56. Amarrar? Que ideia esquisita.

193 12 2
                                    


Logo após as confissões de Cosima sobre o que, e como se sentia, Delphine não conseguiu formular uma resposta que expressasse os próprios sentimentos, e buscou, naquele meio tempo, algo que justificasse sua falta de ação. Ela sabia apenas que era perigoso nutrir sentimentos por alguém como Niehaus.

Até então, não medira as consequências que surgiriam ao enfrentar aquele medo de doar-se a alguém, mas sabia que eram grandes. E talvez pela delicadeza de Niehaus em especificar que não exigiria mais do que ela estava disposta a dar, ou talvez porque sabia desde o começo que precisava de alguém em quem confiar, optou por não racionalizar mais que o necessário sobre o que acontecia.

Delphine ainda era invadida pelas palavras de Niehaus revoando sua mente, naquela esperança boba de que talvez tudo aquilo que a morena havia dito realmente fosse verdade, e mesmo sem conhecer o bastante Cosima, mesmo sem a ela ter lhe dado garantias, queria acreditar simplesmente por que se conhecia e era inevitável que aquela ponta de esperança lá ficasse. Era melhor arrepender-se por ter tentado do que por não ter arriscado.

Era óbvio que Delphine tinha medo do futuro, e não muito distante dele havia o medo daquele sentimento indefinido. Para ela, com toda a sua razão aflorando, tudo parecia estar acontecendo cedo demais, tudo parecia estar sendo intenso demais, confuso demais, sobrecarregado demais para alguém que compreendia pouco de sentimentos.

Quando pensava nas decepções que poderiam vir, pensava também que Cosima Niehaus desde o começo mostrara-se diferente de todas as pessoas que conhecera. Não poderia perdê-la por medo.

Medo em suas mais diferentes formas sempre fizera parte da vida de Delphine. Ele estivera lá, muito antes dela conhecê-lo como conhecia naquele presente, ele estivera lá, muito antes dela defini-lo como tal. Com o tempo, ela aprendera o quanto o medo era necessário para ser uma sobrevivente, e o quanto enfrentá-lo era ainda mais necessário para se viver.

— Volte para mim. — pediu Cosima em um sorriso tímido, enquanto contornava o queixo fino de Cormier com a ponta dos dedos.

Delphine havia imposto certa distância entre elas, no momento em que os pensamentos a tinham levado dali, e Cosima a observava com curiosidade, enquanto notava o semblante confuso e o olhar distante.

Particularmente Niehaus não gostava daquela seriedade na face serena de Cormier, pois além da loura mostrava-se alheia a tudo o que a rodeava, ou o que lhe era dito, ela parecia viajar a anos luz de onde encontrava-se, perdida, inacessível.

— Eu estou aqui! – garantiu Delphine, a voz baixa, divagante, o olhar para algum ponto fixo no ambiente ao qual a morena dava as costas.

Ela afagou a mão de Cosima que lhe tocava, envolvendo-a e baixando-a para que ficasse entre as suas.

— É muito sensato que temamos o desconhecido! – afirmou Cosima, no intuito de chamar a atenção da loura, e não foi preciso mais que aquelas palavras para que ela deixasse de olhar ao longe.

— Esse é um conselho bem útil! – murmurou Delphine, sem deixar de mostrar-se assustada pela exatidão dos termos usados por Niehaus. Ela baixou o olhar para a morena, admirando-a, sem saber o que dizer. Era como se Cosima tivesse ouvido cada um de seus pensamentos e os confrontasse ali.

— Nós não podemos deixar que o medo guie nossas escolhas, isso pode nos transformar em covardes. — advertiu Niehaus, buscando com os dedos um novo toque na face da loura, que naquela vez foi impedido, antes mesmo de ocorresse.

O olhar sério de Cormier fuzilou-a por instantes, assim que as palavras a atingiram.

— Ser covarde, às vezes não é uma questão de escolha! — afirmou Delphine, em uma resposta curta e direta, deixando mais que claro que não queria aprofundar a conversa naquele sentido, não depois de tudo o que haviam conversado.

Defy ThemOnde histórias criam vida. Descubra agora