, ou em qualquer outro lugar, mais sim a liberdade, o bem estar e a paz de estar consigo mesma.

Felix ficaria muito chateado, mas ela não podia fazer algo diferente daquilo, já que havia exposto a ele por diversas vezes o desejo de voltar à vida independente que tinha. Ela concordara com os termos e assinara o contrato de locação, que incluía toda a mobília do local e à partir dali, ela poderia mudar-se quando quisesse, inclusive ela já pegara as chaves do local. O que para ela significava que no máximo até a quarta feira, da semana que se iniciara tudo já teria arrumado tudo para poder lá ficar.

Se Delphine não houvesse ligado para Virginia minutos antes informando que estava a caminho do escritório, ela teria desistido da visita cortes, assim que se meteu naquele caos. Não havia duvida alguma para aquela jovem que aguardava impaciente que teria seguido em frente, e fugido dali, já que aquela era a terceira vez que passava naquela mesma quadra, e ainda não conseguira encontrar uma vaga disponível. E como uma realização da súplica que ela murmurava, viu o sinal tornar-se verde e como bônus um veículo poucos metros a frente dar sinal luminoso de que deixaria a vaga ocupada à esquerda. Ali ela estacionou o veículo com agilidade e enquanto buscava a bolsa, notou que mesmo não sendo em frente ao destino final, o local estava a menos de uma quadra da Dawkins Advocacia.

A caminhada até o prédio imponente foi saudosa para aquela jovem, ela observava cada detalhe na avenida tão conhecida, em um passado não tão distante. Havia uma grande movimentação de pessoas caminhando de ambos os lados, o horário era o mais propício a piqueniques no Central Park, que era próximo, e era visto que aquele era o destino pelos trajes casuais que as pessoas que por ela passavam vestiam. Para Delphine, tudo aquilo era previsto agora que analisava com mais calma, congestionamentos, piqueniques, passeios de fim de tarde nos tantos parques de Toronto, quando mais nova, ela sempre quisera fazer um passeio como aquele, por ali, como muitas coisas, que nunca fizera ou por falta de tempo, ou por não querer colocar a solidão em um pedestal, fazendo programas como aqueles, sozinha.

Defy ThemOnde histórias criam vida. Descubra agora