24. Era boa para o coração como um presente.

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Uma das muitas coisas que Cosima Niehaus sempre quisera aprender com a irmã mais velha, além de cozinhar divinamente, era ser pontual, e por mais que suas intenções sempre fossem boas, ela nunca conseguia, pois algo sempre a impedia, senão os desastres que a atraíam como um imã magnético, possivelmente a mente muito dispersa que a jovem tinha.

Por incontáveis vezes ela perdia o rumo dos pensamentos notando o céu em suas nuances admiráveis, as arvores altas com folhas largas e brilhosas sendo remexidas pela brisa calma de um fim de tarde, ou os filhotes de cachorro perdidos atravessando alguma avenida movimentada, ou as mulheres bonitas que via vez ou outra em algum lugar comum, além de outras infindáveis coisas com as quais ela perdia-se olhando. Sabia que o mínimo que esperado, era que ela fixasse a atenção, e não se distraísse, mas aquelas dispersões eram sempre mais fortes que sua vontade em fazer o esperado, e isso obviamente quando por algum outro motivo não estava mexendo no celular, fazendo alguma pesquisa pertinente na internet, ou acessando no aparelho as tantas redes sociais que costumava usar.

A jovem Niehaus caminhava pela rua Adelaide rumo a esquina com a rua York, e controlava a vontade constante de buscar o aparelho celular no bolso do jeans, para Cosima aquela caminhada que fazia de forma apressada parecia infindável, e deixava ela naquele desespero de chegar logo ao local combinado, ela sabia que se, por um segundo que fosse, atentar-se no celular, atrasaria ainda mais sua chegada. Como ansiado por ela anteriormente, a chuva não havia voltado e o tempo de forma magnifica tornara-se límpido em um céu entre nuvens que apesar de deixar a temperatura baixa, era melhor que a chuva. Atenta ao trajeto, a jovem Niehaus observava os casais que passeavam de mãos dadas e que provavelmente estariam indo ao cinema próximo, ela também via os jovens que caminhavam na direção contrária, solitários ,mais atentos no celular do que nas pessoas em volta. Entristeceu-se por saber que ela por muitas vezes agia como eles. E enquanto caminhava o mais rápido que as curtas pernas permitiam Cosima agradeceu pela irmã mais velha saber que chegar na hora não era uma de suas qualidades mais invejáveis, teria que lembrar-se nas próximas vezes de nunca mais estabelecer um tempo para fazer algo para Helena.

A mais velha das irmãs Niehaus era a que Cosima mais admirava e o motivo ia além da dedicação de Helena ao trabalho que desempenhava junto com a mãe na Sestras, trabalho esse que ela tinha desde a mãe abrira o comércio naquele local. Cosima sabia que não havia sido fácil para Helena, no passado, ter aberto mão de sua própria independência, assim como S, para que elas tivessem aquele futuro bem estabilizado.

A admiração da mais nova das Niehaus, começava na infância onde primogênita ao contrário de Sarah sempre a ajudava com as tarefas escolares. Começava pelo incentivo que Helena sempre lhe dera em sua autoestima que nem sempre fora daquela imensidão invejável, já que tinha que dividir muitas coisas com Beth que sempre fora mais sociável que ela. Começava pelas inúmeras tentativas de Helena em lhe ensinar a cozinhar algo decente, o que nunca havia chegado a um resultado satisfatório. Começava pelo apoio incondicional em tudo o que abrangia sua descoberta sexual. Definitivamente Cosima tinha um carinho sem tamanho pela única das irmãs Niehaus que tinha cabelos loiros ondulados e olhos azuis, assim como o finado pai Trevor. Cabelos invejados por ela desde criança e que se não fosse pela estranheza daquela possibilidade provavelmente adotaria. A admiração de Cosima dava-se pelo fato de que no dia em que haviam deixado a vida em Kenora, há tantos anos Helena teria aberto mão do homem que acreditava ser o amor de sua vida pela família, e que naquele futuro aquela ferida, era um dos tantos assuntos que não podiam ser comentados nas reuniões de família.

Cosima lembrava-se apenas que o nome daquele homem que ela pouco vira em sua infância era Jessie e que devido a tristeza que abateu Helena naquele período de um ano adaptando-se a Toronto, Siobah aconselhou-a voltar para homem amado, e pelo que Cos ainda tentava entender, Jessie não quisera Helena de volta, motivo pelo qual naquele presente a mais velha das filhas de S, não era casada, nem envolvia-se com homem algum, e muito menos preocupava-se com isso. A única coisa em que Helena Niehaus Sadler pensava era trabalho, além de cursos que vez ou outra fazia no exterior para aprofundar seu conhecimento.

Defy ThemOnde histórias criam vida. Descubra agora