20. É tão misterioso o país das lágrimas.

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- Você achou que fugiria de mim? – a voz que sussurrava aquelas palavras era conhecida, e Delphine não precisava de muito para saber que era Cosima Niehaus que se fazia presente. Como não reconheceria a voz da mulher, que desde o primeiro momento em que se fizera presente mexera com cada partícula daquele corpo, com cada pensamento que pairava lhe a cabeça e com cada certeza que se fazia mais sensata ao tê-la próxima. Delphine via-se tão frágil, por comportar-se daquela forma perante ela, e sem saber em que realidade se encontrava, sentia-se fraca, sentia-se vulnerável, sentia-se exposta. Enquanto mexia as pálpebras com estranheza, tentando acostumar-se com a claridade Delphine fixou a atenção no cenário majestoso que exibia-se gradativamente à frente. Ela tinha a sensação de estar despertando, o corpo deitado e a visão vislumbrando um céu límpido ao fundo, um céu com alguns contrastes devido as nuvens altas na cor branca. Um azul que trazia calma para os pensamentos, e certezas que até então eram dúvidas, incertezas que antes ela jamais confrontara.

Quando o sussurro cessou, ao longe Delphine teve os ouvidos preenchidos pelo o som das ondas, que pareciam romper-se, dando a sensação de que ela estava em alguma praia, e a brisa quente e carregada confirmava ainda mais aquela suposição. Para Delphine, contemplar o mar e as ondas era um dos cenários que mais lhe trazia calma. Para ela as águas que faziam parte daquela imensidão, que em uma existência efêmera rompiam ou ao nascer, ou no caminho, ou ao chegar na areia , e que mesmo depois do fim buscavam um recomeço, eram de uma poesia sem igual.

Ainda mergulhada naquela paisagem que desenhava-se em sua memória ela via acima sua paisagem ser encoberta por uma sombra, contrapondo-se ao azul, era a face da morena que sussurrara as palavras anteriormente. Cosima podia ser sentida tão próxima, que Delphine salivou ao sentir o hálito quente, acariciando lhe o rosto. Ela estava tão próxima que Delphine sentia como cada movimento suave difundia aquele perfume tão particular e ao mesmo tempo tão perturbador. Ela estava tão próxima que Delphine sentia a ponta dos dreads roçar a pele nua deixando um rastro de arrepios por onde passara. Ela estava tão próxima que sentia o frio subir lhe espinha e descer já fervendo dentro de sua intimidade. Enquanto despertava daquilo que parecia uma alucinação, Delphine ficou mais consciente do peso que lhe deixava estática. Ela sentiu como o corpo de Cosima, exalava aquele calor conhecido e pressionava-se contra o seu em uma superfície macia, na qual parecia afundada, talvez fosse areia, talvez fosse a cama que dormira por muitos anos em Paris, talvez fosse nada, ela não conseguia distinguir.

Delphine abriu e fechou os olhos com calma, tentando situar-se, tentando voltar à realidade. Ela puxou as mãos, com o único intuito de tocar aquela face tão angelical que ali já se delineava, queria confirmar o quão real aquilo era, o quão delirando estava, mas todo o esforço foi inútil. Ela estava imóvel como se os braços estivessem amarrados, como se não controlasse o próprio corpo, só os olhos mexiam-se. Nada mais respondia. Ela sentia aquela compressão incomum lhe prendendo naquela superfície, o corpo estava preso e ela estava assustada, mas ainda assim sentia tudo.

Delphine Cormier odiava não ter aquele o controle e estava se odiando ainda mais por constatar que talvez fosse Cosima que estivesse no controle, que ela perdera o controle por Cosima, e mesmo não podendo fazer muita coisa em relação a falta de controle, insistiu tentando girar o tronco e girar a cabeça, mas não conseguiu, nada aconteceu.

- Você não irá fugir, não de mim! – Cosima voltou sussurrar, a voz muito próxima ao ouvido dela, murmurando com sensualidade, e enquanto a voz tornava-se mais baixa, e as sensações mais altas. O corpo de Delphine começou a tremer e mesmo não tendo o controle ela vivenciava as sensações, experimentava as vibrações, e sentia o calor, e o desejo latente.

Como se fosse possível fugir daquela mulher, e como se ela tivesse cogitado fugir. Constatou com um sorriso.

A aproximação de Cosima deu-se novamente, com lentidão. O rosto novamente próximo ao de Delphine, com o perfume tão conhecido invadindo as narinas da loura com mais força que antes. E se antes em toda a consciência que lhe habitava Delphine não conseguira remeter aquela fragrância cítrica a algo palpável, naquela atmosfera que não sabia a que realidade pertencia ela encontrou a reposta. Talvez pela proximidade, talvez pela intensidade que Cosima voltava a lhe entorpecer, a fazendo lembrar de como era amante de tangerinas, e de como aquela acidez provocava seu paladar, assim como a maciez dos pêssegos e a doçura da baunilha, e a surpresa que surgiu em Delphine não foi pela comparação daquele perfume com algo que mexia com o paladar, a surpresa dela era pelo inevitável, que seria resistir aquela dança sensual dali para frente, o quão inevitável era resistir a Cosima.

Defy ThemOnde histórias criam vida. Descubra agora