- Você realmente achou que conseguiria escondê-lo por muito tempo? – indagou Cosima desconfiada da inocência mostrada por Delphine. Ela olhava de canto de olho para a mulher a seu lado, sem deixar de mostrar-se perplexa com a atitude dela.
Fazendo uma pequena nota mental, de que, em alguns aspectos Delphine Cormier realmente era mais inocente do que aparentava.
- Eu tinha o que? – perguntou-se Delphine mostrando o semblante pensativo. Ela segurava a taça de vinho pela haste longa, e a mudava de uma mão a outra de forma impaciente.
Minutos antes, quando aquela conversa ainda não tinha aquela seriedade, Cormier pousara os cotovelos nos joelhos nus, ela tinha as pernas esguias afastadas batendo a ponta dos pés com a mesma impaciência mostradas nas mãos. Vez ou outra ela desviava a atenção do objeto em mãos, para levantar o olhar e observar ao longe.
A noite que se iniciava mostrava-se de forma tímida na ampla sacada, não havia a escuridão, havia apenas o tom azul marinho no céu que mesclava-se aos tons de vermelho, amarelo e rosa no horizonte.
Observar aquela paisagem que se pintava, era uma das intenções de Cormier ao caminhar até a sacada, em companhia de Niehaus. Ela gostava de admirar o sol se pôr, e não era como se Delphine não estivesse buscando em sua mente um tanto afetada pelas lembranças a idade em que aqueles fatos haviam ocorrido, acontecia que boa parte da confusão de seus sentimentos era pelas lembranças em si. Seu objetivo ao iniciar a história, era mostra-la de forma leve e engraçada, mas não o estava sendo.
- Uns doze anos... – concluiu por fim Delphine, sem deixar de expor a dúvida na voz. - E naquela época eu achava que ninguém iria encontrá-lo dentro daquela caixa. – ela levou a taça aos lábios, sorvendo o vinho rubro, um tanto pensativa nos detalhes da história que monologava. – E naquela tarde por algum motivo inexplicável a diretora entrou no quarto e ele começou a miar feito louco debaixo da cama, o que eu ia fazer? – perguntou Delphine dando de ombros. - Eu não dividia o quarto com ninguém, então não tinha em quem jogar a culpa.
- Eu não consigo imaginar você jogando a culpa em alguém! – consolou-a Cosima com a voz terna, em seguida a morena bebeu o restante do vinho que jazia na taça que segurava. Ela depositou o recipiente vazio na mesa de canto e virou-se para olhar Delphine. - E depois que o encontraram... Como que foi? – perguntou, incentivando-a a prosseguir com a história.
- Só o levaram! – lamentou-se a loura. - E até hoje não sei o que aconteceu... Meu pai na época disse que o tinham levado para um bom lar onde uma garotinha de cabelos ruivos ficou com ele, mas não sei. – Delphine voltou a dar de ombros. - Conhecendo John como eu conhecia, acho que ele usou esses termos para tentar me acalmar. Lembro-me até hoje que o nome dele era Thundera* - a nostalgia e a tristeza faziam um misto nas emoções da jovem, sendo difícil para Delphine definir, qual era qual.
- Como o planeta dos Thundercats?! – indagou Cosima animada, a surpresa estampando seu rosto. Cormier havia acabado de ganhar mais um ponto com ela. - Olha só... – começou a dizer, semicerrando os olhos e analisando as reações da loura.
- Não me olhe com esses olhos esperançosos. Não sou uma nerd!– afirmou em meio a um riso afetado. - Esse desenho era uma das poucas coisas que eu assistia vez ou outra e foi um nome que me pareceu legal, bem mais legal do que Frajola. – Delphine voltou a mostrar-se pensativa. - Até porque ele tinha muitos pelos rajados, alguns amarelados, outros alaranjados, ele parecia um Thundercat, mas eu não sabia qual e por isso usei o nome do planeta. – ela levou a taça aos lábios mais uma vez, tomando o pouco que restava da bebida.
Fazia algum tempo que estavam ali, e nas palavras trocadas, elas sequer tinham tentado conversar sobre o quão intenso era aquilo que estava acontecendo entre elas. Rótulos poderiam complicar as coisas, lembrou Delphine, embora não lembrasse em que ponto da conversa com Niehaus aquele assunto havia surgido.
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Defy Them
FanfictionCosima era a caçula de quatro irmãs, e mesmo que pelo jeito desastrado e irresponsável ela duvidasse que pertencesse a talentosa família Niehaus, responsável por um dos Cafés mais bem-sucedidos de Toronto, a irmã gêmea a fazia descartar a hipótese d...