Jovens demais...

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" O tempo deixa perguntas, mostra respostas, esclarece dúvidas, mas, acima de tudo, o tempo traz verdades."

Da minha janela consigo observar todas as montanhas e árvores que há perto do final da cidade. Além dessa perfeita vista, o meu lugar favorito de se visitar era a fonte de água perto da casa da Alisson, consigo afastar muitos pensamentos e sensações que nos momentos não quero me preocupar ou me importar.

Hoje teria sido um dia qualquer se não fosse pelo encontro inesperado com a Laura pedindo para namorar comigo, não entendo, essa garota deve ter algum problema mental, ela sabe que eu gosto da Alisson e ainda insiste, mas já estou acostumado a dar foras, praticamente minha vida é resumida nisso, exceto a parte dos estudos, meus pais me cobram muito, eles querem que eu seja o filho perfeito, mas não sou, cometo muitos erros e não vai ser agora que conseguirei parar...

Levanto, troco de roupa, vou até o banheiro e faço minhas higienes, vou para a cozinha e sinto algo correr pelos meus pés, era o Lion, meu hamster de estimação, ele só fica solto quando não temos visitas, sendo meio agressivo em relação a sociedade.

- Estou saindo. - diz meu pai rapidamente atravessando a porta antes que minha mãe começasse o falatório. - volto às 12 horas.

- Tá bom, amor. Bom trabalho. - minha mãe diz entrando na cozinha e preparando o café da manhã.

Chego na escola e avisto Sophie que corre em minha direção me dando um abraço e quase me enforcando. Ela queria fazer uma surpresa para a Ali. Ficou simples, bem simples, mas a Ali vai gostar. Desço para a entrada e a vejo passar pelos portões cumprimentando a todos com aquele sorriso lindo e viciante, levo ela até a quadra, de primeira ela fica confusa mas logo entende. O diretor ouvindo o barulho das vozes,  manda todos voltarem para as salas, vou atrás delas mas paro no caminho quando Pedro se aproxima, não sei porque ela gosta dele, ela sempre falava que não iria namorar um garoto que ela nem conhecia direito, ela só o conhece a alguns meses.

Vou para a sala assim que o sinal toca, arrumo meus materiais e depois os dois entram atrasados pela porta, odeio ver eles juntos, eu apenas quero a felicidade dela, mas eu não prometi nada em não tentar fazer com que ela volte a se apaixonar por mim... lembro de quando andávamos de mãos dadas quando éramos mais jovens, ela disse que estava apaixonada por mim na fonte de água e a partir daí aquele foi o nosso lugar secreto, quer dizer, além de nós, a Sophie, o Guilherme e  algumas crianças conheciam, mas o lago não, porque era e é um lugar escondido e de difícil acesso.

Durante as aulas fico a observando, a cada segundo, seus cabelos castanhos que seguem seu movimento. Ela tem uma mania, olha para o professor e em seguida coloca a ponta da caneta na boca, às vezes olha para os lados vendo o que os outros fazem e em algum momentos ela chama Sophie que voltou a sentar ao seu antigo lugar, duas cadeiras atrás dela.

Desde sempre eu fui completamente apaixonado por ela, confesso que às vezes dá vontade de jogar ela de uma montanha, mas mesmo assim ela não sairia da minha cabeça. Foi difícil para mim quando soube que ela estava namorando o Dylan, até achei que tinha superado.

O que mais me deixa inquieto, é o fato dela só me ver como seu melhor amigo, nada mais.

Pedro senta na fileira ao meu lado, fica mexendo no celular quando o professor vira de costas, o que eu odeio é que a Alisson também pega o celular no mesmo momento em que ele e olha para o mesmo com aqueles olhos que antigamente eram apenas direcionados para mim e solta uma pequena risada... do que será que você está rindo?

Chego em casa junto ao meu pai, minha mãe nos espera sentada no sofá assistindo algum filme.

- Como foi o seu dia, amor?

- Cansativo, o almoço já está pronto? - meu pai pergunta e já percebo seu mau humor.

- Já sim.

