11. Corou um pouco, e continuou...

302 33 14
                                    


Quando Ira havia lhe dito que a peça "Projeto Castor" iria surpreendê-la, Cosima não acreditou, mas lá estava ela sentada na primeira fileira, atenta a cada detalhe daquele espetáculo maravilhoso. A peça prendeu totalmente sua atenção desde os primeiros minutos, amou desde o figurino impecável ao enredo envolvente, o qual mostrava história de vida de um jovem que se chamava Mark Rollins, que era interpretado por Ira. De acordo com o enredo Mark era um homem cheio de fé, que em sua vida adulta havia descoberto ser cobaia de um projeto de clonagem, denominado "Projeto Castor", e a peça se desenrolava no período posterior a descoberta do jovem, a busca dele por informações de sua origem na pequena vila rural de nome "Proletheus" onde vivia, de seus conflitos internos, entre ser um homem com fé e ser uma criação científica, entre a luta pelo amor de sua vida e a busca de outros com a mesma origem dele.

Como uma nerd de carteirinha Cosima sabia que tal referência a "Castor" remetia a mitologia grega e estava completamente maravilhada com cada cena, com cada detalhe apresentado e com figurino rico em detalhes. Ela concluiu enquanto via o amigo mergulhado em seu personagem que iria assisti-lo por muitas outras vezes, pois tudo estava muito perfeito. Por ser amiga de Ira há muito tempo, foi divertido para Cosima analisar o figurino camponês que o jovem de cabelos curtos vestia, ao dar vida a Mark, ela reparou em seu chapéu preto de cowboy e em seu cinto com fivela metálica exagerada, suas calças jeans em tom escuro que pareciam sujas e a camiseta social branca, além das clássicas botas de cowboy em tom marrom que tinha esporas como adorno, esporas muito exageradas por sinal. Em um primeiro momento ela estranhou o figurino, já que na maioria das vezes Ira vestia-se de forma tão impecável quanto Felix, então vê-lo naqueles trajes era algo que ela não esqueceria tão cedo e que usaria para zombar dele futuramente. Queria que seu celular tivesse com bateria suficiente para tirar algumas fotos, mas naquela altura na noite, o aparelho provavelmente já estaria desligado, sem chances algumas de reviver apenas com o poder de sua mente.

Cada momento da história e cada detalhe prendeu a atenção de Cosima, tanto que ela nem percebeu as duas horas e meia passando. Não estranhou, nas poucas vezes que virou para observar Felix, que ele ficara encantado com cada monólogo do namorado, e babando em cada cena da história. Ela também estava impressionada com o trabalho de Ira, e com a produção do espetáculo no geral. Ficou feliz por não ter perdido o evento, lembrando-se que algumas vezes costumava assisti-lo apenas para incentivar a carreira tão difícil, e mesmo não sendo aquele o objetivo no momento, concluiu que Mark, era o melhor papel que ele já tivera, e a melhor interpretação sem sombra de dúvidas. Quando as cortinas se fecharam foi impossível esconder sua satisfação. Bateu palmas incessantemente e até se aventurou em dar alguns assovios que aprendera com Sarah desde pequena.

- Isso foi lindo! – disse enquanto aguardava os outros espectadores saírem pela porta lateral.

- Ira sempre arrasa! Viu como ele estava maravilhoso com aquele figurino! – os olhos dele mostravam a paixão que sentia pelo ator - Vou comprar um chapéu de cowboy para que ele possa satisfazer meus fetiches sexuais. – finalizou Felix, alto demais para que seu comentário fosse simplesmente ignorado.

- Me poupe desses detalhes! – Cosima declarou ofendida – Mas que ele estava uma comédia, isso estava. Queria ter tirado algumas fotos!

- Eu tirei, e te enviarei se prometer não zombar dele, porque prevejo que é isso que vai fazer pelas palavras que usou e por essa cara de malvada.

- Eu não vou zombar dele. – ela deu uma pequena pausa – Não muito! – concluiu Cosima rindo, lembrando-se de cada detalhe do figurino. Caminhava entre as cadeiras até a saída e quando já estava na porta percebeu que havia feito metade do caminho sozinha. Ela buscou por Felix que conseguiu visualizar a alguns metros atrás, na sala vazia, ele mexia no celular e seu rosto não parecia muito feliz. Estava concentrado na mensagem que escrevia. Deu alguns passos em direção a ele, voltando para a sala e deixando que seus olhos observassem a mensagem que ele ainda digitava. Não queria ser indelicada, contentando-se em aguardar ele terminar.

Defy ThemOnde histórias criam vida. Descubra agora