54. Que quer dizer "cativar"?

169 12 1
                                    


- Você realmente achou que conseguiria escondê-lo por muito tempo? – indagou Cosima desconfiada da inocência mostrada por Delphine. Ela olhava de canto de olho para a mulher a seu lado, sem deixar de mostrar-se perplexa com a atitude dela.

Fazendo uma pequena nota mental, de que, em alguns aspectos Delphine Cormier realmente era mais inocente do que aparentava.

- Eu tinha o que? – perguntou-se Delphine mostrando o semblante pensativo. Ela segurava a taça de vinho pela haste longa, e a mudava de uma mão a outra de forma impaciente.

Minutos antes, quando aquela conversa ainda não tinha aquela seriedade, Cormier pousara os cotovelos nos joelhos nus, ela tinha as pernas esguias afastadas batendo a ponta dos pés com a mesma impaciência mostradas nas mãos. Vez ou outra ela desviava a atenção do objeto em mãos, para levantar o olhar e observar ao longe.

A noite que se iniciava mostrava-se de forma tímida na ampla sacada, não havia a escuridão, havia apenas o tom azul marinho no céu que mesclava-se aos tons de vermelho, amarelo e rosa no horizonte.

Observar aquela paisagem que se pintava, era uma das intenções de Cormier ao caminhar até a sacada, em companhia de Niehaus. Ela gostava de admirar o sol se pôr, e não era como se Delphine não estivesse buscando em sua mente um tanto afetada pelas lembranças a idade em que aqueles fatos haviam ocorrido, acontecia que boa parte da confusão de seus sentimentos era pelas lembranças em si. Seu objetivo ao iniciar a história, era mostra-la de forma leve e engraçada, mas não o estava sendo.

- Uns doze anos... – concluiu por fim Delphine, sem deixar de expor a dúvida na voz. - E naquela época eu achava que ninguém iria encontrá-lo dentro daquela caixa. – ela levou a taça aos lábios, sorvendo o vinho rubro, um tanto pensativa nos detalhes da história que monologava. – E naquela tarde por algum motivo inexplicável a diretora entrou no quarto e ele começou a miar feito louco debaixo da cama, o que eu ia fazer? – perguntou Delphine dando de ombros. - Eu não dividia o quarto com ninguém, então não tinha em quem jogar a culpa.

- Eu não consigo imaginar você jogando a culpa em alguém! – consolou-a Cosima com a voz terna, em seguida a morena bebeu o restante do vinho que jazia na taça que segurava. Ela depositou o recipiente vazio na mesa de canto e virou-se para olhar Delphine. - E depois que o encontraram... Como que foi? – perguntou, incentivando-a a prosseguir com a história.

- Só o levaram! – lamentou-se a loura. - E até hoje não sei o que aconteceu... Meu pai na época disse que o tinham levado para um bom lar onde uma garotinha de cabelos ruivos ficou com ele, mas não sei. – Delphine voltou a dar de ombros. - Conhecendo John como eu conhecia, acho que ele usou esses termos para tentar me acalmar. Lembro-me até hoje que o nome dele era Thundera* - a nostalgia e a tristeza faziam um misto nas emoções da jovem, sendo difícil para Delphine definir, qual era qual.

- Como o planeta dos Thundercats?! – indagou Cosima animada, a surpresa estampando seu rosto. Cormier havia acabado de ganhar mais um ponto com ela. - Olha só... – começou a dizer, semicerrando os olhos e analisando as reações da loura.

- Não me olhe com esses olhos esperançosos. Não sou uma nerd!– afirmou em meio a um riso afetado. - Esse desenho era uma das poucas coisas que eu assistia vez ou outra e foi um nome que me pareceu legal, bem mais legal do que Frajola. – Delphine voltou a mostrar-se pensativa. - Até porque ele tinha muitos pelos rajados, alguns amarelados, outros alaranjados, ele parecia um Thundercat, mas eu não sabia qual e por isso usei o nome do planeta. – ela levou a taça aos lábios mais uma vez, tomando o pouco que restava da bebida.

Fazia algum tempo que estavam ali, e nas palavras trocadas, elas sequer tinham tentado conversar sobre o quão intenso era aquilo que estava acontecendo entre elas. Rótulos poderiam complicar as coisas, lembrou Delphine, embora não lembrasse em que ponto da conversa com Niehaus aquele assunto havia surgido.

Defy ThemOnde histórias criam vida. Descubra agora