Eles não estão se falando tanto como costumavam, andam discutindo muitas vezes e por motivos inacreditáveis, minha mãe tenta reverter a situação, mas meu pai não tem muita paciência e sai de casa. Sempre quando tento conversar com a minha mãe ela diz estar tudo bem e que eu não precisava me preocupar com mais nada além de meus estudos. Ninguém sabe que alguma coisa de errado acontece aqui dentro... odeio quando alguém fala que minha vida é perfeita, porque não existe uma vida perfeita nessa casa.

Meu pai é o homem certinho que finge sair de casa por estar "cansado" e não volta muito cedo e minha mãe é a moça bonita que todos desejam, mas finge estar tudo perfeito em casa e na sua vida, e eu sou o simples fruto desse casal que não sei se durará muito. Eu realmente fico preocupado com eles.

Simplesmente tenho certeza de que a frase " Calma, as coisas ainda irão piorar" me representa. Resolvo ir para o lago da fonte de água pensar um pouco, e vejo uma cena que me quebrou por dentro.Os dois nus deitados na pedra.

Quando éramos menores, antes mesmo de Dylan, ela disse bem aqui que me amava e que não queria mais ninguém, apenas eu ao seu lado e aquilo foi realmente amável, pois foi inocente e nós éramos apenas melhores amigos dizendo que estávamos apaixonados, mas está ficando tudo tão diferente, tão estranho, não sou eu que está ao seu lado, e sim ele, não posso fazer nada e não tenho coragem o suficiente para fazer alguma coisa vendo-a ficar corada com algo que ele lhe sussurra, ela sempre foi do tipo "em público não" e agora.... Ela deveria estar comigo naquela fonte de água, sorrindo para mim e lembrando do que disse naquela noite em que descobrimos esse lugar, mas acho que ela não deve se lembrar. Naquela época, ela não podia ficar sozinha, pois sua mãe era e ainda é muito protetora então eu quem ficava com ela, mesmo tendo a mesma idade; e ela não gostava de ficar sozinha em casa enquanto sua mãe trabalhava, apenas era eu e ela, éramos jovens demais para saber o que era certo ou errado. Eu deveria nunca ter a deixado se afastar depois do dia em que ela disse que estava apaixonada por mim, pois eu também sabia que sentia algo por ela. Éramos jovens demais para separar brincadeiras de sentimentos, se alguma dessas idas e voltas tivessem valido alguma coisa, mas acho que para ela não significou simplesmente nada, era apenas uns beijos aqui e ali, para mim sempre vai ser algo para se recordar, das festas, das piadas, das noites que ela ficava contando histórias ridículas que eu nem prestava atenção, pois ficava tentando decorar sua voz doce e aqueles olhares de diferentes expressões, das noites em que ela dormia ao meu lado e meu braço acordava dormente no outro dia, mas eu não me importava com isso, contando que ela estivesse deitada ao meu lado, me abraçando forte e sentindo sua respiração, era o suficiente. Se alguma vez eu reconquista-la e tê-la de volta eu prometo a mim mesmo que seremos muito mais do que quando éramos jovens, serei eu puxando seu quadril, sussurrando em seu ouvido, a puxando para mais perto e a beijando. Eu sei que é só um desejo e nós não estamos perto daquela fonte. Eu era muito jovem para impedí-la de se afastar, nós éramos jovens demais, o tempo passa muito rápido, em um momento estamos sentados no banco dessa praça dizendo coisas idiotas um para o outro e em questão de segundos ele é quem a tem, ele é quem a está fazendo sorrir, ele que a está  beijando e é a ele por quem ela está se apaixonando...isso me destrói.

Volto para casa com os pensamentos altos, o que não é boa coisa, me jogo na cama, viro de um lado e depois viro do outro, não consigo parar de pensar nela com ele. Resolvo tomar uma decisão, sim, é isso que irei fazer para tentar esquecê-la, eu a desejo para mim, mas se ela já ama a outro, isso é o que se espera que eu faça... ou não. Espero que eu não me arrependa do que estou prestes a fazer.

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