5. É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar.

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Aquela certeza de que na noite anterior havia feito aquela estupidez de transar com Shay, de novo, fez com que Cosima se chateasse, e seu sábado que mal havia começado, tinha se tornado triste antes mesmo de se recompor.

No mesmo sobressalto com que Cosima havia levantado minutos antes da cama king size ela deixou que seu corpo caísse. Sabia que o impacto contra o colchão não seria suficiente para lhe fazer voltar no tempo, muito menos para apagar memórias de sua mente, mas sabia também que não ia agir como se estivesse contente com a presença dela ali, mesmo sabendo que a culpa era inteiramente dela. Para Cosima aquelas noites com Shay, por mais prazerosas que fossem, tinham que parar.

Tinha desenhado em sua mente o esquema de como tudo aquilo sempre começava, primeiro as mensagens dela para a ex e na hora seguinte a loura exuberante já estava parada em sua porta com um pack de cervejas em mãos. A companhia de Shay após o término do namoro era mais constante do que nos últimos meses de seus quase três anos juntas e apesar dos planos de uma vida inteira, o desinteresse dela na relação e os estudos por tempo integral de Shay em seu curso de medicina haviam deixado a relação tão morna e tão insegura que as duas, em comum acordo, tinham optado pelo fim.

Havia aquela certeza, de que não tinham terminado por motivos externos, como traição ou algo do gênero, e isso fazia que mantivessem uma relação amigável, mas havia tantos outros motivos para não continuar, motivos que se ela listasse ultrapassariam uma folha de caderno, começava pela personalidade infantil de Shay, junto com suas crises de ciúmes exageradas, somados a nova vida estudantil que se dedicava, e finalizava Cosima não conhecer nada nem ninguém da família Daydov.

A relação já não era boa há meses e ainda tinha o fato de Shay ter apenas vinte e três anos, que para Cos já era um motivo maior que os outros para não criar laços. Deveria ter previsto desde o começo que namorar com uma mulher mais nova lhe traria aquela impaciência, mas devido à atração e ao sexo, que era muito bom, ela foi levando, e levando, até o ponto em que não conseguiu mais levar, e desde aqueles dois meses, após uma franca conversa, foi decidido que cada uma seguiria com sua vida.

Para Cosima no primeiro mês, havia sido mais fácil manter distância de Shay, mas naquelas últimas semanas, com a necessidade de ter alguém para conversar, os seus problemas no trabalho e o estresse familiar, desabafar com Shay e ter a presença dela em seu apartamento, havia voltado a ser algo constante e aquela era a terceira vez que se transavam desde o término. Cosima tinha aquela certeza de que não estava iludindo a loura com falsas promessas de que voltariam a ter um relacionamento, mas por Shay ser mais nova e não ter se envolvido com ninguém naquele meio tempo, provavelmente estava nutrindo esperanças, e como ela não estava disposta a dar uma chance de volta, era melhor parar, e controlar seus hormônios.

A morena havia voltado a olhar o teto quando escutou a porta do banheiro, que até então estava aberta, bater com força. Ela virou o corpo ainda estirado em meio aos lençóis para a direção de onde o barulho viera. Observou curiosa a loura caminhando pelo quarto, o corpo pequeno da mulher enrolado em uma de suas toalhas brancas que quase arrastava no piso, os pés descalços no chão que provavelmente estava frio.

Shay em toda sua formosura caminhou até a beirada da cama baixando seus pares de olhos verdes para encará-la. Os cabelos dela estavam presos em um coque frouxo que ela provavelmente fizera com o único objetivo de não molhar os fios, não tendo muito sucesso pelo que Cosima pode observar pelas pontas úmidas.

- Você continua gostosa – pronunciou Shay, quase sussurrando, sua voz fina preenchendo o lugar do silêncio. Ela tinha a toalha presa ao corpo e os olhos fixos na mulher deitada em sua frente. Cosima queria ter força o suficiente para não deixar-se seduzir por ela, mas a maneira como o corpo de Shay dançava a sua frente, com a luz lhe contemplando ao fundo, foi algo que ela não se via capaz de resistir.

Defy ThemOnde histórias criam vida. Descubra agora